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‘Nova’ oposição pode abrir caminho para uma intervenção externa na Síria

Com apoio de Europa, EUA e países árabes, opositores sírios criam coalizão contra Assad. Se ela tiver sucesso, o ditador terá problemas ainda mais sérios

Rebelde do batalhão Halab al-Shabah, parte da brigada islamista Al-Tawhid, atira contra tropas do governo Assad em Alepo, no norte da Síria. Foto: Javier Manzano / AFP
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Uma reunião de sete dias em Doha, capital do Catar, pode entrar para a história como o passo decisivo na derrocada do regime de Bashar al-Assad na Síria. No domingo 11, grupos adversários de Assad na guerra civil dos últimos meses anunciaram a formação de uma nova coalizão de oposição cuja objetivo é organizar os esforços contra o regime e, por fim, substituí-lo. O novo grupo tem o apoio diplomático da Europa, do mundo árabes e dos Estados Unidos, mas nos próximos meses precisará provar sua competência política para atrair o apoio financeiro e militar. Se conseguir fazer isso, abrirá espaço para um intervenção externa capaz de decidir o conflito.

O novo grupo, batizado de Coalizão Nacional Síria para a Oposição e as Forças Revolucionárias, surgiu por conta da pressão das potências ocidentais e dos países árabes. A ânsia desses governos para encontrar um parceiro de peso na luta contra Assad foi revelada pela rapidez do apoio à nova coalizão. Horas depois do fim do encontro em Doha, os governos dos Estados Unidos desejou boa sorte ao grupo na unificação da oposição. Os países árabes, majoritariamente contrários a Assad, foram além. Na segunda-feira 12, o Conselho de Cooperação do Golfo (Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã) e a Liga Árabe classificaram a nova coalizão como a “legítima representante” da oposição síria. Na terça-feira 13, a França fez o mesmo. O otimismo, entretanto, é forçado. Há uma certa desconfiança no ar, revelada pelas palavras do ministro do Exterior da Alemanha, Guido Westerwelle. Segundo ele, a Europa espera que o novo grupo se torne uma “alternativa crível ao regime”, algo que não ocorreu ainda.

O otimismo dos países árabes não passa de um mero desejo porque, para se tornar uma opção viável, a nova coalizão precisará provar sua competência. O primeiro desafio é político. O Conselho Nacional Sírio (CNS), tido como principal grupo opositor, não conseguiu unificar as forças anti-Assad por conta de sua falta de representatividade. O CNS era formado por uma maioria de sírios expatriados, sem influência sobre aqueles que estavam na linha de frente. Isso dificultou o repasse de armas e dinheiro para os combatentes rebeldes. Ainda assim, por conta de sua importância, o CNS ficou com 22 das 60 vagas do novo conselho, mas terá a companhia de representantes de cada uma das grandes cidades sírias, além de outros dissidentes, capazes de reportar à liderança da oposição as necessidades dos rebeldes.

Um obstáculo para a nova oposição pode ser a Irmandade Muçulmana da Síria. O grupo religioso, que chegou ao poder no Egito e na Tunísia depois da Primavera Árabe, tem uma pequena base dentro da Síria, mas desfrutava de influência desproporcional dentro do CNS. Isso alienava setores da oposição que viam com preocupação a hostilidade do grupo a minorias e mulheres. Agora, pelo menos no papel, a Irmandade teve seu poder reduzido. O moderado Ahmed Moaz al-Khatib, um clérigo sunita (mesma tendência religiosa da Irmandade), foi eleito o presidente da coalizão, mas líderes de minorias religiosas e étnicas, como os curdos, foram incluídos no grupo como uma tentativa de torná-lo mais plural.

O segundo desafio da nova oposição síria é transformar essa união política em uma coalizão militar. O Exército Livre da Síria, órgão opositor formado por militares desertores, não conseguiu criar uma força coesa para lutar contra as tropas ainda fieis a Assad. Em muitas cidades, como Alepo, a batalha é liderada por grupos de tendência islâmica radical. Como as lideranças militares são, em sua maioria, seculares, não há diálogo entre os grupos. A influência dos combatentes religiosos sírios também fez com que as potências ocidentais reduzissem ao mínimo o repasse de armas à oposição, temendo que, no futuro, elas fossem usadas contra seus interesses. O resultado foi o pior possível. A Síria tem hoje diversas facções jihadistas internacionais, algumas alinhadas ideologicamente à rede terrorista Al-Qaeda. Com mais armas e dinheiro que os grupos sírios, esses jihadistas globais passaram a realizar massacres contra as tropas de Assad, tornando real o delírio do ditador, de que seu governo estava diante de “terroristas”.

A formação de uma coalizão opositora mais ampla pode ser um passo decisivo na história da Síria. O conflito teve início em março de 2011, com protestos pacíficos na cidade de Deraa, no sul do país. A violenta repressão de Assad e a resposta armada dos rebeldes transformaram a revolução numa guerra civil. Os inúmeros grupos contrários ao regime foram, até aqui, incapazes de lutar sob uma única bandeira, o que afastou o apoio externo. Sem armas e dinheiro de árabes, europeus e norte-americanos, a oposição não conseguirá derrotar os tanques, helicópteros e jatos de Assad. A intenção de intervir é clara. A Turquia pede o estabelecimento de zonas de exclusão aérea. David Richards, chefe do Exército britânico, revelou no domingo 11 que há planos de contingência para uma “muito limitada” operação na Síria. Na terça-feira 13, François Hollande, presidente da França, afirmou que seu governo vai analisar a entrega de armas para a oposição, assim que se tornar o “governo legítimo” da Síria. Nas Nações Unidas, a Rússia e a China, aliadas da Síria, continuarão se opondo ao que consideram ser uma ação ilegal para a mudança de regime, mas o que falta para a intervenção é a união política e militar dos opositores sírios de Assad. Se isso ocorrer com a formação da nova coalizão, o destino do ditador estará selado.

