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Órgão da ONU denuncia crime de guerra israelense por morte de 15 socorristas em Gaza
Faz um mês que Israel bloqueou a entrada de ajuda humanitária e retomou os ataques contra a Faixa de Gaza


O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh) advertiu nesta quinta-feira 3 que a morte de 15 socorristas em Gaza, quando suas ambulâncias foram alvo de disparos do Exército israelense no fim de março, traz novas preocupações sobre possíveis “crimes de guerra”.
“Estou horrorizado pelo assassinato de 15 trabalhadores sanitários e de ajuda humanitária, o que traz novas dúvidas sobre o cometimento de crimes de guerra por parte do Exército israelense”, declarou Volker Türk, titular do Acnudh, perante o Conselho de Segurança da ONU.
Os socorristas assassinados, entre eles oito do Crescente Vermelho Palestino e um da ONU, foram encontrados perto de Rafah no que o Escritório de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA, na sigla em inglês) descreveu como uma “vala comum”.
O OCHA disse na terça-feira que a primeira equipe foi assassinada por forças israelenses em 23 de março, e que outras equipes de emergência e ajuda foram alvejadas uma depois da outra por várias horas, enquanto buscavam seus colegas desaparecidos.
Trata-se de “um dos momentos mais sombrios de um conflito que abalou nossa humanidade comum até a medula”, comentou nesta quinta Younes al Khatib, presidente do Crescente Vermelho Palestino, perante o Conselho de Segurança.
“As almas de Mustafa, Ezzedine, Saleh, Mohammad Bahloul, Mohammed al Heila, Ashraf e Raed clamam por justiça. Vocês podem ouvi-los?”, disse, exigindo que se descubra o destino do 16º integrante da equipe que segue desaparecido.
“Também é preciso apontar que, durante as comunicações com a equipe”, era possível “ouvir uma conversa em hebraico entre as forças israelenses e a equipe, o que significa que alguns deles seguiam vivos sob o controle do Exército israelense”, acusou.
O Exército israelense disse que estava investigando o “incidente de 23 de março de 2025”, mas afirmou que seus soldados tinham disparado contra “terroristas”.
“Como nove terroristas do Hamas foram parar em ambulâncias do Crescente Vermelho? Sua presença coloca a todos em perigo”, declarou o embaixador israelense na ONU, Danny Danon, que exigiu um “sistema melhor de seleção” de pessoal.
“Não podemos escolher acreditar que simplesmente foram erros”, afirmou, por sua vez, o embaixador esloveno na ONU, Samuel Zbogar, ao se referir a todos os ataques contra trabalhadores humanitários em Gaza.
“O que vemos em Gaza é a erosão da humanidade”, acrescentou, e lamentou a incapacidade do Conselho para mudar as coisas.
Faz um mês que Israel bloqueou a entrada de ajuda humanitária e retomou os ataques contra a Faixa de Gaza.
Ações que representam, na opinião de Türk, “uma forma de punição coletiva” à população de Gaza, que poderia ter como objetivo “matar civis de fome como método de guerra”.
Türk também manifestou seu “alarme” pelas “declarações incendiárias de altos funcionários israelenses sobre a tomada, a divisão e o controle do território na Faixa de Gaza”.
A guerra foi desencadeada pelo ataque brutal do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023.
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