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Oscar consagra “Parasita” e traz discursos por mais representatividade

Filme coreano é o primeiro de língua não-inglesa a ganhar o prêmio principal da noite. Falta de negros e mulheres ainda motiva protestos

(Foto: FREDERIC J. BROWN / AFP)
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A temporada de premiações do cinema se encerrou na madrugada desta segunda-feira 10 com a cerimônia do Oscar, que fez história, mas também refletiu desigualdades dentro e fora da Academia – ressaltadas em ineditismos e em ausências, assim como em discursos politicamente engajados.

O sul-coreano Parasita se tornou o primeiro filme em língua não inglesa ao ganhar o Oscar de melhor filme, o mais importante da noite. A falta de indicados negros e de mulheres em mais categorias, porém, retoma falhas estruturais do cenário hollywoodiano.

A consagração de Parasita toca em um ponto ressaltado por outros artistas ao longo da noite: a desigualdade e a falta de acesso. O filme conta a história de uma família pobre de golpistas que se infiltra na casa de uma família rica, com um olhar quase universal sobre o abismo de classes cada vez maior. Parasita obteve quatro estatuetas, incluindo a de Melhor Filme Estrangeiro e de Melhor Diretor para Bong Joon Ho.

Apesar dos sul-coreanos levarem prêmios de grande destaque, a representatividade racial na cerimônia faltou com os indicados negros. Nas categorias principais, apenas uma atriz afro-americana foi indicada – Cynthia Erivo, por Harriet. “O Oscar mudou nos últimos 92 anos… Em 1929 não havia atores negros indicados”, alfinetou o comediante Steve Martin na abertura da premiação. “Em 2020 temos um”, ironizou Chris Rock, que o acompanhava.

No prêmio de Melhor Curta de Animação, uma grata surpresa: o filme Hair Love, que conta uma história de aceitação do cabelo crespo, levou a estatueta. A balança, porém, ainda pende descaradamente para um lado.

Com esse aspecto em mente, muitos artistas utilizaram do momento do agradecimento pelo prêmio como uma plataforma de protestos. O mais enfático deles foi Joaquin Phoenix, que ganhou o Oscar de Melhor Ator por interpretar Coringa no longa autointitulado.

“Quando usamos amor e compaixão, nós podemos implementar sistemas de mudança bons pra todos”, disse ele, que também advogou pelo veganismo e pela justiça racial e de gênero.

“Eu tenho pensado muito a respeito de algumas questões perturbadoras que enfrentamos coletivamente. Eu penso que, quando estamos falando de desigualdade de gênero ou racismo, ou direitos queer e dos povos indígenas, ou direitos dos animais, falamos de uma luta contra a injustiça”, disse o ator.

 

Para o Brasil, a noite não trouxe a esperada primeira estatueta pela qual concorria o filme Democracia em Vertigem, de Petra Costa. A estatueta de Melhor Documentário ficou com o norte-americano Indústria Americana.

A cerimônia, no entanto, foi a oportunidade da diretora e de demais ativistas levarem seus manifestos para o tapete vermelho. Petra chegou até mesmo a lançar um trecho de entrevista inédita com o presidente Jair Bolsonaro no momento da premiação.

Confira a lista de vencedores do Oscar 2020:

Melhor filme: “Parasita”

Melhor diretor: Bong Jon Hoo, “Parasita”

Melhor ator: Joaquin Phoenix, “Coriga”

Melhor atriz: Renée Zellweger, “Judy”

Melhor ator coadjuvante: Brad Pitt, “Era uma vez… em Hollywood”

Melhor atriz coadjuvante: Laura Dern, “História de um Casamento”

Melhor animação: “Toy Story 4”

Melhor roteiro original: “Parasita”, Bong Joon-ho, Han Jin-won

Melhor roteiro adaptado: “Jojo Rabbit”, Taika Waititi

Melhor figurino: “Adoráveis Mulheres”

Melhor edição de som: “Ford vs Ferrari”

Melhor mixagem de som: “1917”

Melhor filme estrangeiro: “Parasita” (Coreia do Sul)

Melhor animação curta: “Hair Love”

Melhor curta-metragem: “The Neighbor’s Wind”

Melhor documentário: “Indústria Americana”

Melhor documentário curta: “Learning to Skateborad in a War Zone  (If You’re A Girl)”

Melhor trilha sonora: “Coringa” – Hildur Guonadottir

Melhor canção: “(I’m Gonna) Love Me Again”, de “Rocketman”

Melhor fotografia: “1917”

Melhor montagem: “Ford vs Ferrari”

Melhor design de produção: “Era Uma Vez… em Hollywood”

Melhor maquiagem: “O Escândalo”

Melhores efeitos visuais: “1917”

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