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Obama não é o Tio Sam

A reeleição do presidente representa a mais grave derrota política do capitalismo neoliberal

Barack e Michelle Obama comemoraram resultado da eleição. Foto: Robyn Beck/AFP
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A vitória de Obama na disputa pela Presidência dos Estados Unidos está impregnada de importantes significados, que tão cedo não esgotarão as margens de reflexão. A consideração inicial é que nesta eleição, pela primeira vez, a grande maioria dos ricos e poderosos americanos – dos petroleiros até os financeiros de Wall Street – apostaram todas as suas fichas (e bilhões de dólares) na escolha oposta. A aposta não deu certo. A derrota dos extremistas republicanos, atuais representantes políticos do capitalismo selvagem no país mais importante do sistema, adquire, portanto um significado especial: abre possibilidade de uma saída da crise mundial que não a imposta pelos donos dos mercados e, possivelmente, inspirada em critérios democráticos.

É esse aspecto que nos interessa focalizar. Dito isso, é preciso lembrar que a batalha vencida, por si só, não resolve a guerra. Cria, porém, um espaço de confiança para a continuidade de um processo de reequilibro entre política e sistema econômico-financeiro, que – depois dos primeiros passos – precisará de alianças internacionais, acumulação de forças e tempo de amadurecimento.

Jamais como nestas eleições a decisão se deu em torno de questões econômicas internas, ou seja, os cidadãos foram chamados a indicar como sair da crise e qual espaço deverá ter o estado social nos EUA dos próximos anos. Embora ridiculamente acusado de “socialismo” pelos adversários, é útil recordar que Obama não foi eleito para fazer revolução alguma nem para resolver em quatro anos os problemas da humanidade. Através do voto, os americanos – mais autocentrados do que nunca por causa da crise – pleitearam, sobretudo, a solução de um problema interno crucial: job, job, job, trabalho, trabalho, trabalho.

Reafirmaram, ao mesmo tempo, que estão de acordo em consolidar um Estado mais atento às políticas sociais, onde o espaço para saúde e escola pública seja digno e o sofrimento dos pobres não seja considerado apenas questão de “merecimento”. Assim, desde a terça 6 de novembro, os 46 milhões de americanos pobres que recebem do governo os food stamps (bônus alimentares) puderam viver com menor angústia. Paralelamente, certa preocupação surgiu, com razão, entre aqueles que ganham mais de 250 mil dólares por ano, ameaçados pelo presidente reeleito, no seu primeiro pronunciamento político, de ter de pagar maiores impostos (lembramos que nos EUA a alíquota mais alta é 35%).


À luz dessas considerações, a fim de que o presidente americano possa dedicar eficácia reformista também a questões estratégicas na área econômico-financeira, a participação ativa nesse processo de aliados internacionais resultará absolutamente necessária.

A reeleição de Obama representa a mais grave derrota política do capitalismo neoliberal, depois dos fracassos financeiros recentes. Ao mesmo tempo, não esqueça que, hoje em dia, o presidente americano não é mais o todo-poderoso xerife branco do império dos anos 60. Ao contrário, e para melhor entender os limites manifestados no primeiro mandato, é preciso lembrar todo santo dia de que ele é o primeiro presidente negro da história americana, eleito por uma aliança de minorias, em um país profundamente dilacerado pela crise econômica e social, crise que é também do seu papel hegemônico internacional.

Na virada do atual sistema econômico, quando o auge do capitalismo neoliberal coincide com o início da sua decadência, Obama é chamado a defender acima de tudo os interesses dos que mais sofreram as consequências do sistema atual e a tornar menos desiguais os americanos. A meu ver, trata-se de um líder político que está do lado certo da barricada, contra o mais perigoso processo de concentração do poder econômico e da riqueza mundial, como nunca aconteceu no século passado. Por isso, deveria ser considerado aliado natural por todos os que querem mudar os seus próprios países (e por que não o planeta doente?) na mesma direção progressista. Em outros termos, Obama precisa de aliados internacionais de grande calibre para expressar suas potencialidades reformadoras e a América liderada por ele não merece mais ser vista por certa parte do mundo com a efígie vetusta do hostil Tio Sam.

Neste quadro, sua vitória não pode deixar de interrogar e abrir desafios aos países emergentes e aos europeus. Somente por meio de uma inédita aliança entre os democratas e progressistas dessas áreas com a América de Obama será possível impor regras mais equilibradas aos mercados globalizados e virar, gradualmente, a página do neoliberalismo para abrir uma nova fase de desenvolvimento, mais atentos às questões ambientais e de justiça social.

