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O que está em jogo na visita de Lula aos Estados Unidos

O brasileiro viaja a Washington para recolocar nos trilhos relação com Joe Biden, desgastada por Bolsonaro

Foto: Ricardo Stuckert/PR
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja a Washington na quinta-feira (9) com o objetivo de recolocar nos trilhos as relações do Brasil com o presidente americano, Joe Biden, que ficaram tensas durante o governo do antecessor, Jair Bolsonaro.

Lula, 77 anos, que tomou posse há pouco mais de um mês para iniciar seu terceiro mandato, será recebido na tarde de sexta-feira (10) por Biden, 80, na Casa Branca.

“O principal elemento a destacar dessa visita é seu caráter político, a simbologia de ocorrer logo de início do mandato do presidente Lula”, afirmou nesta terça-feira à imprensa Michel Arslanian Neto, secretário para a América Latina e o Caribe do Ministério das Relações Exteriores.

“É uma oportunidade para um encontro entre os dois líderes, para ter um contato pessoal, importante para dar um impulso e uma direção à relação”, acrescentou Neto, ao citar um “calendário de trocas da visitas” a ser elaborado.

A Casa Branca indicou que serão discutidos “o apoio inabalável dos Estados Unidos à democracia no Brasil” e “os desafios comuns” dos dois países, assim como “a mudança climática, a segurança alimentar, o desenvolvimento econômico, o reforço da paz e da segurança e as migrações regionais”.

Lula quer “reafirmar a parceria estratégica” com os Estados Unidos, “energizando a cooperação em áreas centrais e fortalecendo a aliança mútua em agendas sensíveis do momento para os dois presidentes, como meio ambiente e defesa da democracia”, explicou Fernanda Magnotta, coordenadora de relações internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo.

A democracia no Brasil esteve sob ataque em 8 de janeiro, uma semana após a posse de Lula, quando mais de 4 mil apoiadores do ex-presidente Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília, exigindo a renúncia do petista.

Esses incidentes mimetizaram diversos aspectos dos ataques ao Capitólio, nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021, por apoiadores do ex-presidente Donald Trump.

“Um tema de maior afinidade é a luta contra a radicalização da extrema direita, representada pelo bolsonarismo no Brasil e pelo trumpismo nos Estados Unidos, que são movimentos irmãos”, afirmou à AFP Guilherme Casarões, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo.

Meio Ambiente como prioridade

Bolsonaro, que está na Flórida desde antes do fim de seu mandato – uma questão que não deve ser abordada entre Biden e Lula, segundo o Itamaraty – foi um dos últimos líderes mundiais a parabenizar o democrata pela vitória nas urnas. Desde então, as relações entre os dois mandatários foram gélidas.

Antes de Biden assumir o poder, a admiração de Bolsonaro por Trump era evidente no alinhamento total de Brasília com Washington, assim como pelo mimetismo de sua maneira de governar.

Outra grande prioridade em comum entre os dois países é o meio ambiente, “principalmente a preservação da Amazônia e o impacto sobre a mudança climática”, disse Casarões.

“É uma prioridade absoluta” para Lula e “com uma equipe tecnicamente competente, tudo indica que ele conseguirá alinhar a agenda brasileira às expectativas norte-americanas”.

O desmatamento na Amazônia avançou 60% em cada um dos quatro anos do mandato de Bolsonaro (2019-2022). Lula prometeu alcançar o ‘desmatamento zero’ até 2030 na maior floresta tropical do mundo, essencial para o controle do clima do planeta.

“Não há alternativa”, declarou Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington. “Lula precisará ter sucesso na luta contra as atividades ilegais na Amazônia, como o desmatamento, o garimpo”.

Questão China

Além disso, durante a visita de Lula, “há muito espaço para um diálogo” sobre o aumento do comércio entre os dois países e dos investimentos bilaterais, segundo Magnotta.

Em matéria de defesa, poderão ser discutidas transferências de tecnologia e acordos de cooperação científica.

“Há um interesse muito grande do Brasil em ampliar o acesso ao mercado de defesa norte-americano”, garantiu Neto.

Divergências, no entanto, não faltam.

Em relação à Ucrânia, o Brasil condenou a invasão russa na ONU, mas não adotou qualquer sanção econômica contra Moscou e não enviará munição a Kiev.

Lula também quer normalizar suas relações com a Venezuela. E, ao contrário dos Estados Unidos, não vê a China ou a Rússia como ameaças. Os três grandes emergentes são membros dos Brics.

A China é o principal parceiro comercial do Brasil (US$ 152,6 bilhões em 2022), muito à frente dos Estados Unidos, segundo colocado (US$ 88,8 bilhões).

O Brasil, principal potência econômica da América Latina, é “muito dependente da Ásia, em particular da China, para o comércio e os investimentos”, lembrou o ex-embaixador Rubens Barbosa.

Assim, Lula, ao restabelecer relações de alto nível com os Estados Unidos, deve se reconectar com a política “equilibrada” do Brasil, que “tem relações construtivas com todos os países, sem se alinhar a nenhuma potência”, concluiu Casarões.

(Com informações de AFP)

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