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“O riso morreu na nossa escola”

Após tragédia do voo da Germanwings, colégio de pequena cidade do oeste da Alemanha se confronta com única certeza: a morte de 16 alunos e duas professoras

"Por quê", indaga cartaz no Joseph König Gymnasium, colégio no qual estudavam 16 jovens e trabalhavam duas professoras que estavam no A320
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Por Jan D. Walter

Entre os mortos da queda do avião de passageiros A320, nos Alpes Franceses, estão 16 adolescentes da cidade de Haltern, na Renânia do Norte-Vestfália, e duas de suas professoras. No momento, a morte deles é a única certeza para os familiares, colegas e amigos.

No dia seguinte ao acidente, a rua que leva até o colégio Joseph König Gymnasium está ladeada por carros de transmissão de emissoras da Alemanha, da Europa e do mundo. Está vedado ao público o acesso ao terreno da escola, de onde o grupo partiu para a Espanha, num intercâmbio escolar.

De um lado das faixas de isolamento vermelho e brancas, estão cinegrafistas, fotógrafos, jornalistas e seus microfones. Do outro lado, gente de luto, crianças, jovens, adultos. Eles se dão as mãos, se abraçam, alguns ficam isolados, se ajoelham para depositar flores ou mais uma das incontáveis velas que iluminam a escada para a entrada principal.

Gente vai e vem, de cabeça baixa, olhos avermelhados. “Eu não dormi a noite inteira”, conta uma mulher a um jornalista. Um colegial mais velho se posta diante de um grupo de cinegrafistas, respondendo a suas perguntas.

Sim, ele conhecia algumas das vítimas, diz. E escolhe expressões que provavelmente conhece da mídia: “Nós estamos profundamente chocados.” Sua linguagem corporal demonstra que não está muito seguro se é certo falar com a imprensa ou se é insensibilidade.

O diretor da escola, Ulrich Wessel, considera que falar é o seu dever. “Eu sou o diretor da escola, fui eu que mandei o grupo nessa viagem”, comenta aos jornalistas. “Por isso, estou à disposição para responder às suas perguntas e também às dos pais.”

Na coletiva de imprensa na prefeitura de Haltern, ele está ao lado da secretária estadual de Ensino da Renânia do Norte-Vestfália, Sylvia Löhrmann, o prefeito Bodo Klimpel e o conselheiro municipal Cay Süberkrüb.

Löhrmann, que é professora, possivelmente pressente a ferida aberta que tal ocorrência pode significar para a comunidade escolar. Pressente, mas não se arvora em saber, e escolhe as palavras certas para expressar suas condolências, que aparentam ser sinceras: “Não podemos assumir o luto, somente partilhá-lo.”

Porém as perguntas mais pessoais dos jornalistas se dirigem ao diretor Wessel: como ele recebeu a terrível notícia; como foi comunicar a tragédia aos pais; se ele se sente responsável pelo inexplicável acontecido. Wessel se mantém corajoso, às vezes para por um momento a fim de engolir o nó que visivelmente vai se formando em sua garganta: ele não se importa que seus olhos fiquem úmidos ao expressar certos sentimentos.

“O riso morreu na nossa escola”, diz: quando vai retornar, ele não sabe. No momento, é preciso primeiro sobreviver um dia, depois o próximo. O que ajuda, acrescenta, são as demonstrações de solidariedade. Desde a véspera, incontáveis e-mails chegaram à prefeitura da cidadezinha e à própria escola.

“Gente que nunca teve contato com a nossa escola, gente de todo o mundo expressa os seus pêsames.” A presença da mídia também faz parte disso. “Eu não interpreto o interesse como sensacionalismo. Eu sei que a consternação dos seus leitores e espectadores é o que traz os senhores aqui.”

Acidente

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