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Papa tem encontro histórico com o principal líder xiita do Iraque

Chefe da Igreja Católica e o aiatolá Ali al-Sistani se reuniram na cidade sagrada de Najaf

Papa Francisco se encontra com o principal clérigo xiita do Iraque, o grande aiatolá Ali al-Sistani, em Najaf, no Iraque. Crédito: Vatican Media/AFP
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Um encontro histórico reuniu na manhã deste sábado, 6, no Iraque, o Papa Francisco e o aiatolá Ali Sistani. O mais alto líder religioso xiita, de 90 anos e que raramente aparece em público, disse ao sumo pontífice que os cristãos do país devem viver em paz, enquanto o papa denunciou o terrorismo que abusa da religião.

O grande aiatolá Ali Sistani é a autoridade máxima para a maioria dos 200 milhões de xiitas do mundo – uma minoria entre os 1,8 bilhão de muçulmanos. Seu único rival religioso é o líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei.

Devemos “caminhar do conflito à unidade” em “todo o Oriente Médio” e “em particular na martirizada Síria”, pediu o papa Francisco.

 

A imprensa e convidados não foram autorizados a assistir ao encontro, a portas fechadas. Porém, esta etapa do programa papal é fonte de orgulho para muitos xiitas, em um país que passou por 40 anos de conflito e uma guerra civil sangrenta entre muçulmanos xiitas e sunitas. “Estamos orgulhosos do que esta visita representa (…) dará outra dimensão à cidade sagrada”, saudou o dignitário xiita Mohammed Ali Bahr al-Ouloum.

O líder de 1,3 bilhão de católicos disse que viajava como um “peregrino da paz” e pediu liberdade de consciência e de religião. Depois de seu encontro oficial na cidade sagrada xiita de Najaf, o papa Francisco deu início ao ponto culminante de sua jornada espiritual: a peregrinação a Ur, cidade natal do profeta Abraão, no sul do Iraque, para rezar por “liberdade” e “unidade”. Ele se encontrou com uma das poucas famílias cristãs que não fugiram da região durante os conflitos.

Maher Tobia, 53 anos, diz que sua família é a única cristã que resta na cidade de Nasiriya, a apenas 17 quilômetros do deserto de Ur. Todos os cristãos que ele conheceu na juventude “partiram para Bagdá ou para o Curdistão iraquiano”, afirmou. “Se esta visita for bem conduzida, pode ter uma repercussão enorme”, acrescentou, cheio de esperança, o iraquiano graduado em Belas Artes.

Em vinte anos, o número de cristãos no Iraque foi reduzido de um milhão e meio para cerca de 400.000, segundo organizações de defesa das minorias. Muitos deixaram o país por falta de perspectiva. A taxa de pobreza atinge 40% da população e o país enfrenta uma grave crise econômica desde a queda dos preços do petróleo, sua principal fonte de renda.

A visita do papa mobiliza um alto esquema de segurança. Esta é a primeira viagem do santo pontífice a um país estrangeiro desde o começo da pandemia de coronavírus. Ele também insistiu em rezar com representantes dos Yazidi – uma pequena minoria no Iraque martirizada pelos jihadistas do grupo do Estado Islâmico (EI). Mais de 6.400 yazidis foram sequestrados pelo EI e a metade continua desaparecida. O papa também fez orações com sabeus e zoroastristas – comunidades milenares no país – além muçulmanos, xiitas e sunitas.

Na esperança de aproveitar a visita do soberano pontífice, as agências de turismo no Iraque já estão preparando roteiros “nas pegadas do Papa”. As autoridades dizem que estão considerando relaxar as condições para a obtenção de vistos de turista – até agora quase inexistentes, exceto para o turismo religioso xiita nas cidades sagradas de Kerbala e Najaf.

Na sua chegada a Bagdá, na sexta-feira, 5, o papa argentino, de 84 anos, se reuniu com o clero católico no Iraque. A visita do papa acontece sob um forte esquema de segurança e em um contexto de restrições por causa da epidemia de Covid-19, que contamina cerca de 5.000 pessoas todos os dias no país. O papa Francisco foi vacinado antes de sua viagem. O seu primeiro encontro com fiéis no Iraque acontece numa igreja em Bagdá, onde celebra uma missa.

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