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Novo “governo de batalha” ou guinada para a direita?

Após a surra levada pelo seu PS nas municipais, o presidente francês François Hollande nomeia premier o “linha-dura” Manuel Valls. Por Gianni Carta, de Paris

Em imagem de 22 de janeiro de 2012, o então diretor de campanha Manuel Valls ajeita a gravata do candidato Hollande
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Menos de 24 horas após seu Partido Socialista ter perdido 155 cidades nas municipais encerradas no domingo 30, o presidente François Hollande pediu para o ministro do Interior, Manuel Valls, formar um novo governo. Diante do quadro negro para o presidente menos popular da V República era preciso surpreender com rapidez o povo. A conservadora União por um Movimento Popular (UMP), como disse seu líder Jean-François Copé, cobriu a França com uma onda azul, a cor da agremiação. Mais alarmante foi o fato de a Frente Nacional, a legenda de extrema-direita, ter vencido 13 prefeituras. Com sua retórica anti-imigração e antieuropeia, a FN se tornou a terceira agremiação da França.

Diante dessa guinada para a direita dos eleitores, Hollande tomou uma decisão. Concedeu a Valls o cargo de premier com sede no Hotel Matignon, até segunda-feira 31 ocupado por Jean-Marc Ayrault.

O novo premier Valls, de 51 anos, integra, como Hollande, a linha social-democrata do partido – eufemismo para liberal. E assim, Hollande confirma a adoção de uma estratégia econômica mais voltada para programas de austeridade, a única opção proposta por Bruxelas para tirar da crise países da Zona do Euro. Com o nível de desemprego em ascensão, poder aquisitivo em queda livre e crescimento insignificante, os franceses se posicionaram contra Hollande de duas maneiras: votaram contra o partido do presidente ou não compareceram às urnas.

O único consolo de Hollande foi a vitória da socialista Anne Hidalgo na disputa pela prefeitura de Paris. O que comprova a presença maciça das classes médias da esquerda mansa, os chamados bobos, os bourgeois-bohèmes.

Nem todos aprovaram a escolha de Valls, também conhecido como o premier flic, primeiro policial, do país. A começar pela ala esquerdista do Partido Socialista. Ministros verdes, que fazem (ou faziam) alianças com o PS, já avisaram: não farão parte do novo governo. Líderes sindicais estão inquietos. Marine Le Pen, líder da FN, disse que Hollande criou uma “coabitação”. Coabitações, diga-se, ocorrem quando o presidente tem uma inclinação ideológica diferente daquela do premier. Em miúdos, Le Pen insinuou que Valls é de direita.

Nascido em Barcelona, Valls, filho de um pintor antifranquista só obteve a nacionalidade francesa aos 20 anos. De fato, ele é um social-liberal. Há quem o chame de Nicolas Sarkozy socialista. Assim como o ex-presidente direitista, filho de húngaro, Valls nasceu em Barcelona.

Embora Sarkozy tenha nascido na França, franceses com raízes em outros países tendem a ser mais franceses que os franceses. Ironicamente, são duríssimos com os imigrantes. Como ministro do Interior, Sarkozy encarnou o papel com exagerado zelo. No mesmo posto, Valls parece ter sido ainda mais duro. Expulsou mais imigrantes irregulares e em particular os roma do que Sarkozy. Em setembo, Valls disse que os roma têm “estilos de vida diferentes do nosso”. E emendou: “Eles deveriam voltar para a Romênia ou Bulgária”.

Casado com uma violinista, Valls, ex-prefeito de Evry, nos subúrbios de Paris, não é dotado, dizem, de grande senso de humor. E orgulhoso. Ambicioso. Perigoso para os rivais. De certa forma, até para Hollande. Isso porque Valls certamente se candidatará, como o fez em 2012, às eleições presidenciais de 2017. No entanto, como diz Éric Decouty, do diário Libération, “Valls encarna a coerência e o profissionalismo que inexistiram até agora”.

Ademais, a direita o adora.

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