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Olaf Scholz diz que não aceitará paz na Ucrânia ‘ditada pela Rússia’

Premiê alemão está no Brasil para o G20 e avaliou temas-chave da geopolítica atual

Olaf Scholz diz que não aceitará paz na Ucrânia ‘ditada pela Rússia’
Olaf Scholz diz que não aceitará paz na Ucrânia ‘ditada pela Rússia’
O primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz. Foto: Luis ROBAYO / AFP
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O premiê alemão Olaf Scholz disse que não vai aceitar uma proposta de paz determinada pela Rússia na guerra na Ucrânia. Scholz, que está no Brasil para participar do encontro do G20, no Rio de Janeiro, concedeu entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, publicada nesta segunda-feira 18.

“Provavelmente ninguém na Europa anseia tanto pela paz quanto os ucranianos”, reconheceu Scholz, “mas devemos ter cuidado com soluções falsas que só contêm ‘paz’ no nome. Paz sem liberdade se chama opressão, e paz sem justiça se chama ditadura”, pontuou o alemão.

“Estamos de acordo com Kiev no que tange à realização de outra conferência após a primeira conferência de paz na Suíça, em junho. A Rússia também deveria participar dela”, indicou Scholz. “A tentativa de alcançar uma paz justa e duradoura para a Ucrânia continua sendo o princípio que orienta nossa ação conjunta. Certamente não aceitaremos uma paz ditada pela Rússia”, frisou

A ideia de fim do conflito no leste europeu ganhou força nos últimos tempos, principalmente com a postura do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de indicar que poderia fazer a guerra iniciada em fevereiro de 2022 terminar.

Exemplo disso vem do próprio Volodymyr Zelensky, o presidente ucraniano, que, recentemente, chegou a falar que deseja o fim da guerra com a Rússia por “meios diplomáticos”. Ao longo de toda a guerra, Zelensky sequer havia mencionado a possibilidade de se costurar um plano de paz com os russos.

O problema passa a ser saber como o Kremlin negociaria um eventual plano de paz. Vladimir Putin até agradeceu, no mês passado, por uma proposta de paz apresentada pela China e pelo Brasil. “Todos querem que esse conflito termine o mais rápido possível e, de preferência, por meios pacíficos”, chegou a dizer o presidente russo.

Mas, para ir além das palavras, Zelensky e Putin devem concordar em pontos que, ao menos até o momento, parecem delicados demais para um acordo. 

De um lado, a Ucrânia dá indícios de que só negociaria o fim do conflito com a retirada total das tropas russas do país, que já dominam cerca de um quinto do território ucraniano. Do outro, Moscou já sinalizou que um possível acordo de paz envolveria a saída das tropas ucranianas de Donetsk e Lugansk, além das regiões de Zaporozhye e Kherson. 

Na entrevista à Folha, Scholz também sustentou a posição alemã de apoio a Israel no conflito do Oriente Médio. “Ao fazer isso [se defender], nossos parceiros israelenses podem contar com a solidariedade da Alemanha. Isso também inclui garantir a capacidade de defesa de Israel, por exemplo, fornecendo armas e equipamentos militar”, disse Scholz, que não descartou a necessidade de fornecer ajuda humanitária à população da Faixa de Gaza. 

Com a escalada dos conflitos ao redor do mundo, a Alemanha vem aumentando os seus gastos militares. No início do ano, o país comunicou à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que, em 2024, gastaria 2,01% do seu PIB em defesa, o maior percentual desde o fim da Guerra Fria. Em números totais, o orçamento militar da Alemanha para este ano é de 73,41 bilhões de dólares.

Scholz foi diplomático ao tratar de capítulo central da política externa, iniciado este ano: a volta de Trump ao poder nos Estados Unidos. O republicano pode representar uma mudança de rota na OTAN, já que é um defensor da ideia de que o grupo destine recursos menores à Ucrânia.

“A Alemanha e os EUA estão profundamente conectados – política e economicamente, mas também em nível humano”, disse Scholz ao jornal brasileiro. “Queremos manter essa cooperação, mesmo com o recém-eleito presidente dos EUA”.

“É claro que isso inclui a questão da segurança na Europa. Essa é outra área na qual queremos dar continuidade à cooperação bem-sucedida das últimas décadas. Não podemos nos esquecer de que, juntos, conseguimos manter a paz na Europa por muitos anos. O ataque da Rússia à Ucrânia mudou isso de forma brutal”, complementou.

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