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O Ocidente pode parar mísseis norte-coreanos?

Os EUA deram início à instalação de um escudo antimísseis na Coreia do Sul. Ele pode, realmente, conter todos os disparos?

Teste do Thaad em novembro, em ilha do Pacífico
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Por Fabian Schmidt 

Depois do desfile de mísseis de grande porte na parada militar em homenagem ao 105° aniversário do fundador do Estado norte-coreano, Kim Il-sung, em 15 de abril último, especialistas militares de todo o mundo passaram a especular o real conteúdo dos projéteis.

Alguns deles eram tão impressionantes que se podia ter a impressão que o país dispõe de um grande arsenal de foguetes de médio alcance, mas também de diversos mísseis balísticos intercontinentais.

O certo é que, em 2016, a Coreia do Norte conseguiu lançar um satélite em órbita com um foguete. Pyongyang já disparou diversos mísseis de médio alcance – até mesmo a partir de um submarino. Ainda não se sabe, no entanto, se o país dispõe de uma ogiva nuclear que caiba num projétil.

Agora, resta a pergunta: os sistemas de defesa antimísseis, como o instalado pelos Estados Unidos na Coreia do Sul, podem realmente ser efetivos contra a ameaça norte-coreana?

Mísseis de curto alcance

Sistemas de defesa contra mísseis de curto alcance (500 a 1.000 quilômetros), como o sistema Patriot da Otan, demonstraram ser relativamente confiáveis no passado. Na segunda Guerra do Golfo, em 1991, os mísseis Patriot conseguiram destruir no ar numerosos foguetes lançados contra a Arábia Saudita e Israel pelo Exército iraquiano do ditador Saddam Hussein.

No entanto, muitos foguetes conseguiram passar pelo escudo. Os dados dos relatórios sobre o grau de êxito variam drasticamente – entre 40% e 80%.

Também devido à experiência da primeira Guerra do Golfo, de 1980 a 1988, Israel decidiu instalar um sistema de defesa antimísseis abrangente e diversificado.

O subsistema Iron Dome – uma peça central da defesa israelense antimíssil – pode combater até mesmo foguetes improvisados, mais primitivos e de bem menor alcance – de 5 a 70 quilômetros. Durante o maciço ataque à Faixa de Gaza, entre 2012 e 2014, foram destruídos 547 de 2.968 projéteis lançados, de acordo com dados militares.

Identificar e avaliar o perigo

O sistema de defesa Patriot da Otan também é usado para combater mísseis de médio alcance, entre 800 e 5.500 quilômetros. Outros semelhantes são o MEADS europeu ou o Arrow do Exército israelense. Também o escudo instalado agora na Coreia do Sul, o Thaad (Terminal de Defesa Aérea para Grandes Altitudes, na sigla em inglês) foi pensado para esses tipos de ataques. Além disso, há um sistema de defesa da Otan baseado no mar chamado de Aegis.

Por meio de radares de alta precisão em solo, mar ou aerotransportados, todos esses sistemas de defesa antimísseis têm em comum a capacidade de reconhecer os foguetes lançados, de calcular exatamente a sua trajetória de forma tridimensional e de classificá-los como uma ameaça.

Além disso, os sistemas podem priorizar que projéteis devem ser perseguidos: sob certas circunstâncias, os escudos deixam passar foguetes direcionados para uma região não habitada ou aqueles lançados em direção ao mar, para se concentrar em ataques mais perigosos – contra cidades ou vilarejos, por exemplo. Em seguida, os sistemas acompanham a trajetória dos mísseis por computador, disparando o foguete antiaéreo.

Foguetes de explosão ou impacto

Foguetes antimísseis mais antigos carregam consigo uma carga explosiva, que detona no momento em que se está mais próximo do míssil a ser atacado. Esses sistemas são empregados principalmente na defesa contra mísseis de curto e médio alcance.

Desde a virada de século, os exércitos ocidentais empregam cada vez mais mísseis que não dispõem de dispositivo explosivo próprio.

O escudo antimísseis Thaad, que está sendo instalado agora na Coreia do Sul, é equipado exclusivamente com tais bólidos modernos. Eles também estão preparados para combater mísseis de longo alcance. O chamado escudo “hit to kill vehicle” (bater para matar) são projéteis guiados que, inicialmente, são lançados ao espaço por foguetes multiestágios, separando-se então do projétil. 

Coreia do Sul Thaad Imagem feita à distância mostra a instalação do Thaad em um campo de golfe em Seongju, na Coreia do Sul (Foto: Daegu Ilbo / AFP)

Em seguida, eles partem em rota de colisão com o míssil agressor, destruindo-o por impacto. Eles conseguem acumular uma enorme energia cinética a partir de altitudes elevadas. Para que não errem o seu alvo, controlam a sua trajetória até o momento do choque por meio de pequenos propulsores laterais.

Mísseis de longo alcance

Foguetes de médio alcance voam até 150 quilômetros de altitude; mísseis balísticos intercontinentais (ICBM, na sigla em inglês), até 400 quilômetros, ou seja, acima da atmosfera. Geralmente equipados com ogivas nucleares, os ICBMs atingem velocidades de três mil a mais de 14 mil quilômetros por hora.

Até agora, não houve, no entanto, praticamente nenhuma experiência num cenário real de guerra sobre o êxito do combate a mísseis de médio alcance e a ICBMs com um alcance de mais de 5,5 mil quilômetros. Por sorte, pois esses mísseis são destinados a uma guerra nuclear.

Mas isso também significa que não se conhece exatamente a confiabilidade de sistemas de defesa antimísseis desse tipo. Para abater tais ogivas em voo, é preciso uma precisão considerável. Em testes, foi possível realmente atingir e destruir mísseis de médio alcance no ar. Acredita-se que o escudo antimísseis Thaad seja capaz também de aniquilar mísseis balísticos intercontinentais. No entanto, dados sobre esses testes ou índices de acerto não são conhecidos publicamente.

Ogivas múltiplas

Um desafio especial para o sistema de defesa antimísseis é a montagem de ogivas nucleares múltiplas (MIRV) em mísseis balísticos intercontinentais. Nesse caso, o foguete lança a partir de sua órbita não uma, mas dez diferentes ogivas atômicas de volta à atmosfera.

Para se preparar também contra tais ataques, os fabricantes estão trabalhando em foguetes que podem liquidar, simultaneamente, também diversos desses projéteis. Ainda não se pode prever se tais sistemas podem realmente funcionar. O principal ponto fraco de qualquer escudo antimísseis está no risco de uma sobrecarga devido a muitos ataques simultâneos.

Mísseis teleguiados

Até agora, todos os sistemas de defesa antimísseis são capazes de combater somente mísseis balísticos. Trata-se de projéteis em que a trajetória é determinada em grande parte pelas leis da física após a queima total de combustível.

Isso significa que mísseis guiados, também chamados de mísseis de cruzeiros, estão imunes contra escudos antimísseis. Assim como os aviões, tais foguetes podem mudar a sua trajetória constantemente e, além disso, voar na maior parte do tempo sob o radar. Esses projéteis, geralmente, não atingem a velocidade do som, mas podem percorrer longas distâncias.

Em alguns experimentos, foi possível derrubar tais bólidos por meio de mísseis antiaéreos. Aviões de intercepção também podem combater tais mísseis de cruzeiro com foguetes guiados pelo calor. No entanto, é questionável se isso seria realmente praticável num cenário real de guerra, pois os foguetes agressores têm que ser primeiramente descobertos antes que eles possam ser combatidos.

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