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O caldeirão de Lima

Os manifestantes intensificam os protestos e tomam as ruas da capital. O governo responde com violência

Frágil. Empossada para estabelecer a paz, Boluarte recorreu ao estado de emergência. São 50 mortes em um mês - Imagem: Melina Mejia/Presidência do Peru e Ivan Flores/AFP
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A extensão por 30 dias do estado de emergência em Lima, Cuzco e Puno, além da província de Callao e de cinco rodovias, não é demonstração de força, mas a prova da incapacidade da presidente Dina Boluarte em conduzir o Peru à mínima estabilidade política e social. Boluarte assumiu o posto em 7 de dezembro, por escolha do Parlamento, no momento mais conturbado da desvairada história recente do país. Seu antigo chefe, o neófito e atrabiliário Pedro Castillo, de quem era vice e ex-ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social, acabara de ser detido após ensaiar um autogolpe em reação ao fraudulento processo de impeachment, o terceiro em um ano e meio de mandato, em tramitação no Congresso, covil de oportunistas. Seguindo as regras constitucionais, mas à revelia da opinião popular, a ex-ministra foi convocada às pressas e ungida a primeira mulher a comandar os peruanos, incumbida da missão de “apaziguar os ânimos”. Ao tomar posse, condenou a manobra do companheiro de chapa, prometeu desbaratar as “máfias” no setor público, abrigar nos gabinetes “todas as forças democráticas” e preparar o terreno para as eleições de 2024, blablablá, blablablá e blablablá. A pax imposta pela elite parlamentar, judicial, militar e econômica não durou, porém, nem o tempo de produção da nova foto oficial do poder. Os primeiros protestos nas províncias explodiram na noite da prisão de Castillo. Oito dias depois, Boluarte decretou estado de emergência, vigente em todas as regiões, e toque de recolher nas principais cidades e áreas conflituosas.

Tudo correu como o esperado nesse tipo de intervenção, tão trágica quanto repetitiva, na América Latina. O uso da violência não deteve os manifestantes, pobres e indígenas em sua maioria, apenas produziu um compêndio de violações que, cedo ou tarde, preencherá os escaninhos da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Até a terça-feira 17, quando manifestantes de diversos pontos do país, conduzidos por lideranças aimarás, se dirigiam a Lima para reforçar a convocatória de greve geral, os pela repressão somavam 50. Segundo reportagem do jornal La República da mesma terça, durante os protestos em Ayacucho, cidade na região sul, em 15 de dezembro, início do estado de emergência, as forças de segurança agiram para matar, não para controlar os levantes. “Nos autos há um padrão de lesões em áreas vitais: abdome, tórax e cabeça (…) Houve intenção”, afirmou ao diário Gloria Cano, advogada e ativista. Em Andahuaylas, o Ministério Público abriu investigação contra o general Luis Jesús Flores Solís e o coronel Alexis ­Luján Ruiz por seis assassinatos. Denúncias semelhantes pipocam em outras regiões.

A presidente Boluarte estendeu o estado de emergência e o toque de recolher por 30 dias

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