Mundo
Os perigos da desintegração da Venezuela
Para especialista, há uma certa fragilidade nos projetos de integração venezuelanos que, sem Chávez, podem se enfraquecer


Durante o governo Hugo Chávez, a integração latino-americana se transformou em uma questão central na Venezuela. De acordo com Fidel Pérez Flores, pesquisador do Observatório Político Sul-Americano (OPSA), da UERJ, dois exemplos são emblemáticos: a criação da ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América) e da Petrocaribe.
Desde a sua criação, os projetos no âmbito da Alba alfabetizaram cerca de 3,6 milhões pessoas em países como Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Equador pelo método cubano “yo sí puedo”. A Petrocaribe, por sua vez, representa hoje 45% da distribuição de energia elétrica em 13 países caribenhos, segundo a PDVSA.
Segundo Flores, a eleição de Nicolás Maduro é um ponto positivo não só por representar a continuidade do projeto político anterior, mas também porque o sucessor pertence a uma corrente que participou das iniciativas articuladas por Chávez.
Entre os desafios do novo presidente, o analista cita a ascensão de forças políticas contrárias ao financiamento de Alba e Petrocaribe; a diminuição do excedente econômico disponível para projetos de integração; o avanço tímido da integração para além das vantagens cooperativas.
Para Flores, há uma certa fragilidade nos projetos de integração regional e, sem Chávez, eles podem se enfraquecer ainda mais.
Em sua exposição, o jornalista e professor de relações internacionais da UFABC Gilberto Maringoni afirmou que a integração latino-americana deve ir além das transações comerciais. Citou como exemplo a rede de televisão Telesur, uma alternativa de comunicação para fazer frente às grandes corporações da mídia regional. A emissora foi criada em 2005, em parceria com os governos de Cuba, Uruguai e Argentina.
Ele lembrou ainda o exemplo do Gasoduto do Sul, que sairia da Venezuela e iria até a Argentina, passando pela Bolívia e Equador. “É uma iniciativa interessantíssima de integração continental”, afirmou.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.