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Norte-coreanos pagam caro e correm riscos para fugir do país

O novo líder norte-coreano, Kim Jong-un, conseguiu frear, porém não completamente, o fluxo de refugiados do chamado “paraíso de trabalhadores”. Isolado, o regime comunista vê fugitivos como traidores do Estado

O novo líder norte-coreano, Kim Jong-un, conseguiu frear, porém não completamente, o fluxo de refugiados do chamado "paraíso de trabalhadores"
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No final de maio, nove jovens norte-coreanos com idades entre 14 e 22 anos foram presos no Laos e repatriados para o país natal, passando pela China. O caso voltou a chamar a atenção mundial para a situação dos refugiados da Coreia do Norte.

A Organização das Nações Unidas criticou o Laos e a China por não terem seguido as diretrizes da Convenção de Genebra, que regula o estatuto de refugiados no mundo e proíbe o repatriamento de imigrantes ilegais se estes correm riscos de prisão ou graves punições nos países de origem por causa da fuga.

Na Coreia do Norte, os refugiados são considerados traidores do Estado e podem ser condenados a até cinco anos de trabalhos forçados. Casos mais “graves”, como os de “atividades subversivas contra o Estado”, podem resultar em prisão perpétua ou até mesmo pena de morte.

Especialistas sul-coreanos do Centro de Dados sobre Direitos Humanos na Coreia do Norte, em Seul, calculam que 5% do número estimado de presos nos campos de trabalhos forçados norte-coreanos – onde estão de 100 mil a 200 mil pessoas – sejam fugitivos do Estado.

25 mil na Coreia do Sul

Até pouco tempo atrás, o Laos – assim como a Tailândia – era considerado uma parada relativamente segura para os refugiados norte-coreanos que querem chegar à Coreia do Sul pela China e pelo Sudeste Asiático.

A China, porém, considera os imigrantes ilegais do país vizinho e aliado como refugiados econômicos. Por essa razão, eles não estariam sob a proteção da Convenção da ONU de 1951.

Durante a Guerra Fria, o número de refugiados norte-coreanos no sul manteve-se estável e relativamente baixo. Entre a Guerra da Coreia (1950-1953) e 1999, foram contados 1.100 refugiados norte-coreanos. Até 2002, porém, mais de 2 mil somara-se a eles e, apenas em 2009, cerca de 3 mil norte-coreanos fugiram para o sul.

De acordo com o Ministério da Reunificação sul-coreano, aproximadamente 25 mil norte-coreanos vivem atualmente na Coreia do Sul. Haveria mais 5 mil em outros países. Nas áreas de fronteira com a China, o total de refugiados é desconhecido.

Phil Robertson, do escritório asiático da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, afirmou em entrevista à DW que a maioria dos norte-coreanos que deixam o país ilegalmente opta pela rota até o Laos através da China. Vários dos fugitivos passam pelo Camboja, pelo Laos e pela Tailândia antes de chegarem à Coreia do Sul.

Depois de cruzarem o rio Mekong, frequentemente os refugiados que chegam à Tailândia se registram na polícia do novo país, onde são reconhecidos como refugiados. Porém, depois de um curto processo jurídico por causa da entrada ilegal no país, os norte-coreanos são encaminhados à embaixada sul-coreana.

Riscos para as famílias

O novo líder norte-coreano, Kim Jong-un, conseguiu frear, porém não completamente, o fluxo de refugiados do chamado “paraíso de trabalhadores”

As famílias dos fugitivos também correm riscos quando norte-coreanos decidem deixar o regime comunista para trás. Se um dos refugiados faz parte de uma família considerada “insegura” ou “hostil” ao Estado, os parentes podem ser punidos com trabalhos forçados ou até receber a pena de morte. Nas famílias em melhor condição social, a punições são menos sérias.Evan Kim fugiu com seus pais quando tinha 9 anos. “Nossos parentes foram afastados de seus empregos por um ano e perderam status social. Mas, uma vez que pertencíamos à classe privilegiada do país, a punição recebida não foi tão severa como costuma ser para outras famílias”, explicou Kim, em entrevista à DW.

Fuga cada vez mais cara e difícil

Os norte-coreanos que desejam deixar seu país não têm somente o apoio de missionários ou ativistas de direitos humanos que agem voluntariamente e que, por isso, dependem de doações. Existe auxílio profissional para a fuga. Segundo a organização International Crisis Group, o custo varia entre 2.500 e 15.000 dólares.

Com frequência, norte-coreanos no sul do país ou que vivem na província chinesa fronteiriça de Jilin estão dispostos a pagar essas quantias para ajudar parentes e amigos a escapar do regime de Kim Jong-un. Alguns norte-coreanos conseguem o dinheiro com comércio ilegal, ou combinam o pagamento com os agentes profissionais para depois que eles chegarem ao destino e conseguirem um trabalho.

Sung Chul trabalhou por um ano para poder pagar os 3.500 dólares da fuga. Já Hana, que não quis revelar o nome verdadeiro à DW por temer represálias aos pais, que ainda vivem na Coreia do Norte, afirmou ter trabalhado por sete anos na China com documentos falsos para pagar a dívida de 8 mil dólares. Só então ela conseguiu ir para a Coreia do Sul.

Greg Scarlatoiu, do Comitê de Direitos Humanos na Coreia do Norte, de sigla inglesa HRNK e com sede em Washington, afirmou à DW que o dinheiro tem um papel cada vez mais importante nas tentativas de fuga de norte-coreanos. Muitos dos traficantes de pessoas são norte-coreanos – ou norte-coreanos que vivem na China – com conexões com as autoridades de Pyongyang. Isso contribuiria para encarecer a fuga.

Além disso, o novo líder norte-coreano, Kim Jong-un, estabeleceu controles mais rígidos nas fronteiras, o que parece estar dando resultados. Em 2012, 1.500 norte-coreanos teriam conseguido fugir do país.

Autoria: Chang Yun-chiung (rc)
Edição: Renate Krieger

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