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Número de refugiados e deslocados dobra em dez anos e sobe para 82 milhões

Mais de dois terços vêm de Síria, Venezuela, Afeganistão, Sudão do Sul e Mianmar, diz agência da ONU

(Foto: MNWM / AFP)
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O número de pessoas deslocadas em todo o mundo devido a conflitos e crises dobrou em dez anos, atingindo 82,4 milhões em 2020, um recorde, apesar da pandemia de Covid-19.

De acordo com o relatório anual da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), divulgado nesta sexta-feira 18, o número de refugiados, pessoas deslocadas internamente e requerentes de asilo aumentou 4% no ano passado, ante o número já excepcional de 79,5 milhões no final de 2019.

O balanço de 2020 representa o nono ano de um aumento contínuo no deslocamento forçado de habitantes em todo o mundo. Durante a pandemia, “tudo parou, inclusive a economia, mas guerras, conflitos, violência, discriminação e perseguição – fatores que levam as pessoas a fugir – continuaram”, disse o diretor da Acnur, Filippo Grandi.

Atualmente, 1% da humanidade está desabrigada e há duas vezes mais “pessoas desenraizadas” do que havia dez anos atrás, quando o número total chegava a cerca de 40 milhões, destaca a Acnur. O contingente de refugiados fora de seus países atingiu, no final de 2020, 30,3 milhões de pessoas. Desse total, 5,7 milhões eram palestinos e 3,9 milhões venezuelanos. Os solicitantes de asilo representavam 4,1 milhões de pessoas.

Segundo o diretor da Acnur, “o grande salto diz respeito ao número de deslocados internos”, que já chega a 48 milhões de pessoas, “um dado sem precedentes”, sublinhou Grandi durante a apresentação do relatório. Causado principalmente pelas crises na Etiópia, no Sudão, em países da região africana do Sahel, em Moçambique, no Iêmen, Afeganistão e na Colômbia, o número de deslocados internos aumentou em mais de 2,3 milhões no ano passado.

Apesar da pandemia e dos apelos por um cessar-fogo global do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, os conflitos continuam assustando as pessoas. O relatório também observa que, no auge da pandemia em 2020, mais de 160 países fecharam suas fronteiras e 99 deles não abriram exceções para aqueles que buscavam proteção.

“Abordagem egoísta”

No ano passado, mais de dois terços de todos os que fugiram para o exterior vieram de apenas cinco países: Síria (6,7 milhões), Venezuela (4 milhões), Afeganistão (2,6 milhões), Sudão do Sul (2,2 milhões) e Mianmar (1,1 milhão).

Os jovens, meninas e meninos, menores de 18 anos representam 42% de todas as pessoas desenraizadas. De acordo com as estimativas da Acnur, quase um milhão de crianças nasceram com o status de refugiadas entre 2018 e 2020.

“A tragédia de tantas crianças nascidas no exílio deve ser motivo suficiente para se fazer muito mais para prevenir e acabar com os conflitos e a violência”, principalmente porque o retorno é sempre muito difícil, afirmou Filippo Grandi. Em 2020, cerca de 3,2 milhões de pessoas deslocadas internamente e apenas 251.000 refugiados conseguiram voltar para suas casas, uma diminuição de 40% e 21%, respectivamente, em comparação com 2019.

O reassentamento de refugiados também diminuiu drasticamente, apenas 34.400 pessoas, o nível mais baixo em 20 anos.

“As soluções exigem que líderes em todo o mundo e pessoas com influência deixem de lado suas diferenças, acabem com uma abordagem egoísta da política e, em vez disso, foquem na prevenção e resolução de conflitos, bem como no respeito aos direitos humanos”, disse Grandi.

Pelo sétimo ano consecutivo, a Turquia acolheu a maior população de refugiados do mundo (3,7 milhões), seguida por Colômbia (1,7 milhões), Paquistão (1,4 milhões), Uganda (1,4 milhões) e Alemanha (1,2 milhões).

Conferência arrecada mais de US$ 1,5 bilhão para venezuelanos

Mais de 30 países, liderados pelos Estados Unidos, prometeram mais de US$ 1,5 bilhão para apoiar os venezuelanos que fugiram do país em decorrência da prolongada crise política e econômica na Venezuela. As propostas de doação foram feitas na quinta-feira (17) em uma conferência internacional, organizada pelo Canadá com o apoio da ONU. O presidente Nicolás Maduro rotulou o evento de “farsa”.

A meta foi superada com o compromisso de 30 países de contribuir com US$ 954 milhões, além de US$ 600 milhões em empréstimos do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Os principais doadores foram os Estados Unidos, com US$ 400 milhões, seguidos pela União Europeia (US$ 180 milhões), Alemanha (US$ 97 milhões), Canadá (US$ 94 milhões) e Espanha (US$ 60 milhões). O evento também reuniu novos doadores, como Austrália, Chipre, Letônia, Lituânia, Polônia e Nova Zelândia.

A Venezuela está em recessão há oito anos e sua crise política se agravou em janeiro de 2019, quando o líder da oposição Juan Guaidó, então presidente do Parlamento, se autoproclamou presidente interino do país e obteve o reconhecimento de parte da comunidade internacional, embora não tenha conseguido concretizar seu projeto.

*Com informações da AFP 

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