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Mulheres pobres serão as mais prejudicadas se Suprema Corte americana derrubar decisão sobre aborto

Estados mais ricos já se preparam para ajudar mulheres de regiões pobres que podem perder acesso ao procedimento

Foto: ALEX WONG / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP
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Juristas americanos discutem se o vazamento do anteprojeto da Suprema Corte dos Estados Unidos, que poderia derrubar o direito ao aborto no país, constitui crime. Enquanto isso, estados mais ricos já se preparam para ajudar mulheres de regiões pobres que podem perder acesso ao procedimento.

O vazamento para a imprensa do anteprojeto da Suprema Corte americana escrito pelo juiz conservador Samuel Alito, que poderia derrubar o direito ao aborto nos Estados Unidos, teve um efeito explosivo em Washington. O tribunal é visto como uma instituição intocável na capital americana.

Juristas discutem se o vazamento seria um crime e quais as consequências para esse tipo de comportamento. Em Washington, muitos acreditam que o vazamento foi causado por alguém que se opõe ao anteprojeto e quis que isso fosse divulgado para que os ativistas se mobilizem e tentem mudar uma possível decisão da corte.

O responsável pelo vazamento está sendo visto tanto como herói nacional quanto como traidor de uma instituição fundamental para a nação. Como a Suprema Corte – que conta com apenas 9 juízes – inclui um grupo relativamente pequeno de pessoas que têm acesso aos textos produzidos na instituição, não deve ser difícil determinar quem está na origem do vazamento.

Muitos republicanos e também democratas pedem que o FBI comande a investigação. Até agora, o juiz-chefe da Suprema Corte, John Roberts, somente pediu uma investigação interna para determinar quem é o responsável.

Até os próprios juízes estão sendo vistos como suspeitos por alguns comentaristas conservadores, que temem que a história possa ser abafada. Apesar de muito raro, a Suprema Corte já foi vítima de alguns vazamentos, inclusive dois casos envolvendo a decisão de “Roe contra Wade”, nos anos 1970.

Mais pobres prejudicadas

Mesmo se Suprema Corte, que deve tomar a decisão final em meados de junho, anular “Roe contra Wade”, isso não significa que o aborto se tornará ilegal em todos os EUA. Cada estado decidirá a questão. Assim, a decisão caberá aos eleitores e legisladores de cada estado.

Atualmente, o direito garantido pela mais alta corte dos Estados Unidos desde 1973, vale nos 50 estados da nação, sem restrições no primeiro trimestre da gravidez.

Se o anteprojeto redigido pelo juiz Alito for de fato a decisão final, cerca de metade dos estados deve proibir a prática de aborto. O problema é que os estados com maior tendência a tornar a interrupção da gravidez ilegal são justamente os mais pobres, geralmente nas regiões sul e central do país, como Carolina do Sul, Arkansas, Michigan, Alabama e Geórgia.

As mulheres menos privilegiadas serão então as que mais sofrerão, pois para elas é bem mais difícil conseguir viajar até outros estados onde possam ter acesso a clínicas de aborto ou mesmo conseguir comprar medicamentos para interromper a gravidez.

O estado da Califórnia tem 165 clínicas de aborto e promete ajudar as mulheres de outros estados que perderem o acesso a esse procedimento. A organização Planned Parenthood, que opera cerca de metade das clínicas deste tipo na Califórnia, diz que já recebe, a cada mês, cerca de 80 pacientes de fora do estado. Esse volume foi registrado desde que o Texas, em setembro, passou a restringir as regras após seis semanas de gravidez.

Opinião

Segundo uma pesquisa recente do Washington Post-ABC News, a maioria dos americanos (cerca de 54%) é a favor de manter o direito ao aborto, enquanto apenas 28% aprovaria se a Suprema Corte derrubasse “Roe contra Wade”, como a histórica decisão é conhecida.

De modo geral, 70% dos americanos acreditam que a decisão sobre aborto deve ser tomada somente pela mulher grávida e seu médico. Mas a sociedade fica mais dividida quanto a questões mais específicas como número de semanas e circunstâncias da gravidez.

Apesar de haver um movimento cristão e conservador forte no país, a maioria dos americanos não quer ver esse direito desaparecer, mesmo porque não há indícios de que essa garantia legal faça com que o número de abortos aumente. Nos últimos 12 anos, o aborto caiu em cerca de 20%, e cerca de 40% dos abortos nos EUA são hoje induzidos por meio de medicamentos.

 

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