Economia

Na Cúpula, Putin exibe cédula simbólica do BRICS – mas moeda conjunta ainda é improvável

O grande desafio do bloco continua sendo ampliar o uso de moedas nacionais nas transações, reduzindo assim a dependência do dólar.

Na Cúpula, Putin exibe cédula simbólica do BRICS – mas moeda conjunta ainda é improvável
Na Cúpula, Putin exibe cédula simbólica do BRICS – mas moeda conjunta ainda é improvável
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, em encontro do BRICS em Kazan, em 23 de outubro de 2024. Foto: Alexander Nemenov/Pool/AFP
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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, recebeu uma espécie de cédula comum do BRICS durante a cúpula do grupo, em Kazan, nesta quarta-feira 23. A nota traz as bandeiras dos cinco primeiros integrantes do bloco: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Segundo a agência russa Sputnik, houve um debate a portas fechadas nesta quinta sobre a criação de uma moeda comum. Seria um resultado radical do que Putin define como “nova ordem mundial multipolar”, embora a concretização desta moeda, por ora, seja altamente improvável.

Imagem Foto: Reprodução/Sputnik

Quase 20 chefes de Estado ou de governo, incluindo os de China, Índia, Turquia e Irã, se reúnem nesta semana na Rússia para discutir temas mais concretos, como o desenvolvimento de um sistema de pagamento internacional liderado pelos Brics.

Em um discurso por videoconferência, o presidente Lula (PT) afirmou ter chegado a hora de “avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre nossos países”.

O petista enfatizou não se tratar de uma substituição das moedas nacionais, embora avalie ser necessário “trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional”.

“Essa discussão precisa ser enfrentada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas não pode ser mais adiada.”

Presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como Banco do BRICS, Dilma Rousseff também defendeu um incremento nos financiamentos em moedas nacionais, em substituição ao dólar.

“Tivemos investimentos bastante elevados, mas ainda não o suficiente para as necessidades dos países do BRICS”, argumentou a ex-presidenta da República. “Por isso, é muito importante disponibilizar financiamento em moeda local através de plataformas específicas.”

As ideias são diferentes: turbinar as negociações em moedas nacionais, reduzindo o peso do dólar, é uma solução muito menos extrema do que a eventual criação de uma moeda comum entre os integrantes do bloco.

Em linha com Dilma, Putin declarou que ampliar os pagamentos em moedas locais permite reduzir as taxas de serviço das dívidas, aumentar a independência financeira dos países do BRICS, minimizar os riscos geopolíticos e “libertar o desenvolvimento econômico da política”.

Percebe-se, portanto, não haver uma articulação de fato por uma moeda comum, uma vez que não há condições práticas para uma empreitada de tamanha magnitude.

A rigor, a própria tática de desdolarizar a econômica encontra reações diferentes no BRICS. Para Putin, porém, há questões sensíveis envolvidas, especialmente com o aumento dramático das sanções impostas a Moscou desde a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.

A Rússia trabalha, por exemplo, para viabilizar uma infraestrutura de liquidação e pagamento que contornaria o sistema Swift, baseado na Bélgica.

Swift é a sigla para Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais. Trata-se de um modelo criado por bancos em 1973 para permitir a troca de moeda entre diferentes países com rapidez e segurança.

Dias após deflagrar a ofensiva contra a Ucrânia, a Rússia foi excluída do sistema. Por isso, criar uma alternativa ao Swift para facilitar transações financeiras internacionais seria importante para Putin, diminuindo a dependência de infraestruturas controladas pelo Ocidente. Significaria, em suma, um novo instrumento para resistir a pressões externas.

Segundo Putin, uma plataforma para driblar o Swift e as sanções seria “um poderoso instrumento de apoio às economias do BRICS”. Funcionaria, de quebra, para “prover recursos financeiros aos países do Sul e Leste Global”.

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