O fluxo continua. Não importa a quantidade de policiais ou o tamanho do muro erguido, milhares de migrantes não desistem de entrar clandestinamente nos Estados Unidos. Solitários ou em família, eles se amontoam nos baús de caminhões muitas vezes abandonados por traficantes à beira da estrada, entregues à própria sorte. Há quem tente vencer a travessia pela correnteza traiçoeira do Rio Grande ou o calor do deserto em atalhos que não levam a lugar algum. Nas últimas quatro décadas, encontrar soluções para a realidade dolorosa da imigração ilegal tem sido um desafio para governos democratas e republicanos. Em 2016, Donald Trump alçou como pedra angular de sua campanha a construção do muro na fronteira com o México e falhou miseravelmente. No fim do mandato, a promessa havia desaparecido de vista e o ex-presidente encerrou o governo sob denúncias de tratamento imoral e desumano, especialmente de crianças separadas dos parentes, detidas em jaulas, enquanto esperavam o aval para entrar ou não no país.
Em 2020, a sensibilidade com a qual abordou o tema, prometendo não separar as famílias, construir muros ou obrigar os requerentes de asilo a esperar em campos miseráveis no México, deu a Joe Biden vantagem na disputa presidencial. Em dois anos de administração o líder democrata encontra-se, porém, no centro de uma das mais delicadas e urgentes crises de imigração. Dados divulgados pelo Departamento de Segurança Interna revelam que 2022 é considerado o ano mais violento para os imigrantes que tentaram entrar pela fronteira sul, na divisa com o México. Quase 750 imigrantes morreram neste ano, recorde que supera o total do ano passado em mais de 200 indivíduos. Não bastasse, junho ficou marcado por um incidente trágico: 50 adultos e 3 crianças foram encontrados mortos dentro e ao redor de um caminhão abandonado na cidade de San Antonio, no Texas. Outros dez adultos e uma criança foram hospitalizados, dois homens foram presos.
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