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Países europeus começam uma flexibilização gradual das regras da quarentena

Dependendo da evolução do controle da pandemia, essa flexibilização poderá ser revertida

Países europeus começam uma flexibilização gradual das regras da quarentena
Países europeus começam uma flexibilização gradual das regras da quarentena
Isolamento social na Europa. Foto: AFP
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Depois de a Espanha autorizar na segunda-feira uma retomada parcial do trabalho, outros países europeus começam a colocar em vigor uma flexibilização gradual e controlada das regras da quarentena contra o novo coronavírus – uma flexibilização que poderá no entanto ser revertida, a depender da evolução do controle da pandemia.

A partir desta terça-feira, a Áustria reabrirá pequenas lojas e parques públicos. Na quarta-feira, creches e escolas do ensino fundamental voltarão a funcionar na Dinamarca. Líderes da Noruega, República Tcheca, Suíça, Irlanda e Itália também já anunciaram planos para uma reabertura moderada de setores da sociedade.

Na Áustria, que vem registrando declínio nas taxas de contaminação pela Covid-19, o plano do chanceler Sebastian Kurz é reabrir inicialmente parques públicos e lojas de até 400 metros quadrados, sob estritas medidas de segurança. Ao mesmo tempo, serão mantidas as rígidas regras de distanciamento social e de uso de máscaras de proteção, a fim de prevenir uma segunda onda de infecções pelo vírus.

Se o cronograma do governo puder ser levado adiante, o passo seguinte será reabrir lojas maiores a partir do dia primeiro de maio. Em meados de maio, será a vez de hotéis, restaurantes e outros serviços retomarem suas atividades, em etapas graduais – uma decisão final sobre esta fase do cronograma deverá ser tomada no final de abril.

As escolas deverão permanecer fechadas até pelo menos meados de maio, e eventos públicos estão proibidos até o fim de junho. A multa para os que violarem a determinação de usar máscaras de proteção em lojas e nos transportes públicos será de 50 euros.

Caso seja detectada uma piora nos índices de contaminação pela Covid-19, segundo o chanceler Sebastian Kurz, o governo “sempre terá a possibilidade de acionar o freio de emergência e reintroduzir medidas restritivas”. Kurz citou o exemplo de Cingapura, que conseguiu inicialmente conter a disseminação do vírus mas que diante de uma segunda onda de infecções decretou uma quarentena de um mês no início de abril.

A província austríaca do Tirol – primeira região a registrar casos do novo coronavírus na Áustria, e que se tornou a mais infectada – também suspendeu a quarentena em suas comunidades, após registrar tendência nas taxas de aumento das infecções diárias de menos de 5 por cento. Mas diversas estações de esqui que foram severamente afetadas pela pandemia permanecem fechadas.

Com uma população de 8,8 milhões, a Áustria decretou quarentena no dia 15 de março, e contabiliza atualmente 13.999 casos da Covid-19, e 350 mortos.

Caso dinamarquês

Na Dinamarca, a estratégia é iniciar um processo gradual e moderado de flexibilização das regras da quarentena – caso os números da pandemia se mantenham estáveis no país. A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, comparou o processo a uma caminhada na corda bamba: segundo ela, é preciso dar um passo cauteloso de cada vez.

“Se pararmos no meio do caminho, poderemos cair, e se andarmos rápido demais, tudo pode dar errado. Por isso, precisamos dar um passo cauteloso de cada vez”, destacou a primeira-ministra.

“Se abrirmos o país muito rapidamente correremos o risco de sofrer um aumento agudo do número de infecções, e teremos que fechar a sociedade novamente”, acrescentou ela.

O plano dinamarquês é reabrir inicialmente, a partir da quarta-feira, apenas as creches e escolas de ensino fundamental. Bares e shopping malls continuarão fechados, e encontros públicos de mais de dez pessoas permanecerão proibidos no país escandinavo, que tem uma população de 5,6 milhões de habitantes. As fronteiras dinamarquesas também continuarão fechadas pelo menos até o dia 10 de maio.

