Mundo

Na agência da ONU para refugiados, Filippo Grandi terá missão difícil

Antes de poder garantir segurança e sobrevivência de refugiados, italiano terá que resolver problemas como a falta de dinheiro

Apoie Siga-nos no

A essa altura, é difícil imaginar alguém assumindo um cargo tão complicado: o italiano Filippo Grandi é o novo responsável por 9.300 funcionários em 123 países, na condição de chefe da agência das Nações Unidas para refugiados (Acnur).

O cargo de Grandi prevê garantir a segurança e a sobrevivência de refugiados ao redor do mundo. Os últimos dados do Acnur apontam que há atualmente 60 milhões de pessoas deslocadas de suas casas no planeta.

Seu antecessor, o português António Gueterres, previu as possíveis linhas de ação de Grandi. Falando ao Conselho de Segurança da ONU em dezembro, ele pediu uma espécie de “New Deal” para os países vizinhos da Síria – uma referência ao programa aplicado nos anos 1930 nos Estados Unidos. De acordo com o plano, os Estados que acomodam um número significativo de refugiados receberiam apoio financeiro.

Guterres – cotado para ser o próximo secretário-geral da ONU – também pressionou a Europa a aumentar o apoio aos refugiados, alertando sobre uma crescente xenofobia no continente perante a maior onda migratória desde a Segunda Guerra.

“Ele está assumindo um cargo muito sensível”, afirma Karl Kopp, representante para Europa da ONG alemã Pro Asyl. “Esperamos que ele possa seguir os passos de seu antecessor e que suas prioridades sejam similares às dele.”

O português ficou no cargo por uma década. A carreira de Grandi, por sua vez, parece uma cronologia dos conflitos e guerras ocorridos nos últimos 20 anos: ele teve cargos no Sudão, Iraque, Afeganistão, Libéria, Ruanda e Burundi, sempre representando a agência da ONU.

Nos últimos dez anos, Grandi, de 58 anos, apoiou a causa dos refugiados palestinos – ele foi, entre 2010 e 2014, chefe da agência da ONU dedicada à causa (Unrwa). “Nós temos que ir às pessoas, em vez de elas terem que vir até a gente”, afirmou o italiano em fevereiro de 2014, em visita a um campo de refugiados palestinos perto de Damasco.

Escolhido pelo secretário-geral Ban Ki-moon em novembro, Grandi não é apenas um tecnocrata: ele também tem a filantropia como uma das suas prioridades, o que ficou evidente durante uma visita recente à Universidade de Milão, onde ele estudou História Moderna e Filosofia.

Contando aos estudantes sobre o início de sua carreira, o italiano relembrou quando foi responsável pela questão dos refugiados cambojanos na Tailândia. Em seus braços, uma menina morreu vítima de malária. Isso, contou ele, lhe ensinou uma importante lição.

“Diante do sofrimento, só pode haver uma resposta: pura solidariedade”, afirmou aos estudantes.

Solidariedade é também algo que Grandi terá que abordar com os doadores internacionais. Afinal, uma de suas principais funções à frente do Acnur será obter doações. A agência conta com um fundo de emergência da ONU, mas é amplamente dependente de voluntários e contribuições de Estados, ONGs, empresas e cidadãos comuns.

O Acnur enfrenta há anos uma crise financeira, mesmo problema de outras agências da ONU, como o Programa Mundial de Alimentação (PMA), que teve que reduzir a quantidade de comida distribuída para refugiados sírios na Jordânia. Em 2015, o Acnur teve um orçamento de 7 bilhões de dólares à sua disposição, mas precisa de mais dinheiro.

“De um lado, estamos enfrentando uma crise dramática de refugiados. Do outro, há uma falta de parceiros responsáveis, que estejam preparados para se comprometer com a proteção de refugiados”, afirma Kopp.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar