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Ocidentais se coordenam para acelerar envio de armas à Ucrânia; Alemanha fornecerá tanques

O chefe do Pentágono afirmou que a Ucrânia ‘pode vencer’ a Rússia se receber os equipamentos adequados

Foto: MICHELE TANTUSSI / POOL / AFP
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O governo alemão autorizará a entrega de tanques do tipo “Guepard” à Ucrânia, o que representa uma mudança importante na prudente política de apoio militar de Berlim a Kiev. Os detalhes dessa decisão são discutidos nesta terça-feira 26, em uma reunião convocada pelos Estados Unidos em Ramstein, no oeste da Alemanha. Cerca de 40 países aliados querem acelerar o envio de armas à Ucrânia para enfraquecer a ofensiva russa.

A reunião de ministros da Defesa ocidentais é realizada na base militar americana de Ramstein. No momento em que a Rússia tenta controlar por completo o sul e a região do Donbass, no leste da Ucrânia, esse encontro pretende “gerar capacidades adicionais para as forças ucranianas”, declarou o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, na segunda-feira 25, depois de visitar Kiev. O chefe do Pentágono afirmou que a Ucrânia “pode vencer” a Rússia se receber os equipamentos adequados.

Os tanques alemães do tipo “Guepard” são especializados em defesa antiaérea. Os veículos procederiam dos estoques da indústria de defesa da Alemanha. Os detalhes sobre o número exato de tanques que serão fornecidos ao Exército ucraniano são tratados nesse encontro pela ministra da Defesa alemã, Christine Lambrecht.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, tem sido questionado por vários países bálticos e da região central da Europa por sua recusa em enviar armas pesadas solicitadas pela Ucrânia. Os críticos veem em sua atitude uma continuidade do viés pró-russo de seu partido social-democrata SPD. A França já anunciou o envio de canhões “Caesar” com alcance de 40 km e o Reino Unido doou mísseis antiaéreos “Starstreak” e veículos blindados. Canadá e República Tcheca também estão fornecendo novas armas a Kiev.

Na Alemanha, o debate político é intenso, mesmo dentro da coalizão de governo. Verdes e liberais, integrantes da coalizão no poder, consideram insuficiente o apoio fornecido a Kiev e pediram a Scholz que autorize o envio de material ofensivo, em especial veículos blindados. O chanceler justifica sua política prudente em termos de armas pesadas como uma forma de evitar um confronto direto entre a Otan e a Rússia, uma potência nuclear.

Rússia adverte contra risco de Terceira Guerra Mundial

Enquanto a guerra na Ucrânia está gerando tensões sem precedentes entre a Rússia e o Ocidente, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, levantou a ameaça de uma extensão do conflito. “O perigo é sério, é real, não podemos subestimá-lo”, disse ele, citado pela agência Interfax, um dia depois de uma visita à Ucrânia do chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, e do chefe do Pentágono, Lloyd Austin.

Desde o início da guerra, há 62 dias, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pede incessantemente aos aliados ocidentais o envio de armamento mais pesado para enfrentar o poderio militar russo. E os pedidos parecem fazer efeito.

Em Moscou, secretário-geral da ONU pede cessar-fogo

Nesta terça-feira, a ONU mais que dobrou o pedido de ajuda à Ucrânia, passando para US$ 2,25 bilhões. As Nações Unidas também anunciaram hoje que o número de refugiados da guerra deve ultrapassar 8 milhões de pessoas.

Pela primeira vez desde o início do conflito, o secretário-geral da ONU, António Guterres, faz uma visita a Moscou nesta terça-feira. Guterres defende um cessar-fogo na Ucrânia “o mais rapidamente possível”. “O que nos interessa é encontrar formas de criar as condições para um diálogo eficaz, criar as condições para um cessar-fogo o mais depressa possível”, disse ele, antes de ser recebido pelo chefe da diplomacia russa.

