Mundo

O que diz o Exército israelense sobre a morte de sete voluntários em Gaza

Militares apontam que bombardeio começou após confundirem objeto – provavelmente uma bolsa – com uma arma

Carro usado pelos trabalhadores humanitários da World Central Kitchen em Gaza também foi atingido por Israel. Foto: AFP
Apoie Siga-nos no

O Exército israelense reafirmou nesta sexta-feira (5) que a morte em um bombardeio de sete voluntários da ONG americana World Central Kitchen (WCK) em Gaza foi um “erro grave”.

A organização, fundada pelo famoso chef espanhol José Andrés, disse que sete de seus trabalhadores – três britânicos, uma australiana, um polonês, um canadense-americano e um palestino – morreram em um “ataque israelense dirigido”, com um alvo designado, contra seu comboio na noite de segunda-feira.

Abaixo, a versão do Exército Israel de como ocorreram os fatos.

22h: o comboio sai do cais 

As 300 toneladas de alimentos da WCK a bordo de um navio do Chipre foram descarregadas em um píer próximo a Deir al Balah, no centro de Gaza. A área era vigiada pelo Exército israelense.

A operação deveria ser realizada durante quatro noites, de acordo com o Exército, e a carga deveria ser transferida para o armazém dentro do território à noite, para evitar “debandadas” de pessoas famintas, que já causaram várias mortes em Gaza.

Foi a segunda vez que a organização conseguiu levar um navio com suprimentos de alimentos do Chipre até o cais.

A WCK forneceu ao Exército todas as coordenadas de seus veículos e sua rota.

22h28: veículos e um “homem armado” se juntam ao comboio

O comboio de oito caminhões dirigiu por 20 minutos ao longo da estrada costeira ao sul e, às 22h28, quatro veículos do WCK se juntaram a ele perto de um centro da ONG. Todos os quatro carros tinham o logotipo da WCK na parte superior, mas “o operador (do drone) não conseguiu vê-lo no escuro”, insistiram os militares israelenses.

Foi então que, de acordo com o exército, um homem armado subiu em um dos caminhões e “começou a atirar”, levantando temores de que “o comboio tivesse sido interceptado pelo Hamas“. O comboio continuou seu caminho e parou no “Hangar A”, onde “o homem armado desceu”, de acordo com o Exército.

O Exército mostrou aos repórteres imagens do vídeo do drone, em que um homem parece estar disparando um rifle automático de cima do caminhão.

Na época, o comando militar tentou entrar em contato com a ONG, disse o general aposentado Yoav Har-Even, que está liderando a investigação interna sobre o incidente. Mas o oficial de segurança da WCK na Europa não conseguiu entrar em contato com a equipe no local, acrescentou.

22h46: “Agentes do Hamas”

Quando o comboio e os carros da organização chegaram ao “Hangar A”, o drone da força aérea capturou “entre 15 e 20 indivíduos do lado de fora do hangar. Pelo menos dois ou quatro deles foram identificados como [pessoas] armadas”, disse Har-Even.

“Entre 22h47 e 22h55, um dos oficiais israelenses [que viu as imagens na base] concluiu que eram agentes do Hamas.”

No entanto, “eles receberam ordens de não atacar os indivíduos armados para não colocar em risco o comboio humanitário”, acrescentou.

22h55: os carros da WCK saem 

Com os caminhões no hangar, os carros partiram. Um deles percorreu uma pequena distância, seguindo para o norte, em direção ao “Hangar B”. “Entre dois e quatro homens armados foram identificados saindo [do veículo] e indo em direção ao hangar”, explicou o general.

Imagens de drone mostram pelo menos três homens com o que parecem ser armas, acrescentou Har-Even.

De acordo com ele, os regulamentos do Exército proíbem bombardear suspeitos tão perto de um armazém de ajuda humanitária.

23h09: o primeiro dos três bombardeios

Os outros três veículos da WCK voltaram para a costa. Har-Even afirmou que a “célula” no comando do drone estava convencida de que havia detectado um homem armado em um dos veículos.

“Agora sabemos que foi um erro. Não era uma arma. Talvez fosse uma bolsa”, disse ele.

Como os sete trabalhadores humanitários e seus veículos haviam chegado à costa e estavam indo para o sul, a equipe que operava o drone pensou que “a missão humanitária havia terminado e que eles estavam seguindo pelo menos um atirador do Hamas”, disse o general.

Mais tarde, na sexta-feira, os militares israelenses afirmaram que “um dos comandantes presumiu erroneamente que os atiradores estavam dentro dos veículos e que eram terroristas do Hamas”.

Às 23h09, o drone “bombardeou um carro e identificou pessoas saindo do carro e entrando em outro carro. Eles decidiram bombardeá-lo, o que foi contra os procedimentos operacionais padrão”, disse ele.

“Em seguida, bombardearam o terceiro carro…”, acrescentou. O último bombardeio contra os sobreviventes dos dois primeiros mísseis ocorreu às 23h13.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo