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Na Eslovênia, crianças têm três bons velhinhos

As crianças do pequeno país europeu recebem mimos de Miklavž, Papai Noel e do bonachão Dedek Mraz

Miklavž, como é conhecido o São Nicolau na Eslovênia, distribui presentes para crianças em Bled, Eslovênia. Foto: RFI
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Edison Veiga, correspondente da RFI em Bled

A Eslovênia, pequeno país europeu quase desconhecido dos brasileiros, tem uma característica para criança alguma botar defeito. Em vez de apenas um Papai Noel para presentear os pequenos no Natal, as comemorações de fim de ano contam com três bons velhinhos diferentes – e seus sacos repletos de presentes.

As crianças eslovenas recebem mimos de Miklavž, o São Nicolau, em 6 de dezembro. Na noite do dia 24 para o dia 25, é a vez do tradicional Papai Noel conhecido na maior parte do mundo. Depois, no último dia do ano, o bonachão presenteador é Dedek Mraz – em português, algo como Vovô Gelo.

Essa história é resultado de uma combinação de tradições. São Nicolau, bispo cristão que viveu entre os séculos III e IV na Ásia Menor, região onde hoje fica a Turquia, era uma figura conhecida por sua afinidade com as crianças. Tanto que, depois de sua morte, a biografia dele acabou ganhando contornos de lenda, misturando-se ao folclore já existente no Hemisfério Norte com suas histórias de inverno.

 

Ele acabou sendo caracterizado, no imaginário infantil, como um velhinho de barbas brancas que traz presentes para meninos e meninas que se comportaram bem ao longo do ano. É um santo relativamente popular do catolicismo e, em alguns países, celebrá-lo inclui presentear as crianças. É o caso da Eslovênia, onde em todo 6 de dezembro, os pequenos são lembrados com pequenos mimos, como doces e livros infantis.

Releitura

O Papai Noel contemporâneo, figura popularizada a partir dos Estados Unidos, é uma releitura de São Nicolau. Mas é preciso lembrar que ao longo de boa parte do século 20, o mundo estava dividido entre países capitalistas – bloco capitaneado pelos norte-americanos – e socialistas – cuja potência era a então União Soviética. Tido como símbolo do mundo ocidental, com suas marcas onipresentes como a Coca-Cola, o Papai Noel de roupa vermelha, trenó e renas foi renegado pelos países socialistas.

A Eslovênia, que durante o período da Guerra Fria pertencia à Iugoslávia, foi uma das nações que incentivaram a perpetuação de uma figura popular do folclore eslavo: o Vovô Gelo – em esloveno, Dedek Mraz.

Vovô socialista

Trata-se de um velhinho barbudo que presenteia crianças no fim do ano. Não veste vermelho, mas branco. Não anda em um trenó puxado por renas, prefere uma carruagem conduzida por cavalos. Não aparece no Natal cristão, mas sim, no último dia do ano, quando as fábricas socialistas organizavam comemorações para seus operários. Na Eslovênia, conta-se que ele mora aos pés do monte Triglav, o mais elevado ponto geográfico do país – um símbolo nacional, presente até na bandeira do país, rodeado por florestas.

Com a desintegração do bloco socialista, a independência da Eslovênia (em 1991) e o fim da Iugoslávia, os eslovenos decidiram abrir as portas do mercado e as chaminés de suas casas para o Papai Noel capitalista. Mas não pararam com a lenda do Dedek Mraz. Esse caldeirão cultural faz com que até hoje boa parte das crianças eslovenas ganhem presentes três vezes ao longo de dezembro.

Uma pesquisa de opinião realizada em 2010 identificou que 37% das famílias têm o hábito de dar presentes para as crianças tanto no Natal quanto no último dia do ano – Papai Noel e Dedek Mraz. Em 11% dos lares, entretanto, o Papai Noel de roupa vermelha não tem vez; neles só a lenda do Dedek Mraz importa.

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