O papel do Brasil na disputa entre EUA e Rússia pela extradição de um suposto espião

O russo Sergey Cherkasov foi detido por falsificação ideológica e é visto como moeda de troca na liberação de dois norte-americanos

Fotos: AFP

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A extradição do cidadão russo Sergey Vladimirovich Cherkasov, preso em abril do ano passado no Brasil por falsidade ideológica, é alvo de disputa entre os governos norte-americano e russo. O homem, de 39 anos, é suspeito de ser um espião a serviço da gestão de Vladimir Putin.

Uma denúncia apresentada originalmente por autoridades holandesas detalhou que ele chegou ao país como um estudante brasileiro chamado Victor Muller Ferreira, para assumir o cargo de analista júnior no Tribunal Penal Internacional, em Haia.

Segundo a polícia holandesa, a intenção dele seria se infiltrar na Corte Especial das Nações Unidas e espionar investigações sobre crimes de guerra em ações militares russas, sobretudo na Ucrânia.

O suposto espião russo, Sergey Vladimirovich Cherkasov. Foto: Reprodução

Por ter se apresentado como brasileiro, em 3 de abril de 2022 ele foi deportado para o Brasil. Em julho, foi condenado pela Justiça Federal em São Paulo a 15 anos de prisão – e ainda é alvo de um inquérito por lavagem de dinheiro. Meses depois, o governo russo solicitou a extradição, pois ele estaria sendo procurado por tráfico de drogas. Já em abril deste ano, o governo de Joe Biden também solicitou a extradição de Cherkasov.

Atualmente, o suposto espião está na Penitenciária Federal de Brasília, um presídio de segurança máxima.


Os pedidos das duas nações foram enviados ao Ministério das Relações Exteriores e posteriormente repassados ao Itamaraty e ao Ministério da Justiça.

Desde então, a pasta analisa as solicitações por meio de seu Departamento de Cooperação Jurídica Internacional. Por enquanto, não há uma decisão. 

De acordo com informações de The Wall Street Journal, a movimentação dos governos para a extradição de Cherkasov mira, na verdade, uma tentativa de acordo entre Biden e Putin a fim de libertar Evan Gershkovich, repórter norte-americano do jornal preso em abril deste ano na Rússia, e Paul Whelan, detido em 2018. Ambos foram presos sob a alegação de espionagem.

À esquerda, Evan Gershkovich, repórter norte-americano do The Wall Street Journal, e à direita, Paul Whelan, condenado em 2018. Fotos: AFP via Getty Images

Ter Cherkasov em uma prisão dos Estados Unidos faria com o que o país pudesse negociar com o governo russo.

Sem resposta, a Casa Branca busca a ajuda de aliados, como o Brasil. Contudo, o governo brasileiro também procura manter boas relações com a Rússia. Em abril, por exemplo, o ministro das Relações Exteriores de Putin, Sergei Lavrov, foi recebido por autoridades brasileiras.

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