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Naufrágio mata 59 migrantes na costa da Itália; 12 vítimas são crianças

O presidente Sergio Mattarella disse que muitos eram procedentes do Afeganistão e do Irã, ‘fugindo de condições muito difíceis’

'Carabinieri' atravessam um terreno em 26 de fevereiro de 2023 perto da praia de Steccato di Cutro, ao sul de Crotone, depois de um barco de imigrantes afundar. Foto: Alessandro Serrano/AFP
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59 migrantes morreram em um naufrágio, neste domingo 26, perto da cidade italiana de Crotone, na região da Calábria, poucos dias após a aprovação de uma polêmica lei sobre o resgate de migrantes no mar.

De acordo com as equipes de emergência de Crotone, citadas pela agência AGI, 12 das 59 vítimas são crianças, incluindo um recém-nascido, e 33 são mulheres.

As equipes de resgate marítimo informaram que a embarcação colidiu com rochas a poucos metros da costa. Um suposto traficante foi detido pelas forças de segurança, segundo uma fonte oficial.

Nas imagens divulgadas pela polícia italiana, é possível observar pedaços de madeira espalhados na praia, para onde se dirigiram as equipes de emergência, enquanto os resgatados aguardavam a transferência para um centro de acolhimento.

A primeira-ministra Giorgia Meloni, líder do partido de extrema-direita Fratelli d’Italia, expressou “profunda dor” em um comunicado e afirmou ser “criminoso enviar ao mar uma embarcação de apenas 20 metros com 200 pessoas a bordo e com uma previsão do tempo ruim”.

O naufrágio aconteceu poucos dias após a aprovação pelo Parlamento italiano de novas e polêmicas regras para o resgate de migrantes, apoiadas pelo governo da direita radical.

Pacto Europeu

Após a tragédia, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu a urgência de avançar com a reforma do direito de asilo na União Europeia.

“É necessário redobrar os esforços em relação ao Pacto sobre a Migração e o Direito de Asilo, assim como sobre o Plano de Ação para o Mediterrâneo Central”, afirmou.

A parte mais delicada do pacto, que deve ser concluído até o fim do mandato do Parlamento Europeu em 2024, estabelece uma melhor distribuição das responsabilidades sobre o acolhimento, um tema que divide os países da UE desde a crise dos refugiados de 2015.

O presidente da República da Itália, Sergio Mattarella, disse que muitos migrantes eram procedentes do Afeganistão e do Irã, “fugindo de condições muito difíceis”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou pelo Twitter que “toda pessoa que busca uma vida melhor tem direito à segurança e à dignidade” e pediu “corredores seguros e legais para migrantes e refugiados”.

A situação geográfica da Itália faz do país um destino preferencial para os demandantes de asilo que viajam do norte da África para a Europa.

Roma critica há anos o número de chegadas a seu território, embora a maioria dos migrantes abandone a península e siga para outros países. De acordo com o Ministério do Interior, quase 14 mil migrantes entraram na Itália desde o início do ano, contra 5,2 mil no mesmo período no ano passado e 4,2 mil em 2021.

Nova regra para ONGs

Meloni chegou ao poder em outubro com uma coalizão que prometeu a redução da entrada de migrantes no país.

Há poucos dias, o Parlamento italiano aprovou uma lei que obriga os navios humanitários a fazer apenas um resgate por saída ao mar. Os críticos afirmam que a norma aumenta o risco de mortes no Mediterrâneo Central, área considerada a travessia mais perigosa do mundo para os migrantes.

Para o ministro italiano do Interior, Matteo Piantedosi, a “tragédia demonstra como é absolutamente necessário lutar de maneira firme contra as redes de imigração clandestina”.

Embora as ONGs resgatem apenas um pequeno percentual deles – a maioria é interceptada pela Guarda Costeira ou por navios da Marinha -, o governo as acusa de estimular as viagens e e de encorajar os traficantes com suas operações.

O Papa Francisco expressou sua “dor” e afirmou rezar “por cada um, pelos desaparecidos e para os outros migrantes que sobreviveram”.

Filippo Grandi, titular do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, lamentou “outro terrível naufrágio” e declarou que “chegou o momento para que os Estados parem de debater e estabeleçam medidas justas, eficazes e compartilhadas para evitar novas tragédias”.

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