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Mudanças climáticas agravam pobreza de quase 900 milhões de pessoas no mundo, diz relatório da ONU

Para as Nações Unidas, a COP30, em Belém, deve ser um espaço para discussão das ações climáticas como parte da luta contra a desigualdade

Mudanças climáticas agravam pobreza de quase 900 milhões de pessoas no mundo, diz relatório da ONU
Mudanças climáticas agravam pobreza de quase 900 milhões de pessoas no mundo, diz relatório da ONU
Foto: Agência Brasil Foto: Agência Brasil
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Cerca de 80% da população pobre no mundo — aproximadamente 900 milhões de pessoas — está diretamente exposta a eventos climáticos extremos agravados pelo aquecimento global. Esse “duplo problema” foi destacado pela ONU nesta sexta-feira 17, com a publicação de um novo documento sobre o tema.

Ondas de calor, secas e enchentes. “Ninguém está imune aos impactos cada vez mais intensos e frequentes das mudanças climáticas (…), mas os mais pobres são os que mais sofrem”, afirmou Haoliang Xu, diretor interino do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Segundo ele, a COP30, que será realizada no Brasil em novembro, “deve ser uma oportunidade para que os líderes mundiais tratem a ação climática como parte da luta contra a pobreza”.

O PNUD e o centro de pesquisa Iniciativa de Oxford sobre Pobreza e Desenvolvimento Humano (OPHI) publicam anualmente o Índice Global de Pobreza Multidimensional, que reúne dados de 109 países, abrangendo 6,3 bilhões de pessoas. Esse índice considera fatores como desnutrição, mortalidade infantil, falta de moradia adequada, saneamento básico, acesso à eletricidade e à educação.

Segundo o relatório, 1,1 bilhão de pessoas viviam em 2024 em situação de “pobreza multifatorial aguda” — metade delas menores de idade. Os números, semelhantes aos do ano anterior, indicam uma estagnação preocupante, ilustrada no documento pela história da família de Ricardo.

Membro da comunidade indígena guarani, ele vive em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, com a esposa, três filhos, os pais, a irmã divorciada e seus filhos. Ao todo, 19 pessoas em uma única casa pequena, com um banheiro, renda escassa, cozinha a lenha e carvão, e nenhuma criança frequentando a escola.

Quatro ameaças em um único ano

Duas regiões concentram os maiores índices de pobreza: a África Subsaariana (565 milhões de pessoas) e o Sul da Ásia (390 milhões), ambas altamente vulneráveis aos impactos climáticos.

Neste contexto, às vésperas da COP30, em Belém, o PNUD e o OPHI decidiram destacar o cruzamento entre pobreza extrema e exposição a quatro riscos ambientais: calor extremo (mais de 30 dias com temperaturas acima de 35°C), seca, enchentes e poluição do ar (partículas finas).

O resultado é alarmante: 78,8% dessas populações pobres — cerca de 887 milhões de pessoas — estão diretamente expostas a pelo menos uma dessas ameaças. O calor extremo lidera (608 milhões), seguido pela poluição (577 milhões), as enchentes (465 milhões) e secas (207 milhões).

Além disso, 651 milhões de habitantes do planeta enfrentam pelo menos dois desses riscos, 309 milhões convivem com três ou quatro, e 11 milhões já sofreram os quatro em um único ano.

“O cruzamento entre pobreza e eventos climáticos extremos é claramente um problema global”, alerta o relatório.

O aumento da frequência desses eventos ameaça os avanços em desenvolvimento. O Sul da Ásia, por exemplo, obteve sucesso na redução da pobreza, mas com 99,1% da população pobre exposta a pelo menos um risco climático, a região precisa “traçar um novo caminho, equilibrando combate à pobreza com ação climática inovadora”.

Com o planeta já 1,4 °C mais quente em relação ao século XIX, a tendência é de agravamento. As projeções indicam que os países mais pobres hoje serão os mais afetados pelo aumento das temperaturas.

“Diante dessas pressões sobrepostas, é preciso priorizar tanto as pessoas quanto o planeta — e, acima de tudo, transformar diagnóstico em ação rápida”, conclui o relatório.

“Alinhar redução da pobreza, corte de emissões, adaptação aos impactos e restauração dos ecossistemas é o caminho para construir comunidades resilientes, sem deixar ninguém para trás — especialmente os que estão na linha de frente de um mundo em aquecimento”, conclui o documento.

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