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No discurso da vitória, Milei ataca a ‘casta’ – mas afaga Macri e Bullrich
O ultradireitista afirmou que, com sua agenda, a Argentina pode ser uma ‘potência mundial’ em 35 anos
O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, afirmou que este domingo 19 marca “o fim da decadência” do país, após derrotar o ministro da Economia, Sergio Massa.
Milei voltou a atacar o que chama de “casta”, mas agradeceu ao ex-presidente Mauricio Macri e à ex-presidenciável Patricia Bullrich, neoliberais e representantes da direita “tradicional”.
Macri e Bullrich, terceira colocada no primeiro turno, rapidamente declararam apoio a Milei na disputa contra Massa.
A aliança de ocasião foi firmada poucas semanas depois de Bullrich denunciar Milei ao ser acusada por ele de instalar bombas em jardins de infância e de pertencer à guerrilha Montoneros nos anos 1970.
“Você sabe que mentiu. Eu o denunciei para que a verdade seja conhecida. Não vale tudo por um voto, sobretudo algo grave que afeta a mim, minha família e meus netos. Devemos concorrer sem mentir”, disse a ex-ministra da Segurança, na ocasião.
Em um pronunciamento com seus arroubos característicos neste domingo, Milei declarou que seu governo será “implacável com os que querem usar a força para defender seus privilégios”. Ele tomará posse em 10 de dezembro, em substituição ao peronista Alberto Fernández.
“Não viemos inventar nada, mas fazer as coisas que a história demonstrou que funcionam. O mesmo que fizemos no século XIX no nosso país. Viemos abraçar as ideias da liberdade, aquelas que garantem a prosperidade dos argentinos”, alegou. “Se abraçarmos essas ideias, não só poderemos solucionar os problemas de hoje, mas dentro de 35 anos voltaremos a ser uma potência mundial.”
O presidente eleito também disse ser necessário “avançar rapidamente com as mudanças estruturais de que a Argentina necessita”, sob o risco de “seguirmos direto à pior crise nossa história”.
“Basta de modelo empobrecedor da casta. Hoje voltamos a abraçar o modelo da liberdade para voltarmos a ser uma potência mundial.”
Em seu discurso, Milei ignorou o fato de que terá um cenário complexo no Congresso.
Em outubro, parte da Câmara e do Senado foi renovada. A Câmara é composta por 257 representantes, dos quais 130 foram renovados neste ano. Já o Senado tem 72 representantes, e a renovação foi de 24 cadeiras.
Milei chega à Presidência pela coalizão La Libertad Avanza. Na Câmara, o bloco do candidato tinha apenas três representantes até este ano, mas, a partir da nova legislatura, terá 38. Ainda assim, a coalizão não será a maior da Casa.
Isso porque o bloco peronista Unión Por La Patria, que será oposição, terá 108 representantes. O segundo maior grupo será o de Juntos Por El Cambio, que se dividiu no apoio a Milei no segundo turno, com 93 representantes.
Já no Senado, La Libertad Avanza terá oito representantes. Até a atual legislatura, o grupo não tinha nenhum nome na Casa Alta. Apesar do avanço, o bloco de Milei será menor que a coalizão peronista, que terá 34 senadores, e que Juntos Por El Cambio, com 24.
A falta de uma maioria fará com que o presidente eleito tenha de negociar com os demais blocos para a aprovação dos projetos.
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