Mundo
Naufrágio mata 59 migrantes na costa da Itália; 12 vítimas são crianças
O presidente Sergio Mattarella disse que muitos eram procedentes do Afeganistão e do Irã, ‘fugindo de condições muito difíceis’
59 migrantes morreram em um naufrágio, neste domingo 26, perto da cidade italiana de Crotone, na região da Calábria, poucos dias após a aprovação de uma polêmica lei sobre o resgate de migrantes no mar.
De acordo com as equipes de emergência de Crotone, citadas pela agência AGI, 12 das 59 vítimas são crianças, incluindo um recém-nascido, e 33 são mulheres.
As equipes de resgate marítimo informaram que a embarcação colidiu com rochas a poucos metros da costa. Um suposto traficante foi detido pelas forças de segurança, segundo uma fonte oficial.
Nas imagens divulgadas pela polícia italiana, é possível observar pedaços de madeira espalhados na praia, para onde se dirigiram as equipes de emergência, enquanto os resgatados aguardavam a transferência para um centro de acolhimento.
A primeira-ministra Giorgia Meloni, líder do partido de extrema-direita Fratelli d’Italia, expressou “profunda dor” em um comunicado e afirmou ser “criminoso enviar ao mar uma embarcação de apenas 20 metros com 200 pessoas a bordo e com uma previsão do tempo ruim”.
O naufrágio aconteceu poucos dias após a aprovação pelo Parlamento italiano de novas e polêmicas regras para o resgate de migrantes, apoiadas pelo governo da direita radical.
Pacto Europeu
Após a tragédia, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu a urgência de avançar com a reforma do direito de asilo na União Europeia.
“É necessário redobrar os esforços em relação ao Pacto sobre a Migração e o Direito de Asilo, assim como sobre o Plano de Ação para o Mediterrâneo Central”, afirmou.
A parte mais delicada do pacto, que deve ser concluído até o fim do mandato do Parlamento Europeu em 2024, estabelece uma melhor distribuição das responsabilidades sobre o acolhimento, um tema que divide os países da UE desde a crise dos refugiados de 2015.
O presidente da República da Itália, Sergio Mattarella, disse que muitos migrantes eram procedentes do Afeganistão e do Irã, “fugindo de condições muito difíceis”.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou pelo Twitter que “toda pessoa que busca uma vida melhor tem direito à segurança e à dignidade” e pediu “corredores seguros e legais para migrantes e refugiados”.
A situação geográfica da Itália faz do país um destino preferencial para os demandantes de asilo que viajam do norte da África para a Europa.
Roma critica há anos o número de chegadas a seu território, embora a maioria dos migrantes abandone a península e siga para outros países. De acordo com o Ministério do Interior, quase 14 mil migrantes entraram na Itália desde o início do ano, contra 5,2 mil no mesmo período no ano passado e 4,2 mil em 2021.
Nova regra para ONGs
Meloni chegou ao poder em outubro com uma coalizão que prometeu a redução da entrada de migrantes no país.
Há poucos dias, o Parlamento italiano aprovou uma lei que obriga os navios humanitários a fazer apenas um resgate por saída ao mar. Os críticos afirmam que a norma aumenta o risco de mortes no Mediterrâneo Central, área considerada a travessia mais perigosa do mundo para os migrantes.
Para o ministro italiano do Interior, Matteo Piantedosi, a “tragédia demonstra como é absolutamente necessário lutar de maneira firme contra as redes de imigração clandestina”.
Embora as ONGs resgatem apenas um pequeno percentual deles – a maioria é interceptada pela Guarda Costeira ou por navios da Marinha -, o governo as acusa de estimular as viagens e e de encorajar os traficantes com suas operações.
O Papa Francisco expressou sua “dor” e afirmou rezar “por cada um, pelos desaparecidos e para os outros migrantes que sobreviveram”.
Filippo Grandi, titular do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, lamentou “outro terrível naufrágio” e declarou que “chegou o momento para que os Estados parem de debater e estabeleçam medidas justas, eficazes e compartilhadas para evitar novas tragédias”.
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