Otan celebra 70 anos com sérias divisões internas

Organização sofre pressão de Donald Trump, que não quer mais “pagar a conta”

A Otan em crise existencial (Foto: Mandel Ngan/AFP)

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Em seu discurso, o secretário-geral da Organização do Atlântico Norte, Jens Stoltenberg, pediu a “preservação da unidade” dos 29 Estados-membros e a garantia de que a Otan não busca uma “nova Guerra Fria”.

O tom discreto da celebração dos 70 anos da Otan, apenas com a presença dos chanceleres de seus 29 países, e sem a presença de chefes de Estado e governo, é um retrato do dilema existencial que a aliança militar enfrenta atualmente. Seu maior crítico, o presidente norte-americano, Donald Trump, é o anfitrião da festa. A  celebração em Washington, aliás, foi considerada bastante modesta.

Há 20 anos, durante a comemoração de seu cinquentenário, a Otan estava em plena guerra na ex-Iugoslávia. Apesar da falta de unanimidade sobre o envio de suas tropas terrestres para o conflito, Washington celebrou a data com ares de vitória, mesmo tendo liderado uma operação militar polêmica.

O aniversário de 70 anos está sendo marcado pelas disputas internas e pressão do governo de Trump para que os aliados aumentem ainda mais suas contribuições com os gastos de defesa da aliança.

Além disso, o comportamento agressivo da Rússia com os vizinhos Ucrânia e Geórgia preocupa a Otan. Velhos medos vieram novamente à tona, principalmente nos ex-países do Leste Europeu, quando a Rússia anexou a Criméia, em 2014. É, de certa forma, uma volta às origens, cuja apreensão não é mais a ameaça soviética, mas os interesses russos.

Volta às origens

A Otan foi fundada em 1949, no começo da Guerra Fria, com o objetivo de defender a Europa Ocidental de um possível ataque da União Soviética e seus países-vizinhos. Quando foi criada, 12 países da Europa e América do Norte integravam a aliança. Hoje, são 29. Na época, o intuito da Otan era “manter os americanos dentro, os alemães embaixo e os russos fora”, como afirmou o primeiro-secretário da organização, Hasting Ismay. Para se proteger da ameaça do expansionismo soviético, criou-se o princípio de defesa mútua, que é o compromisso de defender uns aos outros em caso de ataque.


Relação Trump com a Otan é conturbada

Desde que a Otan foi criada, os EUA têm sido os maiores contribuintes em dinheiro, soldados e equipamentos. Com a chegada do presidente americano, Donald Trump, o compromisso de Washington perdeu a estabilidade.

Antes de assumir a Casa Branca, Trump foi um crítico feroz da estrutura da aliança militar, chegando a afirmar que a Otan era obsoleta. Ele sempre questionou a importância da organização e a obrigação da defesa mútua. Sob a ótica de Trump, o financiamento da Otan sempre foi o grande problema.

Depois de ameaçar retirar os EUA da aliança, os países-membros reafirmaram o compromisso de destinar, até 2024, pelo menos 2% do PIB para gastos militares.

Apesar de criticar a Alemanha, que é a segunda maior contribuinte financeira da aliança, o presidente norte-americano comemorou ontem em Washington o “enorme progresso” nos gastos dos 28 países, que deve chegar a 100 bilhões de dólares até fim de 2020. Trump afirmou que a Otan é mais forte desde que ele assumiu o poder.

Promessa feita ao Brasil fica fora da agenda

Durante a reunião entre Trump e o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, na Casa Branca, não houve nenhuma menção sobre o Brasil. A promessa feita pelo presidente dos EUA de incluir o Brasil como aliado estratégico da Otan nem ao menos constou na agenda do encontro.

Não são apenas os EUA que decidem sobre o processo de adesão na aliança militar, a indicação de um novo membro precisa ser aprovada por todos os países da organização.

A Colômbia foi o primeiro país da América Latina a concluir um acordo com a aliança atlântica. Apesar do status de “parceiro global”, a cooperação com Bogotá, na época, preocupou vários governos vizinhos que viram a iniciativa como uma provável futura interferência dos Estados Unidos nas questões sul-americanas.

A parceria, assinada no ano passado, não prevê nenhuma participação colombiana nas operações militares da Otan, nem o comprometimento com a cláusula de defesa mútua. Além da Colômbia, outros parceiros globais da organização são o Afeganistão, Austrália, Iraque, Japão, Coreia do Sul, Nova Zelândia, Paquistão e Mongólia.

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