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Militares tomam o poder em Burkina Faso

Os autores do golpe, em uniforme de camuflagem, anunciaram na TV o ‘fim do mandato’ do presidente Roch Marc Christian Kaboré, após um motim que começou no domingo

Crédito: AFP PHOTO/Radio Télévision du Burkina (RTB)
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Os militares de Burkina Faso anunciaram na televisão nesta segunda-feira 24 que tomaram o poder após uma revolta no país africano por críticas ao fracasso do presidente em conter a ascensão dos jihadistas.

Os autores do golpe, em uniforme de camuflagem, anunciaram na televisão o “fim do mandato” do presidente Roch Marc Christian Kaboré, após um motim que começou no domingo.

Na mensagem, os soldados rebeldes também anunciaram o fechamento das fronteiras e prometeram um “retorno à ordem constitucional” dentro de um prazo “razoável”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, “condenou fortemente” o “golpe de Estado” militar. Em texto lido por seu porta-voz, Guterres demonstrou preocupação com “a proteção e a integridade física” de Kaboré após “o golpe de Estado perpetrado em 23 de janeiro por setores das Forças Armadas”.

Antes do anúncio, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu a “libertação imediata” de Kaboré, mensagem que também foi feita pela União Europeia. A União Africana condenou a “tentativa de golpe”.

Soldados se mobilizaram no domingo, pedindo a saída da liderança militar e mais recursos para combater os grupos jihadistas que assolam o país desde 2015.

Kaboré, que está no poder desde 2015 e foi reeleito cinco anos depois com a promessa de tornar prioridade a luta contra os jihadistas, é alvo de críticas pelo fracasso de sua política de conter a violência de extremistas.

O partido do presidente, o Movimento Popular para o Progresso, informou que Kaboré foi vítima de “uma tentativa fracassada de assassinato” após relatos de que o presidente foi detido.

O MPP denunciou que o país “se encaminha para um golpe militar a cada hora que passa” e apontou que a residência do presidente foi “saqueada”.

Um correspondente da AFP constatou que fora da residência havia veículos crivados de balas e vestígios de sangue.

Anteriormente, havia relatos conflitantes sobre o paradeiro de Kaboré.

Uma fonte de segurança indicou à AFP que o presidente, o chefe do parlamento, Alassane Bala Sakandé, e alguns membros do gabinete estão nas mãos dos soldados.

Esta informação foi confirmada por outra fonte de segurança, mas um membro do governo informou que o presidente foi retirado de sua casa por seu segurança, antes da chegada de homens armados que atiraram em sua comitiva.

Tentativa de golpe de Estado

Burkina Faso sofreu várias tentativas de golpe de Estado. No vizinho Mali, onde começou a insurgência jihadista, os militares derrubaram um governo civil em 2020.

Nos últimos meses, houve várias manifestações de protesto em Burkina Faso para denunciar a incapacidade das autoridades de conter o número crescente de atentados jihadistas.

O presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, condenou nesta segunda-feira a “tentativa de golpe de Estado” e pediu “ao exército nacional e às forças de segurança do país para acatar rigorosamente sua vocação republicana”.

Apoio aos amotinados

Os militares apresentaram uma lista de demandas, enfatizando a necessidade de uma melhor estratégia na luta contra os jihadistas, mas sem mencionar a partida de Kaboré.

No domingo, manifestantes apoiaram os amotinados e montaram barricadas em várias avenidas da capital que depois foram dispersadas pela polícia, acompanharam jornalistas da AFP.

Os soldados pediram a substituição da liderança militar, melhor atendimento aos soldados feridos e mais apoio às famílias dos mortos em combate, disse um porta-voz dos amotinados em uma gravação enviada à AFP.

Assim como Mali e Níger, Burkina Faso está mergulhada em uma espiral de violência atribuída a grupos jihadistas armados. Eles são afiliados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico.

Em quase sete anos, a violência dos grupos jihadistas deixou mais de 2.000 mortos e 1,5 milhão de deslocados.

A chegada do presidente Kaboré ao poder em 2014 trouxe grandes esperanças para o país. Ele tomou posse um ano depois da queda de Blaise Compaoré, derrubado por uma revolta popular após 27 anos no cargo.

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