Mundo
Oposição e situação saem às ruas em protestos na Venezuela
Boa parte do país está sem energia desde a quinta-feira; pacientes já morreram em hospitais porque os equipamentos pararam de funcionar
Ainda sob o impacto do apagão que atingiu quase toda a Venezuela, o país viveu mais um dia de protestos neste sábado 9. Oposição e situação saíram às ruas em meio ao agravamento da crise no país para protestar contra e a favor do regime em vigor. A eletricidade foi restabelecida em algumas zonas de Caracas, porém, alguns bairros da capital venezuelana e mais de metade do país continuam sem energia há mais de 40 horas.
O presidente autoproclamado Juan Guaidó e o chefe de Estado Nicolas Maduro pediram a seus partidários que manifestassem nas ruas neste sábado, depois da pane de energia que mergulhou o país no caos desta quinta-feira 7.
A polícia venezuelana utilizou gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes favoráveis ao autoproclamado presidente interino da Venezuela.
Em uma mensagem no Twitter, Guaidó pediu ao povo venezuelano que se “posicionasse massivamente contra o regime usurpador, corrupto e incapaz que mergulhou o país no obscurantismo”.
¡Venezuela a la calle!
Mañana convoco a todo el pueblo venezolano a expresarnos masivamente en las calles contra el régimen usurpador, corrupto e incapaz que ha puesto a oscuras a nuestro país.
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El cese de la usurpación será el cese de la oscuridad.
¡Vamos Venezuela! pic.twitter.com/cmEnO60KBL
— Juan Guaidó (@jguaido) 9 de março de 2019
Nicolás Maduro também pediu aos seus partidários que se mobilizassem para desfilar contra o “imperialismo”. Para ele, o apagão foi “encomendado” pelos Estados Unidos.
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Hoy, cuando el imperio de los EE.UU., en su desespero por echarle mano a nuestros recursos naturales, intensifica sus brutales agresiones contra la Patria, nos plantamos con firmeza para defender nuestra tierra y gritar con fuerza: ¡Yankee Go Home! ¡Somos Antiimperialistas! pic.twitter.com/eGeU3qHZqB
— Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) 9 de março de 2019
O governo venezuelano anunciou na sexta-feira 8 que forneceria à ONU “provas” da responsabilidade de Washington, que serão transmitidas a uma delegação do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. O motivo do corte de energia ainda não foi esclarecido. Especialistas acusam o governo socialista de não ter investido na manutenção da infraestrutura por conta da crise econômica.
A companhia de energia estatal, Corpoelec, denunciou uma sabotagem da central hidrelétrica venezuelana de Guri, a mais importante do país e uma das principais da América Latina. A pane provocou o cancelamento de voos, suspensão de aulas nas escolas, saques e prejudicou ainda mais o atendimento nos hospitais.
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Drama e mortes nos hospitais
A falta de energia teve início na quinta-feira 7 por volta das 16h50 no horário local, e atingiu Caracas e praticamente todos os 23 estados da Venezuela. A luz voltou parcialmente na sexta-feira em algumas regiões, mas caiu novamente. A distribuição de água foi interrompida e o serviço de telefonia e internet é instável.
Nos hospitais, a situação é dramática. Os estabelecimentos equipados com geradores de energia atendem apenas os casos urgentes e pacientes já morreram porque os equipamentos respiratórios pararam de funcionar.
No Instituto Médico Legal da capital, onde as famílias aguardam a identificação dos mortos, as câmaras frias pararam de funcionar e os cadáveres entraram em putrefação. No aeroporto internacional de Maiquetia, o principal de Caracas, centenas de pessoas esperam a retomada dos voos, sem banheiro ou restaurantes à disposição. A retirada de dinheiro nos caixas eletrônicos também foi suspensa.
União Europeia aperta o cerco
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, afirmou neste sábado que a União Europeia está disposta, caso necessário, a endurecer as sanções contra o governo de Nicolás Maduro.
“Na União Europeia estamos dispostos a impor sanções adicionais se for necessário”, disse o ministro em entrevista ao jornal berlinense Tagesspiegel.
Mas acrescentou que “é importante que a pressão internacional se mantenha elevada” e afirmou que a UE não participará da tática dilatória usada por Maduro. O apoio da UE ao líder da Assembleia Nacional venezuelana, Juan Guaidó, é “irrefutável”, assegurou.
Guaidó havia exigido um endurecimento das sanções contra Maduro, depois que este declarou “persona non grata” o embaixador da Alemanha na Venezuela, Daniel Kriener.
Com informações da DW e RFI
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