Duas pessoas foram indiciadas por “violência intencional”, seguida de comentários racistas, após um ataque a faca contra duas mulheres que portavam véu próximo à Torre Eiffel, em Paris. As vítimas exigem que as agressoras sejam processadas por tentativa de homicídio, de acordo com informações da AFP apuradas nesta quinta-feira 22.
A suposta autora do ataque a faca foi detida sob custódia e sua cúmplice segue em liberdade sob supervisão judicial, de acordo com fontes próximas ao processo.
O ataque no Campo de Marte ocorreu no domingo 18 e estaria relacionado à presença do cachorro de uma das agressoras, considerado perigoso por um grupo de mulheres que passava com seus filhos. Durante o episódio, a principal suspeita teria sacado a faca e agredido as duas mulheres.
O caso foi amplamente divulgado nas redes sociais e muitos internautas teriam denunciado o “silêncio da mídia” sobre uma agressão considerada “islamofóbica”, dois dias após o violento assassinato do professor Samuel Paty, em Conflans Sainte Honorine, nas proximidades de Paris, decapitado por um terrorista que se indignou com o uso de caricaturas do profeta Maomé durante uma aula sobre liberdade de expressão.
O advogado das vítimas, Arié Alimi, apresentou queixa para que a investigação fosse reclassificada como “tentativa de homicídio em razão da vítima pertencer a uma etnia ou religião”.
“Aqui não é o lugar de vocês”
A primeira vítima, de 19 anos, recebeu três facadas. A segunda, uma mulher de 40 anos, foi ferida por seis golpes, teve o pulmão perfurado, e segue hospitalizada. As duas mulheres alegam terem sido xingadas de “árabes sujas” pelas agressoras, que também teriam dito “aqui não é o lugar de vocês”.
Uma das agressoras também teria se referido ao véu que as vítimas usavam, mencionando “essa coisa na sua cabeça”, continua a denúncia.
Para Alimi, “a motivação é obviamente racista porque visaram mulheres com véus e tentaram arrancá-lo”. “Também não há dúvidas sobre a intenção de homicídio, visto que o primeiro golpe foi dirigido à cabeça.”
“Teme-se que esse tipo de ato se repita devido ao momento ruim que estigmatiza os muçulmanos. As autoridades devem parar a caça às bruxas e impedir que os terroristas atinjam seu objetivo principal, que é a estigmatização dos muçulmanos, podendo levar a outras radicalizações”, acrescentou o advogado em seu depoimento à AFP.
“Nesse contexto particular, não devemos inflar essa história e voltar aos fatos: trata-se de uma discussão que acabou mal após insultos”, argumenta Bernard Solitude, advogado de uma das acusadas, que negou as ofensas racistas.
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