Os donos da rua

As gangues controlam a capital, impõem a renúncia do primeiro-ministro e vão decidir o futuro político do país

Terra de ninguém. Os criminosos espalham o terror. Henry pretendia burlar um acordo de 2022 e prolongar o mandato, mas caiu – Imagem: Clarens Siffroy/AFP e Redes sociais

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Impedido de voltar ao país, o primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, não resistiu às pressões, internas e externas, e apresentou na segunda-feira 11 sua renúncia. De Porto Rico, onde está “exilado” desde 5 de março, Henry fez um discurso à nação por meio das redes sociais. “Nenhum sacrifício é grande demais”, afirmou. “Quero agradecer ao povo haitiano pela oportunidade que me deu de servir com integridade, sabedoria e honestidade. Precisamos de paz, estabilidade, desenvolvimento duradouro”. A entrega formal do poder, avançou o premier, se dará após a conclusão de “assuntos atuais”, a criação de um conselho de transição e nomeação de um chefe interino de governo.

Paz e estabilidade é tudo o que Henry não deve, nem nunca pode oferecer. Ao contrário. A onda de violência e as guerras de gangues começaram em 28 de fevereiro, em resposta à tentativa do primeiro-ministro de permanecer no poder até 2025, contra um acordo firmado pelas principais forças políticas em 2022, que previa eleições gerais no mês passado. Os haitianos não votam desde 2016. Não há um Parlamento, muito menos um presidente da República. O último chefe de Estado foi Jovenel Moise, assassinado em 2021 por mercenários colombianos. Na mesma segunda-feira da renúncia de Henry, em comunicado, o Conselho de Segurança das Nações Unidas havia apelado a “negociações significativas em prol de eleições livres e justas e a restauração das instituições democráticas o mais rapidamente possível”.

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2 comentários

José Carlos Gama 19 de março de 2024 14h59
O Haiti não é aqui, mas tem suas filiais espalhadas pelo país....só não impõe renúncia de ninguém, pois não sofrem pressão suficiente para isso.
CESAR AUGUSTO HULSENDEGER 24 de março de 2024 13h21
O Haiti é um espinho na carne da América branca: os escravos se revoltaram, deram uma surra memorável no Exército de Napoleão e conseguiram a independência do país e o fim da escravatura, e isso sozinhos. Desde então, sofre por isso. Para ajudar, a França cobrou uma indenização impagável, como sempre faz quando passa vergonha numa guerra, que foi um dos inícios das mazelas do país. Depois, os EUA, pra variar, meteram sua colher e houve a ditadura de Papa Doc e Baby Doc. E a ONU, quando tentou fazer alguma coisa, ou foi torpedeada ou meteu os pés pelas mãos. O Brasil teve chance de ajudar, mas fez muito pouco. Não nos enganemos: há quem queira que o Haiti sirva de exemplo de como ex-escravizados não sabem se governar…

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