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Papa pede fim da ‘indiferença’ em encontro com refugiados na Hungria

Na manhã deste sábado, cerca de 600 refugiados, principalmente da Ucrânia, além de pessoas pobres, se reuniram na igreja neogótica de Santa Isabel, em Budapeste

Créditos: Attila KISBENEDEK / AFP
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O papa Francisco, incansável defensor da “abertura aos demais”, pediu neste sábado 29 para “erradicar os males da indiferença” durante um encontro com refugiados no segundo dia de sua visita à Hungria.

Na manhã deste sábado, cerca de 600 refugiados, principalmente da Ucrânia, além de pessoas pobres, se reuniram na igreja neogótica de Santa Isabel, construída no final do século XIX no coração de Budapeste. Cerca de mil fiéis assistiram ao evento da esplanada.

Depois de ouvir vários testemunhos, o papa agradeceu aos húngaros, em particular às associações religiosas, “pelo esforço feito na caridade” e “pela forma como acolheram – não só com generosidade mas também com entusiasmo – muitos refugiados da Ucrânia”. O pontífice não mencionou refugiados de outros países.

O governo do primeiro-ministro Viktor Orbán costuma lembrar da hospitalidade oferecida aos ucranianos que fogem da guerra, tema central desta segunda visita papal em menos de dois anos ao país da Europa central.

No entanto, o Executivo construiu cercas nas fronteiras, deteve refugiados em “zonas de trânsito” -atualmente fechadas – e restringiu a apresentação de pedidos de asilo às embaixadas no exterior.

Defensor da paz

Aludindo a esta política, o jesuíta argentino, de 86 anos e com uma saúde delicada, deu o tom à sua chegada na sexta-feira, alertando contra a “rigidez e os fechamentos”.

Diante das portas fechadas da igreja, sob um céu cinzento, Elena, uma dançarina ucraniana de 43 anos que não quis revelar seu sobrenome, disse que veio “para ver o papa que é um grande defensor da paz”.

“Aqui não tivemos problemas, mas queremos voltar rápido”, confessou.

Desde o início do conflito, em fevereiro de 2022, mais de dois milhões de ucranianos transitaram por solo húngaro, embora apenas 35 mil tenham solicitado o status de “proteção temporária” implementado pela União Europeia (UE), segundo dados do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur).

Na verdade, a posição ambígua de Orbán sobre o conflito não encoraja os ucranianos a permanecerem na Hungria.

O líder nacionalista vai contra a solidariedade demonstrada pela UE e pela Otan e recusou-se a enviar armas para Kiev, mantendo laços estreitos com o Kremlin.

Uma saúde frágil

À tarde, o pontífice, que chegou de carrinho de golfe ao maior recinto esportivo coberto da cidade, foi recebido por 11 mil jovens reunidos em clima de festa.

No palco, Francisco recebeu um cubo de Rubik, o famoso quebra-cabeça de invenção húngara.

“Nos fechamos em nós mesmos e não ajudamos os que fogem de conflitos ou os mais necessitados”, disse María Varga, uma estudante de 22 anos. “Gostaria que mais húngaros que se dizem cristãos seguissem os ensinamentos do papa”, acrescentou.

Diante de questões como as dos migrantes ou os direitos das pessoas LGBT+ (lésbicas, gays, trans, bissexuais e outros), a Igreja Católica húngara defende uma defesa da “civilização cristã” capitaneada por Orbán, muitas vezes indo contra as crenças do papa, mais progressistas.

Francisco é “um papa liberal, todo mundo sabe disso, e a Hungria é um país muito conservador, mas ele é o chefe de nossa Igreja e nós o respeitamos”, disse à AFP Tamas Banhidi, de 18 anos.

No início da tarde deste sábado, o papa argentino se reuniu por cerca de vinte minutos com o metropolita Hilarion, ex-chefe de relações exteriores da Igreja Ortodoxa russa.

Relutante em invadir a Ucrânia, foi expulso pelo patriarca Kirill, homem de confiança de Vladimir Putin. Por causa do conflito, as relações entre a Igreja de Moscou e a Santa Sé esfriaram.

Apesar das dores persistentes no joelho, que o obrigam a usar uma cadeira de rodas, o papa, sorridente, parece estar bem de saúde, em sua 41ª viagem internacional desde sua eleição em 2013.

Na manhã de domingo, Francisco presidirá uma missa ao ar livre atrás do Parlamento, no centro da capital, onde são esperados milhares de fiéis.

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