Embora a situação na Ucrânia seja “complexa, com diferentes interpretações sobre o que está ocorrendo”, é possível ter um “diálogo sério sobre a melhor forma de trabalhar para minimizar o sofrimento das pessoas”, acrescentou Guterres. Depois da reunião com Lavrov, o secretário-geral da ONU será recebido pelo presidente Vladimir Putin.

Resistência ucraniana enfraquece estratégia russa

O ímpeto de Washington para enviar artilharia à Ucrânia aponta para uma degradação das forças russas, não só no campo de batalha atual mas também no longo prazo, segundo o secretário de Defesa dos Estados Unidos e especialistas militares. Os aliados ocidentais estão mandando dezenas de projéteis de longo alcance para ajudar a Ucrânia a deter a ofensiva russa nas regiões leste e sul da Ucrânia.

Respaldados com uma melhor defesa aérea, drones de ataque e inteligência ocidental, os aliados esperam que Kiev seja capaz de destruir uma grande parte do poder armamentício russo no confronto que se avizinha.

A Rússia “já perdeu muita capacidade militar e muitas de suas tropas, para ser franco. E queremos vê-los sem conseguir replicar rapidamente essa capacidade”, afirmou Austin após sua visita a Kiev. “Queremos ver a Rússia debilitada a um nível que não possa fazer o tipo de coisas que tem feito ao invadir a Ucrânia”, acrescentou.

“Guerra de desgaste”

Essa é uma mudança da abordagem inicial de Washington, quando esperava simplesmente ajudar a prevenir a tomada da capital ucraniana por parte de Moscou e a queda do governo de Zelensky. De fato, ajudadas pelos mísseis antiaéreos e antiblindagem fornecidos pelos Estados Unidos e aliados europeus, as tropas ucranianas obrigaram os militares russos a se retirarem do norte da Ucrânia em um período de seis semanas desde o início da ofensiva em 24 de fevereiro.

No entanto, Moscou agora controla faixas do leste e do sul da Ucrânia, aparentemente com a intenção de se expandir para o centro do país enviando mais tropas e equipamentos para lá. Seu plano, acreditam os especialistas, é usar bombardeios de longo alcance para repelir a maioria das forças da Ucrânia e, em seguida, enviar tropas e tanques para proteger o território.

A melhor opção da Ucrânia é responder com artilharia superior, apoiada por ataques aéreos de proteção, para destruir o poderio russo, de acordo com Mike Jacobson, civil americano especialista em artilharia de campanha. Jacobson prevê que isso levará a uma “guerra de desgaste” em que a Ucrânia, com material fornecido por aliados com maior alcance e precisão, poderia deter os russos. “Creio que a artilharia superior prejudicará a capacidade dos russos de sustentar esse combate”, disse Jacobson à AFP.

Phillips O’Brien, professor de estudos estratégicos da Universidade de St. Andrews, escreveu que a guerra de artilharia que se aproxima lembrará a Primeira Guerra Mundial, onde cada lado tentou derrotar o outro com bombardeios desgastantes. O Exército da Rússia “está consideravelmente menor e sofreu maior perda de equipamentos. O Exército da Ucrânia está menor, mas prestes a ficar muito melhor armado”, explicou. “A Rússia precisa mudar essa dinâmica ou perderá a guerra de desgaste”, acrescentou.

Envios rápidos

Os Estados Unidos e demais aliados estão agilizando os envios para tirar vantagem do lento reagrupamento das forças russas após sua retirada do norte da Ucrânia. Já foram enviados à Ucrânia pelo menos 18 dos 90 itens de armamento que Washington prometeu nas duas últimas semanas, e mais serão despachados em breve esta semana, de acordo com um funcionário do Pentágono. Washington, além disso, está entregando cerca de 200 mil cartuchos de munição de obus e está preparando munições para a artilharia feita na Rússia que está sendo usada pelas forças ucranianas.

No entanto, nada garante que uma estratégia como essa vá permitir que a Ucrânia expulse os russos. Se Kiev prevalecer no combate de artilharia, em algum momento “obrigará (os russos) a escalar ou negociar de maneira realista”, concluiu Jacobson. “A Rússia ficará frustrada, mas não derrotada.”

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