Mundo

Os EUA seguem Israel como uma ‘mula estúpida’

Assentamentos comprometem a solução “dois Estados”; Washington pede a Tel Aviv para ‘reconsiderar’

Um dia após a votação na ONU favorável a uma Palestina observadora, o premier israelense anunciou a construção de 3 mil casas em Jerusalém Leste e na Cisjordânia, territórios Palestinos ocupados..Foto: ©AFP/Arquivo / Jack Guez
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“Nada vai mudar”, disse Benjamin Netanyahu quando na quinta-feira 29, 138 países votaram pelo reconhecimento da Palestina como Estado observador da ONU. Tratou-se um passo crucial para a criação de “dois Estados”, um hebreu, o outro Palestino, baseado nas fronteiras de 1967.

O reacionário ministro israelense do Exterior, Avigdor Lieberman, falou, ao se inteirar da decisão da ONU, de “terrorismo de Estado”. Terrorismo da ONU, supõe-se, e, portanto, de numerosos Estados “terroristas”.

No entanto, o tabefe na truculência israelense e na diplomacia dos EUA, como já escrevi nesse site, foi demasiado forte para ser perdoado pelo governo israelense.

Washington, como sempre, fez um jogo duplo. Votou contra a resolução de aceitar a Palestina como um Estado observador, mas, ao mesmo tempo, parecia (ou fingia-se?) inquieta com as retaliações israelenses.

Resumiu Zbigniew Brzezinski, Conselheiro de Segurança Nacional do presidente Jimmy Carter entre 1977 e 1981: “Não creio que exista uma obrigação implícita para os Estados Unidos seguirem como uma estúpida mula qualquer ação dos Israelenses. Se decidem começar uma guerra, (os israelenses) simplesmente assumem que nós estaremos automaticamente envolvidos”.

Acrescentou Brzezinski: “Nossa obrigação, como amigos, é dizer, ‘vocês não vão tomar uma decisão nacional em nosso nome’.”

De inocente, isso já não é segredo faz décadas e décadas, o Tio Sam não tem nada. Apoia Israel com um baita empurrão do lobby judeu. E para vencer eleições todo presidente norte-americano precisa desse dito lobby.

É claro que a situação, a despeito do que disse Netanyahu quando da mudança de status da Palestina na ONU, mudaria.

Até Barack Obama, aquele político supostamente tão empenhado em uma solução no Oriente Médio – e que em 2009 fez um magnífico discurso no Cairo sobre a necessidade de um diálogo entre o mundo cristão e árabe e muçulmano –, sabia que, desta feita, os israelenses dariam o troco.

O que fez o senhor Netanyahu, com o sólido apoio do fiel Lieberman?

Vingou-se de Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina agora visto como um herói pelo seu povo, e, mais do que nunca, em busca de uma reconciliação entre as duas divididas regiões dos territórios ocupados, a Cisjordânia e a Faixa (Prisão) de Gaza, esta controlada pelo grupo radical Hamas, eleito de forma democrática em 2006.

Um dia após a votação na ONU favorável a uma Palestina observadora, o premier israelense anunciou a construção de 3 mil casas em Jerusalém Leste e na Cisjordânia, Territórios Palestinos ocupados.

Como se isso não bastasse, no domingo 2 o governo israelense disse  aos palestinos que não receberão os fundos que pagaram em impostos para Israel devido à aprovação na ONU do Estado Palestino. Os 120 milhões de dólares serão usados para amortizar uma dívida palestina com a companhia israelense de eletricidade.

Ban Ki-moon, o Secretário-Geral da ONU, foi explícito: “Isso (os assentamentos) representa um golpe fatal para as chances que permanecem para se chegar à solução de dois Estados”.

Diante das condenações aos assentamentos que choveram mundo afora – Paris, Londres, Madri, Estocolmo, Moscou e Berlin, entre outros – Washington tinha de se manifestar.

Assim, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney pediu para os líderes israelenses “reconsiderarem” sua decisão unilateral. Vale repetir: enquanto o mundo condena com veemência os assentamentos, o representante de Barack Obama pede para Israel “reconsiderar” suas ações.

No entanto, Netanyahu não dá ouvidos a ninguém, visto que os assentamentos se inscrevem em um quadro, diz ele, de “direitos vitais” para Israel.

Na verdade, a Palestina não passou a ser um Estado a integrar a ONU. Mas, por outro lado, não é mais uma “entidade”, e sim um “Estado observador”.

E como Estado observador a Palestina tem o direito de recorrer ao Tribunal Penal Internacional (TPI) nos casos de genocídio cometidos contra seu povo pelo Estado de Israel.

