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ONGs suspendem atividades no Afeganistão após proibição de emprego a mulheres

Há menos de uma semana elas foram vetadas nas universidades do país por “desrespeito” ao código de vestimenta

Afegãs protestam contra proibição de mulheres nas universidades. Foto: AFP
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Três ONGs estrangeiras anunciaram neste domingo (25) a suspensão das atividades no Afeganistão depois que o regime Taleban proibiu que as mulheres trabalhem neste tipo de organização.

“Enquanto não apresentam mais explicações sobre o anúncio, suspendemos nossos programas e exigimos que homens e mulheres possam continuar, em igualdade de condições, com nossa ajuda para salvar vidas no Afeganistão”, afirmaram em um comunicado as ONGs Save the Children, Conselho Norueguês para os Refugiados e CARE.

Dezenas de representantes de ONGs e funcionários da ONU se reuniram neste domingo em Cabul para analisar os passos que devem ser adotados depois que o Taleban ordenou que parem de empregar mulheres.

No sábado, o ministério da Economia do Afeganistão determinou que todas as ONGs deixem de empregar mulheres, sob risco de perda da licença para atuar no país.

O governo não explicou se a diretriz inclui as estrangeiras que trabalham para as organizações.

No comunicado enviado às ONGs, o ministério afirma que tomou a decisão depois de receber “denúncias” de que as mulheres que trabalhavam nestas organizações não respeitavam o uso do véu islâmico.

No Afeganistão, as mulheres são obrigadas a cobrir o rosto e o corpo inteiro.

“Se (as autoridades do Taleban) não estiverem em condições de revogar esta decisão e encontrar uma solução para este problema, será muito difícil continuar e fornecer ajuda humanitária de maneira independente e justa, porque a participação das mulheres é muito importante”, declarou à AFP o coordenador humanitário da ONU para o Afeganistão, Ramiz Alakbarov.

Impacto devastador

“Não queremos suspender a ajuda de maneira imediata, porque isto prejudicaria o povo afegão”, disse Alakbarov, que destacou um impacto “devastador” para a já deteriorada economia do país.

“Vamos discutir a questão com as autoridades. Vamos insistir para que isto mude”, reiterou.

A ONU e as agências de cooperação destacam que mais da metade dos 38 milhões de habitantes do precisarão de ajuda humanitária durante o inverno rigoroso.

Dezenas de organizações trabalham em regiões remotas do Afeganistão e muitas empregam mulheres. Várias associações alertaram que a proibição vai prejudicar suas atividades.

“A proibição terá um impacto em todos os aspectos do trabalho humanitário, pois as mulheres têm cargos cruciais em projetos voltados para população feminina vulnerável do país”, afirmou à AFP uma fonte de uma ONG estrangeira.

Nos últimos meses, o movimento Taleban, que retornou ao poder em agosto de 2021, apertou o cerco às mulheres.

Há menos de uma semana elas foram vetadas nas universidades do país por “desrespeito” ao código de vestimenta. E desde março estão proibidas de frequentar as escolas do Ensino Médio.

As mulheres também foram excluídas de vários empregos públicos e não podem viajar sem a presença de um parente homem. O Taleban também proibiu o acesso a parques, jardins, academias e banheiros públicos.

“Inferno para as mulheres”

“O retrocesso flagrante mais recente dos direitos das meninas e das mulheres terá consequências de grande alcance para a prestação de serviços de saúde, nutrição e educação das crianças”, tuitou o diretor regional do Unicef, George Laryea-Adjei.

Uma afegã de 27 anos contou à AFP, sob anonimato, que começaria a trabalhar neste domingo para uma ONG estrangeira. Mas o sonho acabou após a nova proibição.

“O trabalho árduo que fiz nos últimos anos no campo da educação foi destruído”, disse.

“Mas somos bastante corajosas para não aceitar proibições e lutar por nossos direitos”, acrescentou.

Shabana, 24 anos, funcionária de uma ONG em Cabul, também falou sobre a mudança.

“Somos 15 na minha família e eu sou o único sustento. Se eu perder meu emprego, minha família vai passar fome”, disse.

“Enquanto vocês celebram a chegada do Ano Novo, o Afeganistão virou um inverno para as mulheres”, resumiu.

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