“A vida diária não voltará totalmente ao normal no momento. Viveremos com muitas restrições pelos próximos meses”, destacou a primeira-ministra.

Ela sublinhou ainda que se as regras de distanciamento social não forem respeitadas e a situação se agravar, “medidas ainda mais rígidas poderão ser tomadas”.

A Dinamarca foi o segundo país da Europa a decretar quarentena, no dia 11 de março – antes mesmo de registrar uma só morte por coronavírus. O primeiro país europeu a entrar em quarentena havia sido a Itália, que adotou a medida depois de já ter se tornado uma das nações mais impactadas pelo covid-19.

A rápida atitude do governo dinamarquês de fechar o país a fim de conter a disseminação do vírus parece ter ajudado a Dinamarca a sobreviver à pior fase da crise da Covid-19. As estatísticas diárias indicam uma redução de novos casos de coronavirus, que permanecem relativamente baixos em comparação com muitos países europeus.

Segundo as estatísticas, a Dinamarca registra atualmente 6.318 casos da Covid-19, e 285 mortes. Segundo a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, a decisão de adotar o isolamento horizontal teve êxito em desacelerar a disseminação do covid-19.

“Em outros países vemos soldados transportando cadáveres em caminhões, e espaços públicos convertidos em necrotérios improvisados. Há pessoas que morrem em suas camas e só são encontradas passado algum tempo. Tudo isso acontece na Europa, mas a Dinamarca não caminha nessa direção”, assegurou Frederiksen.

Outros países

Na Noruega – que está em quarentena desde o último dia 13 de março -, as creches deverão ser reabertas a partir do próximo dia 20, e uma semana depois será a vez das escolas do ensino fundamental. Mas os noruegueses deverão continuar a trabalhar remotamente.

Eventos esportivos e culturais permanecerão proibidos até pelo menos 15 de junho. Estrangeiros estão proibidos de entrar no país, com exceção de cidadãos europeus que trabalham em setores considerados essenciais – como a agricultura e a indústria do petróleo.

“Juntos, conseguimos controlar a evolução da epidemia, e por isso podemos reabrir a sociedade aos poucos, de forma controlada”, disse a primeira-ministra norueguesa, Erna Solberg.

De acordo com as estatísticas oficiais, a Noruega registra 6.547 pessoas contaminadas pela Covid-19, e 131 mortos entre a população de 5,3 milhões de habitantes.

Na República Tcheca, o governo decidiu autorizar a reabertura de algumas lojas, e também afrouxou as regras do isolamento em áreas públicas de recreação. Na Suíça, as autoridades planejam amenizar a partir do fim deste mês algumas regras do confinamento, que fechou fronteiras, escolas, bares e restaurantes. A Irlanda também planeja suspender algumas restrições e permitir a reabertura de algumas lojas nas próximas semanas.

Na Itália, que ao lado da Espanha foi o país europeu mais abalado pela pandemia da Covid-19, a expectativa do governo é poder começar a suavizar a partir do fim deste mês algumas medidas restritivas da quarentena imposta no país desde 9 de março – desde que a epidemia do novo coronavírus continue a dar sinais de desaceleração. O pico diário de novos casos na Itália foi o dia 21 de março, quando 6.557 foram registrados.

O primeiro-ministro Giuseppe Conte mencionou a reabertura de livrarias e lojas de roupas de crianças, mas tinturarias e outros serviços podem ser incluídos. Em entrevista à BBC, o primeiro-ministro Giuseppe Conte advertiu no entanto que a Itália não poderá baixar a guarda no combate à Covid-19, e que as rígidas restrições impostas para o enfrentamento da pandemia só poderão ser levantadas gradualmente. A Itália tem atualmente 159.516 casos de covid-19, e 20.465 mortes.

No última dia 8, um show de luzes marcou o fim da quarentena na cidade chinesa de Wuhan, o epicentro global da pandemia da Covid-19, após quase três meses de rigoroso confinamento. Mas a China permanece em alerta para evitar uma temida segunda onda de contaminação.

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