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Milhares aplaudem Evo Morales em retorno a seu reduto

‘Em um ano nunca me senti abandonado’, celebrou ex-presidente

Andrés Arauz, do Equador, e Evo Morales. Foto: Reprodução/Twitter/Evo Morales
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Milhares de pessoas aplaudiram nesta quarta-feira 11 o ex-presidente boliviano Evo Morales em Chimoré (centro), três dias depois de o líder indígena voltar à Bolívia e atravessar o país com uma caravana que passou pelas cidades mais importantes de sua vida.

“Em um ano nunca me senti abandonado”, gritou nesta cidade do Trópico de Cochabamba, referindo-se a seu ano fora da Bolívia, arrancando aplausos de todos os presentes.

O ex-presidente acusou mais uma vez os Estados Unidos de provocarem o “golpe” contra ele, evocando o interesse de Washington pelo lítio boliviano.

Segundo os organizadores, o novo presidente Luis Arce, também do Movimento ao Socialismo (MAS), de Morales, participaria da festa, mas o ex-presidente informou que ele “está em processo de organização da gestão pública”.

Com o ato, o líder indígena encerrou uma caravana de cem veículos, que percorreram em alta velocidade 1.200 km em estradas construídas em sua maioria durante seu mandato (2006-2019).

Evo quase não descansou desde que chegou a Villazon (sul), depois de cruzar a pé a fronteira com a Argentina, onde ficou 11 meses exilado.

Este ato tem um toque especial para o líder aimará: foi no Trópico de Cochabamba, há exatamente um ano, que ele deixou a Bolívia, após renunciar à Presidência em meio a protestos por sua polêmica quarta reeleição.

Foi aqui também que formou sua liderança como líder sindical dos plantadores de coca.

“Evo é como nós”

Assim como em Chimoré, cada local que visitou está carregado de grande simbolismo: Uyuni e o Salar que pretende transformar na capital do lítio do planeta e Orinoca, a cidade que o viu crescer.

Milhares de camponeses, ou mineradores, quase todos indígenas, aguardaram por horas o ex-presidente nos distintos povoados por onde a caravana passou.

Vestidos com trajes tradicionais, erguiam a whipala, a bandeira de sete cores que representa as comunidades andinas, e dançavam ao ritmo da música indígena de pequenas orquestras da Bolívia.

As diferentes comunidades lhe ofereceram pratos típicos, de quinoa até carne de lhama. Morales cumprimentava com abraços e pegava crianças no colo, sem nenhuma proteção sanitária contra o coronavírus.

A maioria deles repete o mesmo: “Evo é como nós”.

Com 11,5 milhões de habitantes, 34,6% dos bolivianos vivem na pobreza. Em um contexto cada vez mais crítico devido à pandemia, os bolivianos querem repetir o “milagre econômico” do governo de Morales, quando Arce foi o ministro da Economia. À época, o país registrou um alto crescimento e uma redução da pobreza, de 60% para 37%.

“Aqui está o seu povo, ele sabe ouvir os indígenas”, exclamou Elizabeth Arcaide, 43 anos, que não parava de enxugar as lágrimas durante o evento em Orinoca, onde centenas de pessoas se reuniram em um campo de futebol, apesar do sol escaldante, para receber o “filho do povo”.

A Bolívia é um dos países latino-americanos com maior população indígena: 41% de seus 11,5 milhões de habitantes.

A casa onde nasceu

O líder aimará ficou emocionado ao visitar a casa de adobe (um tijolo rústico) e teto de palha onde nasceu há 61 anos, localizada em Isallave, perto da cidade rural de Orinoca.

“É preciso sempre voltar às raízes para fortalecer sua ajayu (alma)”, disse o ex-presidente.

Em Orinoca, para onde Evo Morales se mudou ainda jovem, destaca-se o Museu da Revolução Democrática e Cultural, uma gigantesca construção moderna que homenageia seus quase 14 anos de governo.

O contraste é grande: ao redor só existem aldeias com ruas atravessadas por cabras e galinhas.

Para chegar a esta cidade são necessárias horas de estrada, em meio aos pampas desérticos de cor ocre, sem outras testemunhas além de uma grande variedade de cactos, vicunhas e lhamas.

Mas nem todos recebem Evo com a mesma paixão.

“Vá embora, não o queremos mais aqui, ele gosta muito de poder”, repetia uma idosa da porta de um armazém.

O analista Daniel Valverde destaca que Evo Morales inspira muitas divisões no país e que sua lógica de “amigo e inimigo” se choca com a visão de “unidade de Arce”.

“Nesse sentido, acho que haverá atrito”, previu.

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