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ONG diz que Europa faz ‘greenwashing’ às custas de africanos

Segundo relatório do Greenpeace, UE investe em projetos de energia verde no Marrocos e Egito para atender às próprias necessidades, enquanto esses países seguem dependentes de ‘energia suja’

ONG diz que Europa faz ‘greenwashing’ às custas de africanos
ONG diz que Europa faz ‘greenwashing’ às custas de africanos
A presidente da Commissão Europeia, Ursula von der Leyen, apresentou as propostas para o novo pacote de sanções contra a Rússia diante do Parlamento Europeu. Foto: Kenzo TRIBOUILLARD / POOL / AFP
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Países europeus recorrem à energia renovável no Marrocos e Egito para diminuir suas emissões e tornar suas economias mais verdes, deixando a conta ambiental para as populações desses países, que seguem dependentes de fontes energéticas altamente poluentes e recebem pouco em troca. A acusação foi feita em relatório da ONG ambientalista Greenpeace divulgado nesta quarta-feira 19.

Segundo o Greenpeace, projetos que produzem energia renovável e com baixa emissão de carbono para exportação com apoio da União Europeia estariam comprometendo a capacidade desses países de descarbonizar suas próprias economias, desalojando comunidades locais e consumindo milhões de litros de água – às vezes, em lugares onde esse recurso já é escasso.

A ONG afirma que isso ocorre enquanto Marrocos e Egito seguem importando combustíveis fósseis para manter suas próprias economias em funcionamento.

“Apesar de esses investimentos [europeus em energia] frequentemente serem retratados como mutuamente benéficos ou ‘verdes’, a realidade é que eles primariamente servem mercados europeus e externalizam os custos ambiental e social do crescimento da Europa para o Sul Global”, consta do relatório.

Demanda europeia também por gás

Mas para além da energia limpa, os europeus também têm demandado as reservas de gás egípcio. O interesse cresceu na esteira da invasão da Ucrânia, que forçou a UE a procurar alternativas ao gás russo.

Isso trouxe consequências ambientais, alega o Greenpeace. A exploração desenfreada de gás e petróleo por empresas teria provocado erosão do solo e contaminação das reservas de água do Egito.

Além disso, o Egito estaria agora recorrendo a fontes de energia ainda mais poluentes a fim de liberar mais gás para exportação. O relatório cita o “mazut“, uma “mistura de hidrocarbonetos pesados contendo toxinas, como sulfetos e metais pesados”.

Investimentos europeus reforçam “relações neocoloniais”

Segundo o Greenpeace, os investimentos europeus em energia e agricultura no Marrocos e Egito reforçam as “relações neocoloniais” com políticas extrativistas, que pouco ajudam as economias locais e só aprofundam desigualdades.

O relatório aponta que países menos desenvolvidos no Oriente Médio e Norte da África “estão presos em modelos econômicos extrativistas e neocoloniais” que agravam a crise da dívida e alimentam a crise climática numa região que está aquecendo duas vezes mais do que a média global.

O Greenpeace também afirma que os investimentos europeus no setor agrário no Marrocos e no Egito estão focados em culturas para exportação, como tomates e cítricos, que demandam grande quantidade de água e, portanto, agravam a escassez do recurso em uma região que já sofre com o problema.

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