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Na França, passeata contra reforma da Previdência é marcada por confrontos

Contrários aos termos da reforma previdenciária francesa, militantes radicais atacaram a polícia, que revidou com bombas de gás lacrimogêneo

Manifestantes ocupam as ruas de Paris em protesto contra a Reforma da Previdência - Foto: Raymond Roig/AFP
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A passeata organizada pelos sindicatos franceses nesta quinta-feira 05 em Paris foi marcada por incidentes e violência. Militantes radicais atacaram a polícia, que revidou com bombas de gás lacrimogêneo. Focos de incêndio foram registrados no centro da cidade, parcialmente paralisada pela greve geral contra o projeto de reforma do sistema de aposentadoria.

Os primeiros confrontos começaram pouco antes das 16h no horário local (12h em Brasília), quando o cortejo parisiense estava na metade de seu percurso. Equipamentos de um canteiro de obras perto da Place de la République, no centro de Paris, foram incendiados e várias vitrines de lojas foram quebradas. Incidentes também foram registrados em outras partes do país.

A polícia foi atacada por militantes radicais “black blocs”, que carregavam uma faixa com os dizeres “Marx ou crève” (Marx ou morte, em tradução livre). As forças de ordem responderam com bombas de gás lacrimogêneo, provocando muito tumulto na região, onde até então milhares de pessoas se manifestavam de forma pacífica. Apesar das imagens de confrontos, o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, declarou diante das câmeras de televisão que a manifestação transcorria sem problemas.

Cerca de 6 mil policiais foram mobilizados para garantir a segurança durante a passeata em Paris. As autoridades temiam uma possível participação de manifestantes radicais, como nos protestos recentes organizados pelos “coletes amarelos”. O governo já havia pedido que os comerciantes situados no trajeto do cortejo fechassem seus estabelecimentos e protegessem as vitrines.

Greve Geral tem forte adesão

A greve contra o projeto de reforma da Previdência registrou uma forte adesão principalmente entre os principais atingidos pelas medidas: ferroviários, professores e funcionários do setor da Saúde. Mas o setor privado também conta com grevistas. Ao meio-dia, havia 180 mil manifestantes nas ruas das principais cidades francesas.

Cerca de 80% dos trens foram cancelados no país. Em Paris, os ônibus praticamente não circulam e ao menos 11 das 14 linhas do metrô estão fechadas. No setor aéreo, 20% dos voos de curta e média distância foram cancelados. Cerca de 46% dos professores aderiram à paralisação, 78% deles em Paris. A empresa de transportes públicos da capital já informou que a greve será prolongada até segunda-feira 09.

Mobilização pode flexibilizar reforma

A ideia geral do projeto em discussão é fornecer um “sistema universal de pontos” para substituir os 42 “regimes especiais” existentes atualmente. O projeto não altera a idade mínima legal da aposentadoria, estabelecida atualmente em 62 anos para mulheres e homens, mas cria a noção de uma idade “ideal” de aposentadoria aos 64 anos, chamada de “idade pivô”, que viria acompanhada de um incentivo financeiro. Quem continuar trabalhando até 64 anos receberia um bônus na pensão; aqueles que decidirem partir aos 62 anos receberiam uma pensão menor.

De acordo com o projeto em discussão, esta idade “ideal” de 64 anos seria aplicada aos franceses nascidos depois de 1963. Porém, fontes do governo, segundo o jornal Les Echos, estudam adiar esta programação em dez anos, para aplicá-la apenas aos nascidos depois de 1973. Esse prolongamento, na avaliação de alguns analistas, poderia atenuar as críticas, já que a geração do próprio presidente da República – Macron nasceu em 1977 – estaria entre as primeiras a sofrer o impacto das mudanças.

Outro ponto de discórdia no projeto diz respeito à correção do déficit da Previdência. Os ajustes financeiros no orçamento do sistema, de forma a reduzir seu déficit, previstos inicialmente para 2021, seriam postergados para 2025. Segundo um relatório do Conselho Consultivo para Pensões, o déficit no caixa da Previdência francesa poderá alcançar entre 7,9 bilhões de euros e 17,2 bilhões de euros em 2025.

Uma das principais razões da greve de hoje é que o governo alimenta uma ambiguidade sobre pontos importantes da reforma, sem detalhar concretamente seus planos. O primeiro-ministro Edouard Philippe só divulgará as arbitragens finais na semana que vem. Duas rodadas de negociação com os sindicatos ainda estão previstas nos dias 9 e 10 de dezembro.

De acordo com uma nota oficial do Palácio do Eliseu, o presidente Emmanuel Macron “está calmo e determinado a realizar essa reforma, ouvindo e consultando” os franceses. “Ele está atento ao respeito à ordem pública e aos inconvenientes sofridos pelos franceses”, diz a presidência.

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