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Papa Francisco diz que migrantes ‘não são invasores’ e cobra responsabilidade de europeus

O papa voltou a cobrar “a responsabilidade europeia” em relação aos migrantes

Foto: Maurizio BRAMBATTI / POOL / AFP
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Em seu segundo e último dia de visita a Marselha, no sul da França, o papa Francisco fez um longo discurso neste sábado (23) para encerrar os “Encontros Mediterrâneos”, evento que reuniu 70 bispos e jovens das três religiões monoteístas predominantes na região do Mediterrâneo – cristianismo, judaísmo e islamismo.

O papa discursou no Palácio do Pharo, em Marselha, onde foi recepcionado pelo presidente Emmanuel Macron e a primeira-dama, Brigitte Macron. Em sua intervenção, o pontífice de 86 anos insistiu que os migrantes que “arriscam suas vidas no mar” para chegar à Europa “não estão invadindo” o continente. “Duas palavras ressoaram, alimentando o medo das pessoas: ‘invasão’ e ’emergência’. Mas aqueles que arriscam suas vidas no mar não estão invadindo, eles estão buscando hospitalidade”, disse ele, defendendo que esse processo seja administrado “com uma responsabilidade europeia capaz de enfrentar as dificuldades objetivas”.

Em outro trecho, Francisco defendeu a “integração” dos migrantes em vez da “assimilação”, que “compromete o futuro ao aumentar as distâncias e levar à formação de guetos, provocando hostilidade e intolerância”.

A plateia reunida para ouvir o papa era composta de autoridades francesas e de instituições europeias. Entre elas, estava o ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, que afirmou na terça-feira que a França não receberia migrantes de Lampedusa, enquanto a direita e a extrema direita criticavam uma “inundação de migrantes”.

Ontem, em seu primeiro dia de visita a Marselha, o papa já tinha criticado o “medo” e a “indiferença” em relação à situação dos migrantes que tentam atravessar o Mediterrâneo.

Em um cenário de crescente hostilidade à imigração na Europa, a recente chegada de milhares de pessoas à ilha italiana de Lampedusa desencadeou declarações xenófobas e alarmistas. A recusa de vários países em receber novos migrantes também evidenciou a falta de solidariedade entre os integrantes da União Europeia para acolher essas pessoas, parte delas com direito a asilo pelas leis do bloco.

Francisco ainda abordou, em sua intervenção, outro tema delicado para a Igreja: a eutanásia. A França elabora atualmente novas medidas para incluir na legislação sobre o fim da vida e pode adotar a ajuda ativa para morrer, para pacientes sem perspectiva de cura. O papa fez um alerta contra a “perspectiva falsamente digna de uma morte suave”.

Missa

Após o encerramento dos “Encontros Mediterrâneos”, o papa voltou a se reunir com o presidente Emmanuel Macron a portas fechadas. Embora o teor das conversas não tenha sido revelado, era esperado que o tema da imigração fosse novamente abordado. O governo francês irá apresentar em breve uma nova lei sobre o assunto, na qual a questão da legalização de trabalhadores sem visto de trabalho está sendo debatida.

Macron e o papa mantêm relações cordiais e se tratam pelo primeiro nome. O líder francês presenteou o chefe da Igreja Católica com dois livros: uma edição original do ensaio “O verão”, de Albert Camus, e “Ex-voto marins de Notre-Dame de la Garde”, de Felix Reynaud, ambos focados na vida das populações mediterrâneas. Segundo o Palácio do Eliseu, o livro de Camus evoca lendas europeias da região do Mediterrâneo e veicula uma mensagem de esperança.

O papa Francisco encerrará sua visita com uma missa para 60 mil fiéis no estádio Velodrôme, sede do clube de futebol Olympique de Marselha.

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