Morre aos 85 anos o sociólogo italiano Domenico De Masi; ‘intelectual incansável’, diz Lula

O sociólogo italiano Domenico De Masi morreu em Roma, aos 85 anos. A morte foi confirmada neste sábado 9.

De Masi formulou o conceito de “ócio criativo”, segundo o qual o ócio, em vez de um atributo necessarimente negativo, é um fator capaz de estimular a criatividade pessoal.

“É pelo trabalho que produzimos riqueza, pelo estudo que produzimos conhecimento e pela diversão que produzimos alegria. Ócio criativo é a união desses três fatores“, escreveu.

O intelectual nasceu em Rotello, em 1º de fevereiro de 1938, e escreveu mais de 20 livros, entre os quais Ócio Criativo, Desenvolvimento sem trabalho, A economia do ócio e Uma simples revolução.

Em 2022, De Masi publicou O trabalho no século XXI: Fadiga, ócio e criatividade na sociedade pós-industrial, pela Editora Sextante. Na obra, ele traça um panorama das relações de trabalho estabelecidas ao longo da história, da escravidão ao trabalho remoto impulsionado pela pandemia da Covid-19.

“Este livro tenta observar alguns fenômenos costumeiros e inquietantes – o trabalho organizado, o desemprego, o tempo livre – com o olhar de quem anda na parte ensolarada da rua”, escreveu.

Em entrevista ao jornal O Globo no ano passado, ele afirmou que “com o aumento da produtividade, a relação entre o tempo de trabalho e o tempo livre mudou, em favor deste último”.

“Durante sua vida, meu avô trabalhou 120 mil horas, meu pai 80 mil e minhas filhas trabalharão 40 mil. Hoje, um italiano tem cerca de 640 mil horas de tempo livre, que ultrapassará 700 mil em 2030. Como viemos de dois séculos de sociedade industrial centrada no trabalho, ainda não nos conscientizamos da importância do ócio criativo”, declarou. “Mas a pandemia nos permitiu refletir e produziu o fenômeno da The Great Resignation (a grande renúncia, em português), que se prolongará nos próximos anos.”

Em junho, durante um giro pela Europa, o presidente Lula se encontrou com De Masi, um amigo pessoal. Eles discutiram a conjuntura política no Brasil e na Itália e conversaram sobre os esforços pela paz no mundo.

“Intelectual incansável e homem público apaixonado, sempre foi um defensor das causas sociais, do avanço das conquistas humanas e de um mundo mais justo e solidário. De Masi sempre foi muito atento e carinhoso com o Brasil, sempre visitando o País e sem nenhum medo de se posicionar, mesmo nos momentos mais difíceis”, disse Lula, em mensagem publicada nas redes sociais.

De Masi também havia visitado Lula em 2019, durante a prisão do petista na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, e se tornou cidadão honorário do Rio de Janeiro em 2010.