Detalhe: Israel não é signatário da TPI.

Perceptivo, Kevin Barrett, colunista de vários jornais norte-americanos de renome, doutor especializado em mundo árabe e muçulmano, indagou: “Essa ‘estúpida mula norte-americana’ descrita por Brzezinski vai acordar”?

 

“Nada vai mudar”, disse Benjamin Netanyahu quando na quinta-feira 29, 138 países votaram pelo reconhecimento da Palestina como Estado observador da ONU. Tratou-se um passo crucial para a criação de “dois Estados”, um hebreu, o outro Palestino, baseado nas fronteiras de 1967.

O reacionário ministro israelense do Exterior, Avigdor Lieberman, falou, ao se inteirar da decisão da ONU, de “terrorismo de Estado”. Terrorismo da ONU, supõe-se, e, portanto, de numerosos Estados “terroristas”.

No entanto, o tabefe na truculência israelense e na diplomacia dos EUA, como já escrevi nesse site, foi demasiado forte para ser perdoado pelo governo israelense.

Washington, como sempre, fez um jogo duplo. Votou contra a resolução de aceitar a Palestina como um Estado observador, mas, ao mesmo tempo, parecia (ou fingia-se?) inquieta com as retaliações israelenses.

Resumiu Zbigniew Brzezinski, Conselheiro de Segurança Nacional do presidente Jimmy Carter entre 1977 e 1981: “Não creio que exista uma obrigação implícita para os Estados Unidos seguirem como uma estúpida mula qualquer ação dos Israelenses. Se decidem começar uma guerra, (os israelenses) simplesmente assumem que nós estaremos automaticamente envolvidos”.

Acrescentou Brzezinski: “Nossa obrigação, como amigos, é dizer, ‘vocês não vão tomar uma decisão nacional em nosso nome’.”

De inocente, isso já não é segredo faz décadas e décadas, o Tio Sam não tem nada. Apoia Israel com um baita empurrão do lobby judeu. E para vencer eleições todo presidente norte-americano precisa desse dito lobby.

É claro que a situação, a despeito do que disse Netanyahu quando da mudança de status da Palestina na ONU, mudaria.

Até Barack Obama, aquele político supostamente tão empenhado em uma solução no Oriente Médio – e que em 2009 fez um magnífico discurso no Cairo sobre a necessidade de um diálogo entre o mundo cristão e árabe e muçulmano –, sabia que, desta feita, os israelenses dariam o troco.

O que fez o senhor Netanyahu, com o sólido apoio do fiel Lieberman?

Vingou-se de Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina agora visto como um herói pelo seu povo, e, mais do que nunca, em busca de uma reconciliação entre as duas divididas regiões dos territórios ocupados, a Cisjordânia e a Faixa (Prisão) de Gaza, esta controlada pelo grupo radical Hamas, eleito de forma democrática em 2006.

Um dia após a votação na ONU favorável a uma Palestina observadora, o premier israelense anunciou a construção de 3 mil casas em Jerusalém Leste e na Cisjordânia, Territórios Palestinos ocupados.

Como se isso não bastasse, no domingo 2 o governo israelense disse  aos palestinos que não receberão os fundos que pagaram em impostos para Israel devido à aprovação na ONU do Estado Palestino. Os 120 milhões de dólares serão usados para amortizar uma dívida palestina com a companhia israelense de eletricidade.

Ban Ki-moon, o Secretário-Geral da ONU, foi explícito: “Isso (os assentamentos) representa um golpe fatal para as chances que permanecem para se chegar à solução de dois Estados”.

Diante das condenações aos assentamentos que choveram mundo afora – Paris, Londres, Madri, Estocolmo, Moscou e Berlin, entre outros – Washington tinha de se manifestar.

Assim, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney pediu para os líderes israelenses “reconsiderarem” sua decisão unilateral. Vale repetir: enquanto o mundo condena com veemência os assentamentos, o representante de Barack Obama pede para Israel “reconsiderar” suas ações.

No entanto, Netanyahu não dá ouvidos a ninguém, visto que os assentamentos se inscrevem em um quadro, diz ele, de “direitos vitais” para Israel.

Na verdade, a Palestina não passou a ser um Estado a integrar a ONU. Mas, por outro lado, não é mais uma “entidade”, e sim um “Estado observador”.

E como Estado observador a Palestina tem o direito de recorrer ao Tribunal Penal Internacional (TPI) nos casos de genocídio cometidos contra seu povo pelo Estado de Israel.

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