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O Brexit pode representar um golpe fatal à unidade do Reino Unido?

A Inglaterra, a Escócia, Gales e Irlanda do Norte mantêm autonomia em áreas cruciais, como educação e saúde

Foto: Niklas HALLE'N / AFP
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Depois que os laços entre as quatro nações que formam o Reino Unido – Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda do Norte – foram flexibilizados durante a pandemia, o Brexit pode representar o golpe de misericórdia a 300 anos de união?

Inglaterra, Escócia e Gales estão unidas desde 1707 e em 1921 a Irlanda do Norte passou a integrar o Reino Unido, mas desde o fim da década de 1990 cada nação conseguiu mais autonomia em áreas cruciais, como educação e saúde.

 

E durante a pandemia de coronavírus, as diferentes respostas dos governos descentralizados permitiram vislumbrar o que poderia acontecer caso tivessem mais poderes ou, inclusive, plena soberania.

Independentismo escocês

Os nacionalistas escoceses afirmam que nunca desejaram sair da União Europeia e que continuarão tentando transformar a Escócia em um país independente para reintegrar o bloco.

“Com a mistura de pandemia, Brexit e um governo conservador britânico muito impopular na Escócia é provável que aumente o apoio à independência”, declarou à AFP John Springford, subdiretor do centro de estudos ‘Centre for European Reform’.

O apoio à secessão já aumentou no referendo de 2016, quando a Escócia votou majoritariamente contra o Brexit, e atualmente registra níveis recordes: uma pesquisa de outubro apontava uma vantagem de 16% do movimento independentista.

“A opinião dos escoceses é que o governo da Escócia e (a primeira-ministra) Nicola Sturgeon administram bem a pandemia e o governo britânico de (Boris) Johnson administrou mal”, afirmou recentemente o analista de pesquisas John Curtice.

A independentista Sturgeon e seu Partido Nacionalista Escocês (SNP) esperam que a tempestade perfeita obrigue Londres a autorizar um segundo referendo de autodeterminação, depois da votação de 2014, quando a permanência no Reino Unido venceu por 55% a 45% dos  votos.

Johnson se nega a permitir a consulta, mas a pressão pode atingir um nível insuportável se o SNP conquistar uma grande vitória nas eleições legislativas regionais de maio.

Preocupações com a paz na Irlanda

Uma Escócia independente ficaria sem a proteção do guarda-chuva britânico ou europeu: Bruxelas advertiu que o retorno à UE não seria automático.

“Se a Escócia decidir que deseja aderir à UE e a UE afirmar que pode, então obviamente teríamos que estabelecer uma fronteira com a Inglaterra. E essa fronteira seria mais difícil do que a fronteira entre a Irlanda do Norte e a vizinha República da Irlanda”, disse Springford, considerando que isso poderia desestimular alguns eleitores.

Embora a pressão se concentre tradicionalmente na Escócia, os nacionalistas de Gales também agitaram a bandeira da independência durante a pandemia e o partido nacionalista Plaid Cymru prometeu um referendo se vencer as legislativas regionais de maio.

Em Gales, no entanto, o Brexit funciona menos como um catalisador, já que a região votou a favor da saída da UE.

“A probabilidade de que isto leve à independência de Gales não é tão elevada”, opina Springford.

Mas a saída britânica da União Europeia pode ter um forte impacto na Irlanda do Norte, com o medo do retorno de um conflito de três décadas que terminou com o Acordo da Sexta-Feira Santa de 1998.

O acordo pacificou a região em grande medida graças à livre circulação na ilha da Irlanda e à possibilidade para seus habitantes de escolher entre o passaporte irlandês ou britânico, ou ambos.

O risco de retorno aos controles de fronteira levou políticos de todos os partidos a estabelecer uma frente comum contra a possibilidade.

Mas os unionistas norte-irlandeses temem que o novo sistema pelo qual a Irlanda do Norte seguirá alinhada com a UE acabe galvanizando o apoio a uma Irlanda reunificada.

“O Brexit apresentou questões fundamentais sobre a (…) a sustentabilidade da divisão de nossa ilha”, disse Mary Lou McDonald, líder do partido republicano Sinn Fein, ex-braço político do IRA.

“Embora exista uma grande pressão interna por parte do Sinn Fein, não existem necessariamente as mesmas condições para a independência que na Escócia”, considera Springford, que recorda os 10 bilhões de libras (12 bilhões de dólares, 11 bilhões de euros) de déficit da Irlanda do Norte cobertos atualmente pelo Reino Unido.

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