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O que revela o teste nuclear norte-coreano?

Especialista se debruçam sobre as pistas para determinar o real perigo nuclear que a Coreia do Norte representa

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SEUL (AFP) – O teste nuclear norte-coreano abre uma janela pouco frequente e limitada para uma avaliação dos analistas sobre seu programa de armas atômicas. A ação realizada nesta terça-feira 12 foi recebida de maneira inquietante por toda comunidade internacional pela afirmação da Coreia do Norte de que detonou um artefato “miniaturizado”. A preocupação reside na palavra “miniaturizado”, o que indica que o regime comunista norte-coreano, liderado por Kim Jong-il, teria as condições necessárias para incluir uma ogiva explosiva em um míssil.

Em dezembro de 2011, o país já havia realizado com sucesso o lançamento de um foguete, que foi considerado um progresso importante na capacidade balística norte-coreana para atingir alvos distantes.

Segundo o comunicado oficial norte-coreano, o teste de “alto nível” utilizou uma “bomba atômica miniaturizada e mais leve”, com um alcance muito maior do que os artefatos de plutônio que detonou em 2006 e 2009.

Atualmente, monitores sísmicos e aviões detectores podem reunir amostras radioativas do teste atômico e fornecer dados para que os analistas tentem determinar a natureza e o alcance exatos da explosão subterrânea. Segundo o  ministério da Defesa da Coreia do Sul, dados sísmicos sugeriam que o alcance explosivo foi muito maior que os dos dois teste anteriores – de 2006 e 2009 -, alcançando de seis a sete quilotons.

Uma questão chave que os analistas tentarão elucidar é se a Coreia do Norte passou do plutônio a um programa de armas nucleares baseado na utilização do urânio. Determinar o tipo de material físsil é possível através da análise dos gases de xênon produzidos na explosão atômica e é importante para indicar a real capacidade de fabricação de bombas em larga escala.

“Não são fáceis de encontrar e, se o teste foi bem contido, podem não ser encontrados”, disse Paul Carroll, diretor de programa no Fundo Ploughshares, uma fundação de segurança global com sede na Califórnia, Estados Unidos.

“A alegação de que utilizaram um artefato miniaturizado é uma provocação, porque essa é exatamente a tecnologia que nós não queremos que tenham”, destacou Carroll, antes de completar que esta é uma afirmação muito difícil de confirmar ou de desmentir. A mesma potência de seis-sete quilotons pode ser obtida com um artefato pequeno, eficiente, ou com um grande e pouco eficiente, com dados sísmicos que não permitiriam diferenciar entre os dois, completou.

Bombas de urânio


Um teste de urânio confirmaria o que se suspeita há muito tempo: que a Coreia do Norte pode produzir armas de urânio. Isso duplica sua capacidade de fabricar mais bombas no futuro.

Uma bomba básica de urânio não é mais potente que uma básica de plutônio, mas a utilização de urânio tem várias vantagens para a Coreia do Norte, que possui importantes depósitos de minério em seu território.

“Isto preocupa porque um programa de enriquecimento de urânio é muito fácil de ocultar”, disse Mark Fitzpatrick, diretor do programa de não proliferação no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres.

“Não precisa de um reator como o plutônio e pode ser desenvolvido utilizando cascatas centrífugas em edifícios relativamente pequenos que não emitem calor e são difíceis de detectar”, completou.

A Coreia do Norte revelou que estava enriquecendo urânio em 2010, quando permitiu que especialistas estrangeiros visitasse uma instalação com centrífuga em um complexo nuclear de Yongbyon.

Muitos analistas acreditam que Pyongyang enriquece urânio há muito tempo, material que pode ser utilizado para fabricar armas em outras instalações secretas.

Outra ameaça para a comunidade internacional na utilização de um artefato de urânio se refere à proliferação. O urânio altamente enriquecido é o material físsil mais fácil de utilizar para fabricar uma bomba, e os conhecimentos tecnológicos e os equipamentos para enriquecer urânio são mais fáceis de transferir e de vender.

O cientista e analista nuclear Siegfried Hecker, que estava entre os que visitaram a instalação de enriquecimento de Yongbyon em 2010, disse que um teste de urânio era o mais provável, pelo desejo das autoridades norte-coreanas de aumentar seu arsenal nuclear.

A Coreia do Norte tem um arsenal de plutônio muito limitado – suficiente, segundo as estimativas de Hecker, para quatro a oito bombas – e fechou sua única fonte de plutônio, um reator de cinco megawatts em Yongbyon, em 2007.

Conselho de Segurança da ONU


Em uma reunião de emergência, realizada na terça-feira 12, o Conselho de Segurança da ONU declarou que “condena firmemente” a Coreia do Norte por seu terceiro teste nuclear e anunciou que iniciará imediatamente as negociações sobre novas medidas contra Pyongyang.

A explosão foi uma “clara ameaça à paz internacional e à segurança”, afirmou o ministro das Relações Exteriores sul-coreano, Kim Sung-Hwan, na leitura da declaração do Conselho, que se reuniu a portas fechadas.

Por sua vez, a embaixadora americana nas Nações Unidas, Susan Rice, disse que a Coreia do Norte irá enfrentar “um isolamento e pressões crescentes” devido a este teste nuclear e que o Conselho de Segurança iniciará imediatamente conversações para impor novas sanções.

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