Uma reunião de sete dias em Doha, capital do Catar, pode entrar para a história como o passo decisivo na derrocada do regime de Bashar al-Assad na Síria. No domingo 11, grupos adversários de Assad na guerra civil dos últimos meses anunciaram a formação de uma nova coalizão de oposição cuja objetivo é organizar os esforços contra o regime e, por fim, substituí-lo. O novo grupo tem o apoio diplomático da Europa, do mundo árabes e dos Estados Unidos, mas nos próximos meses precisará provar sua competência política para atrair o apoio financeiro e militar. Se conseguir fazer isso, abrirá espaço para um intervenção externa capaz de decidir o conflito.

O novo grupo, batizado de Coalizão Nacional Síria para a Oposição e as Forças Revolucionárias, surgiu por conta da pressão das potências ocidentais e dos países árabes. A ânsia desses governos para encontrar um parceiro de peso na luta contra Assad foi revelada pela rapidez do apoio à nova coalizão. Horas depois do fim do encontro em Doha, os governos dos Estados Unidos desejou boa sorte ao grupo na unificação da oposição. Os países árabes, majoritariamente contrários a Assad, foram além. Na segunda-feira 12, o Conselho de Cooperação do Golfo (Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã) e a Liga Árabe classificaram a nova coalizão como a “legítima representante” da oposição síria. Na terça-feira 13, a França fez o mesmo. O otimismo, entretanto, é forçado. Há uma certa desconfiança no ar, revelada pelas palavras do ministro do Exterior da Alemanha, Guido Westerwelle. Segundo ele, a Europa espera que o novo grupo se torne uma “alternativa crível ao regime”, algo que não ocorreu ainda.

O otimismo dos países árabes não passa de um mero desejo porque, para se tornar uma opção viável, a nova coalizão precisará provar sua competência. O primeiro desafio é político. O Conselho Nacional Sírio (CNS), tido como principal grupo opositor, não conseguiu unificar as forças anti-Assad por conta de sua falta de representatividade. O CNS era formado por uma maioria de sírios expatriados, sem influência sobre aqueles que estavam na linha de frente. Isso dificultou o repasse de armas e dinheiro para os combatentes rebeldes. Ainda assim, por conta de sua importância, o CNS ficou com 22 das 60 vagas do novo conselho, mas terá a companhia de representantes de cada uma das grandes cidades sírias, além de outros dissidentes, capazes de reportar à liderança da oposição as necessidades dos rebeldes.

Um obstáculo para a nova oposição pode ser a Irmandade Muçulmana da Síria. O grupo religioso, que chegou ao poder no Egito e na Tunísia depois da Primavera Árabe, tem uma pequena base dentro da Síria, mas desfrutava de influência desproporcional dentro do CNS. Isso alienava setores da oposição que viam com preocupação a hostilidade do grupo a minorias e mulheres. Agora, pelo menos no papel, a Irmandade teve seu poder reduzido. O moderado Ahmed Moaz al-Khatib, um clérigo sunita (mesma tendência religiosa da Irmandade), foi eleito o presidente da coalizão, mas líderes de minorias religiosas e étnicas, como os curdos, foram incluídos no grupo como uma tentativa de torná-lo mais plural.

O segundo desafio da nova oposição síria é transformar essa união política em uma coalizão militar. O Exército Livre da Síria, órgão opositor formado por militares desertores, não conseguiu criar uma força coesa para lutar contra as tropas ainda fieis a Assad. Em muitas cidades, como Alepo, a batalha é liderada por grupos de tendência islâmica radical. Como as lideranças militares são, em sua maioria, seculares, não há diálogo entre os grupos. A influência dos combatentes religiosos sírios também fez com que as potências ocidentais reduzissem ao mínimo o repasse de armas à oposição, temendo que, no futuro, elas fossem usadas contra seus interesses. O resultado foi o pior possível. A Síria tem hoje diversas facções jihadistas internacionais, algumas alinhadas ideologicamente à rede terrorista Al-Qaeda. Com mais armas e dinheiro que os grupos sírios, esses jihadistas globais passaram a realizar massacres contra as tropas de Assad, tornando real o delírio do ditador, de que seu governo estava diante de “terroristas”.

A formação de uma coalizão opositora mais ampla pode ser um passo decisivo na história da Síria. O conflito teve início em março de 2011, com protestos pacíficos na cidade de Deraa, no sul do país. A violenta repressão de Assad e a resposta armada dos rebeldes transformaram a revolução numa guerra civil. Os inúmeros grupos contrários ao regime foram, até aqui, incapazes de lutar sob uma única bandeira, o que afastou o apoio externo. Sem armas e dinheiro de árabes, europeus e norte-americanos, a oposição não conseguirá derrotar os tanques, helicópteros e jatos de Assad. A intenção de intervir é clara. A Turquia pede o estabelecimento de zonas de exclusão aérea. David Richards, chefe do Exército britânico, revelou no domingo 11 que há planos de contingência para uma “muito limitada” operação na Síria. Na terça-feira 13, François Hollande, presidente da França, afirmou que seu governo vai analisar a entrega de armas para a oposição, assim que se tornar o “governo legítimo” da Síria. Nas Nações Unidas, a Rússia e a China, aliadas da Síria, continuarão se opondo ao que consideram ser uma ação ilegal para a mudança de regime, mas o que falta para a intervenção é a união política e militar dos opositores sírios de Assad. Se isso ocorrer com a formação da nova coalizão, o destino do ditador estará selado.

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