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Morre Bento XVI, o papa que renunciou assoberbado pelos escândalos na Igreja

O papa Francisco presidirá o funeral, em 5 de janeiro. Será a primeira vez na história milenar da Igreja Católica que um papa em exercício enterrará outro papa

Papa Bento XVI. Foto: AFP
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O papa emérito Bento XVI, um teólogo alemão que surpreendeu o mundo ao renunciar ao seu pontificado em 2013, faleceu neste sábado (31), aos 95 anos — anunciou o Vaticano.

“Com pesar informo que o Papa Emérito Bento XVI faleceu hoje às 9,34, no Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano. Assim que possível, serão enviadas novas informações”, disse o diretor do serviço de imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, em um comunicado.

O Vaticano também anunciou que o papa Francisco presidirá o funeral, em 5 de janeiro. Será a primeira vez na história milenar da Igreja Católica que um papa em exercício enterrará outro papa.

Dezenas de milhares de pessoas são esperadas, incluindo chefes de estado e líderes de outras religiões, ao funeral do 265º papa da história.

O corpo de Bento XVI estará exposto a partir de segunda-feira, dia 2, na Basílica de São Pedro para receber o último adeus dos fiéis.

Pouco antes das 11h locais (7h em Brasília), os sinos da basílica tocaram pela morte do ex-papa, enquanto centenas de pessoas foram à praça para recordar a figura de Joseph Ratzinger, um refinado teólogo ultraconservador que escolheu o nome de Bento XVI depois de ter sido nomeado chefe da Igreja Católica, em 2005.

Sua saúde se deteriorou nos últimos dias, embora o Vaticano tenha dito, na sexta-feira (30), que ele se encontrava em condição “estável” e que havia participado, na véspera, de uma missa celebrada em seu quarto no mosteiro vaticano.

Fim da coexistência de “dois papas”

Sua morte põe fim à inusitada coexistência de dois papas, ambos de batina branca: o alemão Ratzinger, um brilhante teólogo ultraconservador e pouco popular entre as multidões; e o argentino Jorge Bergoglio, um jesuíta que quis construir um papado dedicado aos pobres e aos migrantes.

Na quarta-feira (28), durante a audiência geral, Francisco pediu orações pela saúde de seu antecessor, que estava “muito doente” e a quem foi visitar em seu quarto.

Ratzinger, o primeiro papa alemão da era moderna, substituiu em 2005 o carismático João Paulo II, de quem havia sido braço direito por um quarto de século como chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, o antigo Santo Ofício da Inquisição.

Seu pontificado de oito anos foi marcado por escândalos e intrigas dentro da Igreja.

Depois de renunciar, Bento XVI prometeu manter uma aposentadoria absoluta, sem fazer sombra a seu sucessor, o papa Francisco.

Esteve, no entanto, envolvido — em alguns casos, involuntariamente, segundo observadores — nas campanhas dos setores ultraconservadores que veem com maus olhos as aberturas do pontífice argentino no campo social.

E, no início de 2022, foi atingido por acusações de que teria acobertado quatro casos de pedofilia quando era arcebispo de Munique, entre 1977 e 1981.

Diante da pressão do informe alemão que o acusava de negligência na gestão desses casos de pedofilia, ele quebrou seu silêncio para pedir “perdão” e manifestar sua “profunda” vergonha.

“Em breve, enfrentarei o juiz definitivo da minha vida. Embora, olhando para trás em minha longa vida possa ter muitos motivos de temor e medo, tenho um estado de espírito alegre, porque acredito, firmemente, em que o Senhor não é apenas o juiz justo, mas também o amigo e irmão que já sofreu minhas carências e é, portanto, como juiz, ao mesmo tempo meu advogado”, afirmou.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, reagiu à notícias, afirmando que, com o falecimento de Bento XVI, o mundo perde “uma figura notável”, que se caracterizou por sua “personalidade combativa”.

O presidente francês, Emmanuel Macron, declarou que Ratzinger trabalhou “por um mundo mais fraterno”, enquanto o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, declarou-se “triste” pela morte de um “grande teólogo”.

O arcebispo de Canterbury, chefe espiritual da Igreja anglicana, descreveu o papa emérito como “um dos maiores teólogos de seu tempo”.

“O papa Bento XVI foi um dos maiores teólogos do seu tempo, apegado à fé da Igreja e fiel à sua defesa. Em tudo, e especialmente em seus escritos e pregações, olhava para Jesus Cristo, imagem do Deus invisível. Cristo era, claramente, a raiz de seu pensamento e o fundamento de sua oração”, disse o arcebispo Justin Welby, em um comunicado.

E, nas palavras do patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, Cirilo, Bento XVI foi um “eminente teólogo” e um defensor dos “valores tradicionais”.

“A autoridade incontestável de Bento XVI como eminente teólogo permitiu-lhe contribuir de maneira significativa para o desenvolvimento da cooperação intercristã, para o testemunho de Cristo ante um mundo secularizado e para a defesa dos valores morais tradicionais”, disse o patriarca em um comunicado.

Para a chefe do governo italiano, Giorgia Meloni, o ex-pontífice foi “um gigante da Fé e da Razão”, assim como “um grande homem da História que a História não esquecerá”.

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