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Missão de paz na Ucrânia? Quais países enviariam tropas

Casa Branca pressiona europeus a destacarem soldados para garantir eventual acordo em relação à Ucrânia. Reino Unido e França já rascunharam plano, enquanto Polônia rechaça possibilidade

Missão de paz na Ucrânia? Quais países enviariam tropas
Missão de paz na Ucrânia? Quais países enviariam tropas
Um prédio residencial danificado após um ataque russo na cidade de Bilozerske, região de Donetsk, em 12 de agosto de 2025, em meio à invasão russa da Ucrânia. Foto: Genya SAVILOV / AFP
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Após a cúpula sobre a guerra na Ucrânia realizada na Casa Branca, autoridades dos Estados Unidos e de países da Europa estão trabalhando sob pressão para definir os detalhes de quais garantias de segurança confiáveis seriam oferecidos a Kiev no caso de um acordo com o Kremlin para um cessar-fogo ou acordo de paz.

Há questões importantes em aberto, por exemplo:

  • Como garantir a efetividade de um possível cessar-fogo ao longo da linha de frente de mais de mil quilômetros no leste da Ucrânia?
  • Quais países estariam dispostos a enviar soldados para assegurar o cumprimento de um eventual acordo?
  • Qual seria o tamanho dessa missão e qual organização seria responsável?

Até agora, esta é a situação:

EUA: Sem tropas terrestres, mas com apoio aéreo

O presidente dos EUA, Donald Trump, expressou que seu país participaria das garantias de segurança para a Ucrânia. No entanto, deixou em aberto como exatamente isso se daria. Ele já descartou categoricamente o envio de tropas terrestres dos EUA para essa finalidade.

Trump assume que Alemanha, França e Reino Unido estariam dispostos a enviar soldados ao país para garantir um possível acordo de paz – foi o que ele disse em entrevista à emissora americana Fox News um dia após a cúpula na Casa Branca.

No entanto, os EUA estão preparados para apoiar seus aliados, por exemplo, do ar, afirmou Trump.

Alemanha: Incertezas sobre garantias de segurança

O governo alemão não está tão avançado em sua decisão sobre o tema como Trump gostaria. “Ainda não foi definido qual será a contribuição alemã para as garantias de segurança, e isso terá que ser decidido política e militarmente”, disse o ministro da Defesa, Boris Pistorius.

Falta clareza, por exemplo, sobre a evolução das negociações e a possível contribuição dos EUA e de outros aliados. “Isso terá que ser discutido cuidadosamente. E essas discussões estão ocorrendo atualmente”, disse o ministro do Exterior da Alemanha, Johann Wadephul, em entrevista à DW.

No entanto, até agora não faltou vontade da Alemanha de assumir responsabilidade neste conflito, afirmou.

Ainda não está claro sob qual mandato tal força internacional de manutenção da paz poderia ser estabelecida. A bancada do partido de oposição A Esquerda no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) defende uma missão de capacetes azuis da ONU em vez de uma missão liderada pela Otan, a fim de evitar um confronto direto entre a Otan e a Rússia.

Parte dos membros do Partido Social-Democrata (SPD), que integra a coalizão de governo, também se opõe ao envio de uma missão da Otan para a Ucrânia.

Reino Unido: Planos concretos já definidos?

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, mostrou-se, em princípio, aberto ao envio de tropas britânicas de manutenção da paz para a Ucrânia – mas apenas após um possível fim da guerra.

Londres estaria então preparada para assumir um papel de liderança na aplicação de garantias de segurança, disse Starmer. Isso poderia incluir o envio de tropas, por exemplo, para monitorar um cessar-fogo.

Em fevereiro, o jornal britânico The Telegraph noticiou que o governo de Londres já havia elaborado um plano concreto. Segundo a reportagem, ele envolve o envio de até 30 mil soldados de todos os países europeus que desejam se envolver na Ucrânia.

Os soldados europeus ficariam estacionados em cidades, portos e perto de infraestruturas particularmente críticas, como usinas nucleares – longe da linha de frente. Além disso, a missão dependeria fortemente da vigilância técnica, como drones, satélites, aeronaves de reconhecimento e patrulhas navais no Mar Negro.

De acordo com Starmer, representantes da chamada “coalizão dos dispostos”, composta por cerca de 30 países que se comprometeram a fortalecer a Ucrânia na sua defesa contra a Rússia, devem se reunir com autoridades dos EUA nesta semana para finalizar as garantias de segurança para Kiev. É possível que os planos existentes sejam discutidos e elaborados mais detalhadamente.

França: Forças para garantia da segurança

O presidente francês, Emmanuel Macron, se opôs recentemente contra o açodamento em assinar um tratado de paz sem salvaguardas de segurança para Ucrânia. “Esta paz não deve ser apressada e deve ser assegurada por garantias sólidas, caso contrário voltaremos à estaca zero”, disse ele à emissora TF1/LCI.

Macron já havia declarado em várias ocasiões que não descartaria o envio de tropas terrestres francesas à Ucrânia. Ele falou em “forças para garantia da segurança”, semelhantes aos possíveis planos de Starmer.

Em março, o presidente francês já havia apresentado um plano segundo o qual apenas “alguns milhares de soldados por nação” seriam estacionados em locais estratégicos como Kiev, Odessa e Lviv. A missão seria de natureza defensiva, não destinada a operações de combate direto, e serviria principalmente para dissuadir, treinar e estabilizar.

No passado, a França já realizou manobras em condições realistas simulando uma mobilização na Ucrânia – embora em solo francês. Nos exercícios, os soldados treinaram para cenários como um ataque russo a partir de Belarus. Eles também praticaram estratégias de defesa contra drones, guerra eletrônica e coordenação tática.

Polônia descarta enviar soldados; Itália evita assumir compromissos

De modo geral, o panorama na Europa é variado no que diz respeito à participação em uma possível força de manutenção da paz na Ucrânia. Dinamarca, Suécia, Holanda, Espanha, Portugal, Estônia, Letônia e Lituânia sinalizaram disposição em participar.

Outros países europeus, no entanto, têm sido muito mais cautelosos. O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, rejeitou claramente o envio de soldados poloneses. Isso seria extremamente impopular entre sua população. De acordo com pesquisas, mais de 85% dos poloneses rejeitam o envio de seus próprios soldados – mesmo para uma missão de manutenção da paz.

A Hungria e a Eslováquia também se opõem claramente ao envio de tropas europeias. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, descreveu o possível envio de tropas de países do Ocidente como “belicista”.

A Áustria e a Itália também expressaram reservas. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, em particular, mostrou-se cética em relação ao envio de tropas da Otan. Ela prefere uma missão liderada pela ONU e, até agora, evitou assumir compromissos claros.

Nada funcionaria sem a Rússia

De qualquer forma, nada pode ser feito sem um acordo prévio com Moscou, que rejeita categoricamente o envio de uma missão dos países da Otan para a Ucrânia.

Até agora, o Kremlin não deu sinais de que essa postura possa mudar em breve – embora haja sinais de que o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, possam se encontrar pessoalmente em breve.

O ministro do Exterior alemão também buscou reduzir as expectativas: “Aconselho que primeiro esperemos para ver se haverá alguma conversa”, disse Johann Wadephul. “E, em segundo lugar, se houver conversas, se haverá um acordo confiável. E nisso todos nós estamos esperando pela Rússia.”

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