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Milhares de pessoas fogem dos combates na capital do Sudão

A violência no País explodiu no sábado e já causou quase 200 mortes

Pessoas fogem do sul de Cartum em 18 de abril de 2023, enquanto os combates entre o exército e as forças paramilitares lideradas por generais rivais chegam ao quarto dia. Foto: AFP
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Milhares de pessoas tentavam fugir nesta quarta-feira (19) da capital do Sudão, cenário de combates entre o exército e os paramilitares, que provocaram quase 200 mortes.

Durante a manhã, após o fracasso da trégua de 24 horas e no quinto dia de combates, foram ouvidas fortes explosões e tiroteios intensos. Colunas de fumaça eram observadas nas proximidades do quartel-general do exército no centro da cidade.

A violência explodiu no sábado entre as tropas dos dois generais que tomaram o poder em um golpe de Estado de 2021: o comandante do exército, Abdel Fatah al Burhan, e seu subalterno Mohamed Hamdan Daglo, comandante do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF).

Os dois militares iniciaram uma disputa áspera sobre os planos de integração das RSF ao exército oficial, uma condição crucial do acordo final para a retomada da transição democrática no Sudão.

Combatentes das RSF em veículos armados e caminhões com armas pesadas circulavam pelas ruas, enquanto caças do exército sobrevoavam e atiravam contra alvos do grupo paramilitar, segundo testemunhas.

Os civis que permanecem em suas casas estão cada vez mais desesperados diante da escassez de alimentos, dos apagões e da falta de água encanada.

A esperança de retirada da cidade acabou na terça-feira, quando uma trégua humanitária de 24 horas não foi concretizada poucos minutos antes do horário previsto para o início, às 16H00 GMT (13H00 de Brasília).

Corpos nas ruas

Durante a manhã de quarta-feira, milhares de pessoas começaram a abandonar suas casas em Cartum, algumas em veículos e outras a pé, incluindo mulheres e crianças.

Várias pessoas afirmaram que as ruas estão repletas de corpos e que o odor de decomposição é cada vez mais intenso.

Muitos governos estrangeiros começaram a planejar a retirada de milhares de estrangeiros, incluindo funcionários da ONU.

O Japão anunciou que o ministério da Defesa iniciou “os preparativos necessários” para retirar quase 60 cidadãos do país do Sudão, incluindo funcionários da embaixada.

Após o colapso da trégua, o exército acusou a “milícia rebelde” de violar o acordo e de prosseguir com “os ataques ao redor do quartel e do aeroporto”.

O grupo RSF acusou o exército de “violações” e romper a trégua com “ataques esporádicos” contra suas forças e bases ao redor da capital.

Foto: AFP

Os combates deixaram pelo menos 185 mortos e mais de 1.800 feridos, segundo a ONU.

Mas o número real deve ser muito maior porque vários feridos não conseguiram chegar aos hospitais, que também foram bombardeados, de acordo com um sindicato médico.

Edifícios comerciais e residenciais na cidade estão com os muros perfurados por tiros.

A energia elétrica e o abastecimento de água foram cortados em vários bairros de Cartum, o que obriga os moradores a saírem de casa nos momentos em que os combates diminuem para buscar alimentos e outros produtos.

Transição fora dos trilhos

A violência acontece depois que mais de 120 civis morreram na repressão contra as manifestações pró-democracia dos últimos 18 meses.

Os dois generais se apresentam como salvadores do Sudão e protetores da democracia, em um país que registrou apenas breves períodos democráticos.

Desde o início dos combates, cada lado afirma ter o controle de locais cruciais ou anuncia avanços sobre as bases do outro ao longo do país.

Não é possível verificar nenhuma versão com fontes independentes.

A explosão da violência no sábado foi o ponto máximo das profundas divergências entre o exército e as RSF, criadas em 2013 pelo ditador deposto Omar al Bashir.

Burhan e Daglo derrubaram Bashir em conjunto em abril de 2019, após os grandes protestos contra as três décadas de ditadura.

Em outubro de 2021, os dois homens lideraram um golpe contra o governo civil instalado após a queda de Bashir, o que acabou com transição apoiada pela comunidade internacional.

Burhan, um militar de carreira do norte do Sudão, afirmou que o golpe era “necessário” para incluir outras facções na política.

Porém, Daglo, conhecido como Hemeti, afirmou que o golpe foi um “erro” que não conseguiu gerar mudança e reforçou a presença dos remanescentes do regime de Bashir.

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