Mundo
Nicarágua cancela registro de 16 ONGs, a maioria religiosas
Os bens móveis e imóveis dessas nove associações serão transferidos para o nome do Estado


A Nicarágua cancelou, nesta terça-feira (16), o registro de pessoa jurídica de nove ONGs, duas delas católicas e quatro evangélicas, por não cumprir com a prestação de contas financeiras, resultando na transferência de seus bens para o Estado.
Uma resolução do Ministério do Interior encerrou as organizações, conforme publicado no Diário Oficial La Gaceta, onde também foi divulgada outra decisão que aprova o cancelamento do registro de sete ONGs adicionais por “dissolução voluntária de membros”.
As nove ONGs não apresentaram detalhes de seus balanços financeiros por períodos que variam de um a 14 anos e ficaram “em desacordo com suas obrigações, conforme as leis que as regulam, e obstruindo o controle e supervisão da Direção Geral de Registro e Controle de Organismos sem Fins Lucrativos”, afirmou a publicação.
As ONGs católicas canceladas são a Fundação Misioneros Consagrados del Santísimo Salvador e a Associação Misioneros de la Compañía de María (Misioneros Montfortianos), e as evangélicas Associação Misión Pentecostés Jehová Proveerá, Associação Misión Apostólica Evangelística y Profética, Fundação Iglesia Familiar Nueva Restauración e Associação Misiones Transmundiales de Nicaragua.
Também foi ilegalizada a Fundação Società Dante Alighieri de Nicaragua, dedicada ao ensino da língua italiana, a Associação Niños del Fortín, que trabalhava com crianças em risco no departamento de León, a oeste de Manágua, e o Club Campestre da cidade de Estelí, ao norte.
Os bens móveis e imóveis dessas nove associações serão transferidos para o nome do Estado, de acordo com a legislação que regula as organizações sem fins lucrativos, acrescentou.
O fechamento das associações ocorre em um contexto legal mais rigoroso para as ONGs na Nicarágua, onde o governo do presidente Daniel Ortega fechou cerca de 3.500 desde 2018.
Ao mesmo tempo, o Ministério do Interior aprovou o fechamento de outras sete organizações a pedido de seus membros, que alegaram falta de recursos ou fundos para seus projetos.
Entre essas últimas estão a Fundação 21 Síndrome de Down Nicaragua, a Associação Grupo de Profissionais de Apoio Emocional e várias associações evangélicas.
A Nicarágua endureceu as leis após os protestos contra o governo em 2018, que em três meses de bloqueios de ruas e confrontos entre opositores e simpatizantes resultaram em mais de 300 mortes, segundo a ONU.
O governo, que considerou os protestos como uma tentativa de golpe de Estado promovido por Washington, alega que algumas ONGs financiaram os protestos.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Nicarágua retira seu embaixador na Argentina por chegada de Milei ao poder
Por AFP
Milhares comemoram 44 anos da revolução sandinista na Nicarágua
Por AFP
Lula defende diálogo com Venezuela e Nicarágua no Mercosul: ‘O que não pode é isolar’
Por CartaCapital