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Navio atraca na França após 15 dias à deriva e direita critica ‘loucura migratória’

O navio Ocean Viking resgatou os migrantes no Mediterrâneo, na costa da Líbia

Migrantes a bordo do navio de resgate Ocean Viking; Foto: Vincenzo Circosta / AFP
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Depois de passar três semanas no mar em busca de um porto para atracar na Itália, o navio humanitário Ocean Viking, da ONG SOS Mediterrâneo, atracou nesta sexta-feira 11 no porto da base militar de Toulon, no sul da França.

Mais de 600 pessoas foram mobilizadas para receber os 230 migrantes, entre eles centenas de policiais e 16 funcionários da Agência Francesa de Proteção aos Refugiados, auxiliados por intérpretes. Eles vão realizar entrevistas com os passageiros durante todo o final de semana.

Sophie Beau, diretora-geral da ONG SOS Mediterrâneo, disse à RFI que a organização fez 46 pedidos de desembarque, a diversos países europeus. O navio Ocean Viking resgatou os migrantes no Mediterrâneo, na costa da Líbia.

“Discutimos com as autoridades francesas nos últimos dias, mas a resposta demorou muito. Notamos que falta a adoção de um mecanismo conjunto dos países europeus para coordenar o desembarque dos migrantes e evitar que vivenciem situações revoltantes, para eles e para os próprios Estados europeus”, disse.

Após o desembarque, os passageiros, entre eles mais de 50 crianças, serão submetidos a uma “avaliação sanitária” e levados a uma zona provisória internacional, controlada pela polícia de fronteira e reservada para clandestinos, segundo Evence Richard, secretário de Segurança Pública da região Var, onde está situada a base militar.

“Os migrantes não estão autorizados a entrar no território nacional”, acrescentou o diretor-geral dos estrangeiros na França, Eric Jalon. “Eles poderão ficar até 20 dias na área provisória e, em alguns casos, até 26 dias”, declarou.

A Direção Geral da Segurança Interna, a agência de inteligência francesa que inclui, entre outras missões, a prevenção ao terrorismo, deverá verificar a identidade dos migrantes. “Temos uma grande preocupação com a segurança”, disse a porta-voz do Ministério do Interior, Camille Chaize.

Após essas duas etapas, os migrantes devem ser transferidos de ônibus para um abrigo em Hyères, no sudeste, onde aguardarão a tramitação da análise dos pedidos para concessão urgente de asilo. “As pessoas que não cumprem os requisitos para ficar na França ou serem recebidas em outro estado europeus serão enviadas de volta ao seu país de origem”, diz Eric Jalon.

Pelo menos nove outros países europeus receberão os outros passageiros. Entre eles, a Alemanha, que receberá um terço deles, a Croácia, Romênia, Bulgária Lituânia, Malta, Portugal e Luxemburgo.

Este é o primeiro desembarque na França de um navio que ajuda os migrantes no Mediterrâneo, após uma disputa diplomática com a Itália, que se negou a permitir o acesso a seus portos.

“De maneira excepcional recebemos este navio, levando em consideração os 15 dias de espera no mar que as autoridades italianas fizeram os passageiros sofrerem”, declarou na quinta-feira o ministro francês do Interior, Gérald Darmanin.

O ministro francês criticou o comportamento “inaceitável e contrário ao direito internacional” da Itália, que tem um governo de extrema-direita, e alertou para “consequências” nas relações bilaterais. O Ocean Viking tentou inicialmente atracar nas costas da Itália, as mais próximas do local onde os migrantes foram resgatados.

O governo italiano negou o acesso, alegando que outras nações devem assumir uma responsabilidade maior na recepção aos estrangeiros que tentam chegar à Europa a partir do norte da África a cada ano.

Nesta sexta-feira 11, a premiê italiana Georgia Meloni declarou que “a Itália não pode ser o único ponto de desembarque dos navios migrantes que vêm da África e pediu que a questão seja discutida em Bruxelas, em nível europeu. Ela também criticou a postura “agressiva” do governo francês.

Direita denuncia “loucura migratória”

Em 2018, a França e a Itália protagonizaram outra crise diplomática. O governo italiano se recusou, na época, a receber o navio Aquarius, com mais de 600 migrantes a bordo, que acabaram desembarcando na Espanha.

A líder do partido de extrema direita Reunião Nacional na Assembleia francesa, Marine Le Pen, denunciou nesta quinta-feira a decisão do governo francês de receber os migrantes, que ela qualificou de “permissiva.”

Para Valérie Boyer, senadora do partido de direita Os Republicanos, a decisão da França “encoraja a loucura migratória”, organizada por coiotes que lucram com as travessias dos estrangeiros que vêm da África ou do Oriente Médio.”Não entendo por que não conseguimos implantar uma política europeia sobre a questão”, declarou à RFI.

Já o líder no Senado do partido, Bruno Retailleau, pediu que os migrantes voltem ao seu país de origem. De acordo com ele, o navio Ocean Viking é o “cavalo de Troia da imigração irregular na Europa.”

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