No Brasil, a direita tem torcido contra Obama, ainda que com certa vergonha. Para os incertos progressistas, o desafio atual poderia representar ótima ocasião para definir com maior clareza a projeção do País lá fora.

A vitória de Obama na disputa pela Presidência dos Estados Unidos está impregnada de importantes significados, que tão cedo não esgotarão as margens de reflexão. A consideração inicial é que nesta eleição, pela primeira vez, a grande maioria dos ricos e poderosos americanos – dos petroleiros até os financeiros de Wall Street – apostaram todas as suas fichas (e bilhões de dólares) na escolha oposta. A aposta não deu certo. A derrota dos extremistas republicanos, atuais representantes políticos do capitalismo selvagem no país mais importante do sistema, adquire, portanto um significado especial: abre possibilidade de uma saída da crise mundial que não a imposta pelos donos dos mercados e, possivelmente, inspirada em critérios democráticos.

É esse aspecto que nos interessa focalizar. Dito isso, é preciso lembrar que a batalha vencida, por si só, não resolve a guerra. Cria, porém, um espaço de confiança para a continuidade de um processo de reequilibro entre política e sistema econômico-financeiro, que – depois dos primeiros passos – precisará de alianças internacionais, acumulação de forças e tempo de amadurecimento.

Jamais como nestas eleições a decisão se deu em torno de questões econômicas internas, ou seja, os cidadãos foram chamados a indicar como sair da crise e qual espaço deverá ter o estado social nos EUA dos próximos anos. Embora ridiculamente acusado de “socialismo” pelos adversários, é útil recordar que Obama não foi eleito para fazer revolução alguma nem para resolver em quatro anos os problemas da humanidade. Através do voto, os americanos – mais autocentrados do que nunca por causa da crise – pleitearam, sobretudo, a solução de um problema interno crucial: job, job, job, trabalho, trabalho, trabalho.

Reafirmaram, ao mesmo tempo, que estão de acordo em consolidar um Estado mais atento às políticas sociais, onde o espaço para saúde e escola pública seja digno e o sofrimento dos pobres não seja considerado apenas questão de “merecimento”. Assim, desde a terça 6 de novembro, os 46 milhões de americanos pobres que recebem do governo os food stamps (bônus alimentares) puderam viver com menor angústia. Paralelamente, certa preocupação surgiu, com razão, entre aqueles que ganham mais de 250 mil dólares por ano, ameaçados pelo presidente reeleito, no seu primeiro pronunciamento político, de ter de pagar maiores impostos (lembramos que nos EUA a alíquota mais alta é 35%).


À luz dessas considerações, a fim de que o presidente americano possa dedicar eficácia reformista também a questões estratégicas na área econômico-financeira, a participação ativa nesse processo de aliados internacionais resultará absolutamente necessária.

A reeleição de Obama representa a mais grave derrota política do capitalismo neoliberal, depois dos fracassos financeiros recentes. Ao mesmo tempo, não esqueça que, hoje em dia, o presidente americano não é mais o todo-poderoso xerife branco do império dos anos 60. Ao contrário, e para melhor entender os limites manifestados no primeiro mandato, é preciso lembrar todo santo dia de que ele é o primeiro presidente negro da história americana, eleito por uma aliança de minorias, em um país profundamente dilacerado pela crise econômica e social, crise que é também do seu papel hegemônico internacional.

Na virada do atual sistema econômico, quando o auge do capitalismo neoliberal coincide com o início da sua decadência, Obama é chamado a defender acima de tudo os interesses dos que mais sofreram as consequências do sistema atual e a tornar menos desiguais os americanos. A meu ver, trata-se de um líder político que está do lado certo da barricada, contra o mais perigoso processo de concentração do poder econômico e da riqueza mundial, como nunca aconteceu no século passado. Por isso, deveria ser considerado aliado natural por todos os que querem mudar os seus próprios países (e por que não o planeta doente?) na mesma direção progressista. Em outros termos, Obama precisa de aliados internacionais de grande calibre para expressar suas potencialidades reformadoras e a América liderada por ele não merece mais ser vista por certa parte do mundo com a efígie vetusta do hostil Tio Sam.

Neste quadro, sua vitória não pode deixar de interrogar e abrir desafios aos países emergentes e aos europeus. Somente por meio de uma inédita aliança entre os democratas e progressistas dessas áreas com a América de Obama será possível impor regras mais equilibradas aos mercados globalizados e virar, gradualmente, a página do neoliberalismo para abrir uma nova fase de desenvolvimento, mais atentos às questões ambientais e de justiça social.

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