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Parlamento chinês aprova polêmica lei de segurança sobre Hong Kong

‘A partir de agora, Hong Kong será uma cidade chinesa como as outras’, critica deputada da metrópole, que tem autonomia em relação à China

O presidente da China, Xi Jin Ping. Foto: Nicolas Asfouri/AFP
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O Parlamento chinês adotou nesta quinta-feira 28 a polêmica lei sobre segurança nacional em Hong Kong, como resposta às grandes manifestações do ano passado na ex-colônia britânica, apesar das ameaças de sanções do governo dos Estados Unidos.

Como era esperado, os quase 3.000 deputados da Assembleia Nacional Popular (ANP) chinesa aprovaram a medida que reativou os protestos em Hong Kong. Apenas um deputado votou contra e seis optaram pela abstenção. A iniciativa foi aprovada com 2.878 votos favoráveis.

O anúncio do resultado da votação foi celebrado com aplausos, que duraram vários minutos, no solene Palácio do Povo em Pequim e na presença do presidente Xi Jinping.

Em Hong Kong, os opositores democratas à influência do governo central afirmam que a medida abre o caminho para um retrocesso sem precedentes das liberdades nesta metrópole financeira de sete milhões de habitantes. “É o fim de Hong Kong”, declarou à AFP Claudia Mo, deputada pró-democracia no Conselho Legislativo local. “A partir de agora, Hong Kong será uma cidade chinesa como as outras”.

Na ala pró-Pequim, o deputado Martin Liao comemorou o resultado da votação no Parlamento nacional: “Esta decisão não afetará os direitos e liberdades dos cidadãos de Hong Kong. Pelo contrário, ajudará Hong Kong, a longo prazo, a acabar com a violência e o caos”.

Nos últimos meses, a mobilização nas ruas foi interrompida, devido às medidas sanitárias para conter a epidemia de COVID-19. No domingo passado, porém, milhares de manifestantes saíram às ruas para protestar contra o projeto de lei, que havia sido anunciado apenas três dias antes.

 

“Terrorismo”

A votação concede mandato ao Comitê Permanente da ANP para redigir um projeto de lei que será incorporado à pequena Constituição de Hong Kong, evitando, assim, a opinião do Conselho Legislativo local.

Esta lei deverá “impedir, deter e reprimir qualquer ação que ameace de maneira grave a segurança nacional, como o separatismo, a subversão, a preparação, ou a execução de atividades terroristas, assim como as atividades de forças estrangeiras que constituem uma interferência nos assuntos de Hong Kong”, afirmava o projeto apresentado à ANP.

Em várias ocasiões, o regime comunista acusou as “forças estrangeiras”, especialmente os Estados Unidos, de estimularem os protestos em Hong Kong. Também acusou os manifestantes radicais de realizarem “atividades “terroristas”.

O Comitê Permanente da ANP pode examinar o texto a partir de junho, e o projeto de lei seria adotado no fim de agosto, segundo o site NPC Observer, especializado em questões legislativas chinesas.

O texto também prevê autorização para que os organismos vinculados ao governo central estabeleçam em Hong Kong escritórios com autoridade em termos de segurança nacional.

Os críticos afirmam que a medida implica o fim do princípio “um país, dois sistemas”, que rege as relações entre Hong Kong e Pequim desde que o território foi devolvido pelo Reino Unido à China em 1997.

Sanções dos Estados Unidos?

O futuro deste grande centro financeiro mundial preocupa a comunidade internacional, especialmente os Estados Unidos, onde, sem esperar pela votação do Parlamento chinês, a administração de Donald Trump preparou o caminho para impor sanções econômicas contra Hong Kong.

O chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, declarou na quarta-feira no Congresso que não considera mais que o território é autônomo em relação a Pequim. “Nenhuma pessoa razoável hoje pode dizer que Hong Kong mantém um alto grau de autonomia da China”, afirmou.

Após a constatação, o governo Trump pode agora acabar com o status especial concedido à ex-colônia britânica para propósitos comerciais.  A medida, que Washington ainda não anunciou se aplicaria, é um ato de “barbárie”, afirmou nesta quinta-feira o escritório do Ministério chinês das Relações Exteriores no território. “Esta é a decisão mais bárbara, mais irracional e de maior vergonha”, afirma o escritório em um comunicado, na primeira reação de um ministério do governo chinês.

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