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No Fórum de Davos, guerras e conflitos tornam perspectivas econômicas mais sombrias

o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi convidado, mas não vai comparecer e será representado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva

Foto: Benedikt von Loebell/World Economic Forum
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A abertura do Fórum Econômico Mundial acontece nesta segunda-feira 15, em Davos, na Suíça, com previsões sombrias para o ano. Não apenas devido às questões econômicas, mas especialmente por conta das guerras e conflitos em andamento, que preocupam o mundo. Da parte do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi convidado, mas não vai comparecer e será representado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Nem as boas notícias, como o recuo da inflação e a perspectiva de uma queda nas taxas de juro, são suficientes para elevar os ânimos em Davos. Segundo uma pesquisa feita antes do fórum sobre os grandes riscos projetados, a maioria dos participantes está pessimista para 2024, mas também para os próximos dez anos. Em 2023, o grupo permaneceu otimista para o médio prazo, mas depois da pandemia e da guerra na Ucrânia, que afetaram as edições anteriores, eles acreditam que temas novos e igualmente preocupantes deixam o futuro mais nebuloso.

A desinformação na política é o primeiro risco para 2024. As fake news podem manipular as múltiplas eleições planejadas em todo o mundo, ainda mais com as novas ferramentas de inteligência artificial (IA). O uso indevido da IA ​​é, aliás, um dos receios expressos na pesquisa. As eleições presidenciais americanas e o risco de uma nova interferência russa na campanha concentram os maiores receios. Os líderes temem qualquer coisa que possa semear o caos.

Desastres climáticos

Segunda grande preocupação para 2024 são os eventos climáticos extremos. As inundações, as secas, os incêndios e as tempestades que ocorrem com mais frequência são acontecimentos cada vez mais perturbadores na vida das empresas. A crise climática é, também, o risco mais frequentemente citado pelos participantes da pesquisa a médio prazo. As perturbações, sejam políticas, geopolíticas ou climáticas, são percebidas como ameaças à coesão social. O agravamento da divisão social é um tema recorrente, aparecendo na terceira posição entre os assuntos de 2024. Estas questões serão discutidas em Davos com chefes e líderes governamentais.

As falas destes representantes são, sem dúvida, o que mais atrai os participantes, que poderão ouvir ou discutir, entre outros, com Sam Altman, o fundador da OpenAI e Satya Nadella, diretor-executivo da Microsoft. Mas com duas guerras como pano de fundo e tensões no Mar Vermelho, o fórum será dominado pela geopolítica, com os holofotes centrados nos 60 chefes de estado ou de governo esperados. Entre os presentes confirmados estão o presidente francês Emmanuel Macron, em 17 de janeiro, Volodymyr Zelensky, nesta segunda-feira, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, o presidente israelense e até os líderes do Golfo, da Arábia Saudita, do Catar e dos Emirados.

Mais bilionários

Por ocasião do fórum, a associação Oxfam apresenta o seu relatório de 2024 “Multinacionais e desigualdades globais” e destaca duas conclusões: os bilionários nunca foram tão numerosos e as desigualdades entre os países do sul e do norte explodiram. Além disso, 60% da humanidade ficou mais pobre em 2023 e 9 em cada 10 pessoas mais pobres vivem em um país do sul.

Por outro lado, dois terços dos multimilionários ainda vivem num país do norte. E suas fortunas aumentaram desde 2020, em média, três vezes mais do que a inflação. A fortuna dos cinco homens mais ricos do mundo aumentou entre 2020 e 2023 de US$ 405 bilhões para US$ 869 bilhões, e a dos bilionários aumentou US$ 3,3 bilhões, lamenta a ONG.

Para a ONG, as multinacionais, dirigidas por grandes fortunas, são responsáveis pelas diferenças e o empobrecimento. “Ao pressionarem os trabalhadores com salários que aumentam menos rapidamente que a inflação, ao evitarem impostos, ao privatizarem o Estado e ao participarem fortemente no aquecimento global, as grandes empresas estão ampliando as desigualdades”, escreve a organização internacional.

Diante desta observação, Alexandre Poidatz, chefe de Desigualdade e Clima da Oxfam França, faz um apelo às autoridades públicas: “Pedimos o retorno do Estado protetor e regulador. Há apelos para regular estas multinacionais e implementar uma tributação mais justa”, disse.

A Oxfam propõe a supervisão dos lucros dos acionistas, o ISF (Imposto sobre a fortuna imobiliária) climático e o condicionamento da ajuda pública. “É possível – e alguns países já estão fazendo, Chile, Colômbia, Espanha – tributar mais os muito ricos. E temos a sorte de ter este ano a presidência do G20 exercida pelo Brasil, que colocará esse assunto na agenda e que poderá tomar uma decisão em julho deste ano”, destacou a organização.

Uma notícia animadora, mas que ainda precisa ser acompanhada pelos países do Norte, ricos em multinacionais.

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