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Mulheres mais escolarizadas podem decidir a eleição presidencial

Norte-americanas com maior nível de instrução e ainda indecisas podem ter grande peso nas urnas e determinar quem comandará a Casa Branca

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“Olho para ela e vejo um ‘extremo descuido’. Olho para ele e vejo ‘Miss Piggy’. Olho para ela e vejo experiência. Olho para ele e vejo mudança”, assim resumiu Virginia Lopez Rey o seu dilema ao tentar decidir em que votar na atual eleição presidencial americana.

O “descuido” se refere à avaliação do FBI sobre a falta de tato da candidata do Partido Democrata ao lidar com informações sigilosas durante o período em que foi secretária de Estado. O apelido de ‘Piggy’ (porquinha) foi dado por Donald Trump a uma antiga miss depois que esta havia ganhado peso.

Rey é advogada em Miami, na Flórida, onde trabalha com arbitragem. A imigrante cubana é firmemente contrária ao aborto. Para ela, seria fácil apoiar o candidato republicano em outra ocasião.

Entre a cruz e a espada
A 1,9 mil quilômetros ao norte dali, Brooke Carpenter, professora de inglês do sétimo ano num subúrbio da cidade de Filadélfia, na Pensilvânia, diz enfrentar um dilema similar. Nas quatro eleições das quais participou, Carpenter votou sempre em republicanos. Ela é evangélica, se opõe ao aborto, defende impostos mais baixos e teme que um governo de centro-esquerda possa ameaçar sua liberdade religiosa.

Num momento de consciência, ela acha uma saída para o próprio dilema, que inclui o candidato do Partido Libertário, Gary Johnson, para, em seguida, encontrar-se novamente presa em suas dúvidas.

“Neste momento, estou mais inclinada para Gary Johnson, mas quem quer votar em alguém que não tem chances reais de vencer?”, afirmou a educadora. “Eu realmente não posso votar em Hillary Clinton e eu realmente não posso votar em Donald Trump, então, acho que Johnson é minha escolha, mas será uma boa opção? Não acho, ele provavelmente não vai ganhar. Então, vou jogar meu voto fora? Não sei.”

Entre os cerca de dez estados ainda indefinidos, a Flórida, com seus 29 votos no colégio eleitoral, é o maior prêmio ainda em disputa. A Pensilvânia, que detém 20 votos, começou a tender mais para Hillary no mês passado, depois que foi divulgado um vídeo em que Trump falava sobre as mulheres usando termos vulgares e abusivos.

Voto-chave feminino
Um candidato republicano não vence na Pensilvânia há quase 30 anos, mas Trump continua a fazer campanha ali, na esperança de levar às urnas os eleitores brancos da classe trabalhadora – e assim ganhar o estado.

As mulheres com mais escolaridade têm sido um fator demográfico bastante falado na corrida presidencial, e aquelas nos estados que ainda não se definiram, como a Flórida e a Pensilvânia, serão especialmente importantes na escolha do próximo presidente americano. Mas angariar o voto dos eleitores indecisos está sendo uma tarefa hercúlea nesta eleição, assim como em todas as outras, afirma John Hudak, especialista do think tank Instituto Brookings, em Washington.

“Talvez eles sejam liberais convictos, talvez eles estejam apoiando Bernie Sanders e não gostam de outro candidato”, diz Hudak, referindo-se ao senador autoproclamado “socialista”, que surpreendeu a todos com uma presença inesperadamente forte nas prévias democratas.

“Talvez eles sejam sociais-conservadores”, continua Hudak, “que olham para Trump e não veem o tipo de republicano de que gostam e certamente também não veem essa pessoa em Hillary. Então, eles estão realmente confusos.”

Além dos eleitores indecisos, estimados em 4% a 7% do eleitorado, há também os apoiadores de outros partidos – aqueles que apostam em Johnson, do Partido Libertário, ou na candidata do Partido Verde, Jill Stein.

Invariavelmente, candidatos de partidos menores perdem apoio quando a eleição se aproxima, segundo Sam Wang, professor de neurociência na Universidade de Princeton e fundador do Consórcio de Eleição de Princeton (PEC), site baseado em estatísticas dedicado às eleições americanas.

Ao querer protestar contra o duopólio político (entre democratas e republicanos), muitos eleitores percebem que estão, basicamente, jogando fora seus votos por não escolher um candidato com chances reais de vitória. De acordo com o site RealClearPolitics.com, na verdade, o apoio a Johnson diminuiu gradualmente, de um ápice de 9,2% em meados de setembro, para 4,6% no início de novembro.

 

Libertários veem apoio minguar
Em nenhum outro lugar, o apoio a Johnson tem diminuído mais do que em estados indecisos, como a Flórida e a Pensilvânia, onde a preferência por ele entre o eleitorado é de somente de 2,9% e 3,7%, respectivamente. Nos estados onde Hillary possui uma liderança mais confortável, como Wisconsin e New Hampshire, o apoio a Johnson é comparativamente alto, 5,8% e 6,3%, respectivamente.

“Os apoiadores de Gary Johnson estão divididos mais ou menos igualitariamente entre Hillary Clinton e Donald Trump”, diz Wang. “Se o passado se repetir, no final, muitos deles votarão em Trump ou Hillary”, continuou. “Assim, podemos pensar nos apoiadores de Johnson se dividindo igualitariamente, assim como os indecisos.”

Stein, do Partido Verde, conta com o apoio de apenas 2,1% dos eleitores, ou seja, somente três quartos da preferência que tinha três meses atrás. Se algum deles decidir dar seu voto para outro candidato, Wang afirma estar claro qual será o beneficiado. “Os apoiadores de Stein irão se inclinar muito fortemente na direção de Hillary Clinton”, disse o neurocientista.

Mesmo que o número de eleitores indecisos pareça estar diminuindo, tentar dividir os resultados eleitorais baseando-se em eleitores indecisos pode vir a ser um erro, explica Hudak, do Instituto Brookings.

“Clinton e Trump são candidatos muito, muito diferentes, e suas diferenças são óbvias demais, mesmo quanto a políticas. Mas ainda há pessoas que se decidem somente na cabina de votação”, conclui.

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