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Netanyahu promete que nunca haverá Estado Palestino após reconhecimento de Reino Unido, Canadá e Austrália

O premiê israelense reagiu ao reconhecimento do Estado da Palestina pelos três países, oficializado neste domingo

Netanyahu promete que nunca haverá Estado Palestino após reconhecimento de Reino Unido, Canadá e Austrália
Netanyahu promete que nunca haverá Estado Palestino após reconhecimento de Reino Unido, Canadá e Austrália
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, discursa para membros de uma delegação bipartidária de legisladores americanos no Ministério das Relações Exteriores, em Jerusalém, em 15 de setembro de 2025. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse em 15 de setembro que Washington estava firme em seu apoio à busca de seu aliado Israel na guerra de Gaza e pediu a erradicação do Hamas. Foto: DEBBIE HILL / POOL / AFP
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O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu neste domingo 21 que nunca haverá um Estado palestino e que Israel ampliará seus assentamentos na Cisjordânia, em resposta ao reconhecimento formal da soberania palestina por parte do Reino Unido, Canadá e Austrália.

O premiê israelense reagiu ao reconhecimento do Estado da Palestina pelos três países, oficializado neste domingo, enquanto se espera que outras nações, como Portugal e França, deem o mesmo passo — uma decisão histórica, mas de caráter simbólico.

“Tenho uma mensagem clara para esses dirigentes que reconheceram um Estado palestino depois do horrendo massacre de 7 de outubro: vocês estão dando uma enorme recompensa ao terrorismo”, afirmou Netanyahu em declarações emitidas por seu gabinete.

“E tenho outra mensagem para vocês: isso não acontecerá. Não será estabelecido nenhum Estado palestino a oeste do rio Jordão”, acrescentou.

Ameaça à Cisjordânia

Netanyahu foi ainda mais longe e prometeu ampliar os assentamentos judaicos nos territórios ocupados da Cisjordânia.

O primeiro-ministro britânico, Keith Starmer, explicou que tomou a decisão para “reviver a esperança de paz e de uma solução de dois Estados”, o de Israel e o da Palestina.

Por sua vez, o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, apresentou o mesmo argumento, afirmando em um comunicado que a medida se insere “no marco de um esforço internacional coordenado destinado a preservar a possibilidade de uma solução de dois Estados”.

Na Austrália, o chefe de governo, Anthony Albanese, defendeu “as aspirações legítimas e de longa data do povo da Palestina de ter um Estado próprio”.

O Reino Unido e o Canadá são os dois primeiros países do G7, o grupo que reúne as nações mais ricas do mundo, a reconhecer um Estado palestino.

Macron exige a libertação dos reféns

O reconhecimento por parte de aliados históricos de Israel acontece enquanto o Exército israelense intensifica sua ofensiva em Gaza, desencadeada pelo ataque do movimento islamista palestino Hamas, que matou 1.219 pessoas em Israel, a maioria civis, em 7 de outubro de 2023, segundo um levantamento da AFP baseado em fontes oficiais.

A campanha de retaliação israelense matou mais de 65.200 palestinos na Faixa de Gaza, também em sua maior parte civis, de acordo com números do Ministério da Saúde do território — governado pelo Hamas — que a ONU considera confiáveis.

Um número crescente de Estados, por muito tempo próximos a Israel, já deu esse passo simbólico de reconhecer o Estado palestino nos últimos meses, apesar das fortes pressões dos Estados Unidos e de Israel.

Durante uma cúpula nesta segunda-feira (22), liderada por França e Arábia Saudita — que deve tratar do futuro da solução de dois Estados à margem da Assembleia Geral da ONU — uma dezena de países planeja reconhecer formalmente o Estado palestino.

O presidente francês, Emmanuel Macron, destacou em entrevista à emissora americana CBS News, transmitida neste domingo, que o reconhecimento da França em nenhum caso incluirá a abertura de uma embaixada francesa em território palestino até que o Hamas libere os reféns.

“Para nós, será um requisito muito claro, antes de abrir, por exemplo, uma embaixada na Palestina”, disse Macron.

Em Israel, outras vozes também se levantaram contra o reconhecimento do Estado da Palestina.

O Ministério das Relações Exteriores israelense criticou, em comunicado, uma decisão “que não favorece a paz”, e o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, propôs responder com a anexação “imediata” da Cisjordânia.

“Vitória”

O presidente palestino, Mahmud Abbas, considerou que a decisão britânica é “um passo importante e necessário” para “uma paz justa e duradoura”.

Um alto funcionário do Hamas, Mahmud Mardauwi, declarou à AFP que se trata de “uma vitória para os direitos do povo palestino”.

Diante das acusações do governo israelense, Starmer reiterou que sua decisão “não é uma recompensa para o Hamas” e anunciou que adotará novas sanções contra o movimento islamista, reiterando seu chamado à libertação dos reféns ainda em cativeiro e a um cessar-fogo.

Diferenças com os Estados Unidos

Com esse anúncio, o Reino Unido, o Canadá e a Austrália abrem uma fissura com os Estados Unidos, aliado incondicional de Israel, que criticou a cúpula franco-saudita.

Em uma visita de Estado esta semana ao Reino Unido, o presidente americano, Donald Trump, expressou seu desacordo com a decisão do governo britânico.

Aproximadamente três quartos dos 193 Estados membros da ONU reconhecem o Estado palestino, proclamado em 1988 pela liderança palestina no exílio.

Essa mobilização diplomática coincide com uma intensificação da ofensiva de Israel em Gaza, onde o exército israelense lançou na terça-feira uma grande operação para tomar a Cidade de Gaza, o maior centro urbano do território, com o objetivo de aniquilar o Hamas.

O início dessa campanha militar coincidiu com a publicação de um relatório de uma comissão de investigação independente com mandato dado pela ONU, que afirmou que “um genocídio está em curso em Gaza”. Israel rejeitou a acusação e classificou o relatório de “tendencioso e mentiroso”.

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